A eleição do Vasco está sub judice e somente após as investigações sobre a urna 7, que contém 474 votos (de um total de 691 sócios suspeitos), se conhecerá quem, de fato e de direito, venceu o pleito cruzmaltino. Mas afinal de contas, quais são os questionamentos e os possíveis indícios de irregularidades entre estes votantes? E o que Eurico Miranda tem a dizer sobre cada item?
Baseando-se nos levantamentos do próprio UOL Esporte diante da lista de tais associados e levando-se em consideração as acusações da oposição - encabeçada pelo candidato Julio Brant, que venceu no somatório das outras urnas - explicaremos os principais pontos da polêmica do clube de São Januário:
Pagamentos
O ponto central e que deverá nortear toda a investigação na Justiça é a exigência dos comprovantes de pagamentos dos 691 sócios sob suspeita. A oposição diz que o Vasco não tem como comprová-los perante juízo.
O que diz Eurico
"Estatutariamente, o sócio é apto a votar tendo um ano de associação. Ele (Otto de Carvalho, presidente do Conselho Fiscal) resolveu falar sobre 2015, com a alegação de que esses sócios entraram no clube e que esse dinheiro não entrou no clube, o que é uma afirmação leviana. Em primeiro lugar, ele era membro do Conselho Fiscal e o balanço foi assinado por ele e pelos membros".
Otto responde: "Quem paga de quatro ou cinco sócios não tem problema. O problema é o sócio que não paga e que consta como pago. Outra coisa, se ele quisesse comprovar os pagamentos de novembro e dezembro de 2015, seria muito simples: o Vasco tem um contador e cinco funcionários na contabilidade. É simplesmente pedir o boletim de caixa diário do pagamento que entrou do sócio. Seria a mesma coisa ter um problema no extrato bancário num mês e pedir outro extrato.
O Vasco tem tudo no computador. É simples demais. E aí quando o Conselho Fiscal pediu isso, eles foram na Justiça dizer que o balanço estava aprovado e que o Conselho Fiscal não tinha nada a ver com a eleição. São coisas esquisitas. Essa coletiva (dada nesta quinta) ele (Eurico) já era para ir com esses documentos. Ele falou, falou e não disse nada".
Decisão de corrigir a ata que declarou vitória a Eurico e comprovar pagamentos
Na última terça-feira, chegou ao conhecimento público um despacho da juíza Maria Cecília Pinto Gonçalves exigindo que o Vasco corrigisse a ata da Assembleia Geral, assinada por seu presidente Itamar Ribeiro de Carvalho, que proclamou Eurico Miranda como vencedor.
A magistrada também determinou que o clube comprove os pagamentos de todos os 691 sócios. As duas exigências com prazo de 48 horas. O Cruzmaltino, alega, porém, que ainda não foi notificado.
O que diz Eurico
"Eu tomei conhecimento pelo que vocês (imprensa) informaram e eu não sei se é definitivo porque não fui intimado. Eu não tenho que ser intimado, mas sim o presidente da Assembleia Geral, que vai tomar as providências. Mas eu quero adiantar que todos os documentos que estão na decisão vão ser fornecidos, sem qualquer problema, além dos comprovantes de que o dinheiro está contabilizado.
É o que vai acontecer. Eu estou adiantando uma coisa que eu tomei conhecimento por vocês (imprensa). Teve o resultado, ele foi proclamado. Agora tem o questionamento de uma urna e que essa urna está sub-judice. Isso não quer dizer que isso impeça a proclamação do resultado".
16 associações em domingos
No Vasco não há como a pessoa se associar ao clube nas categorias que dão direito a voto aos domingos e nem em dias de jogos, pois a secretaria se encontra fechada. Nestas datas, só é possível aderir ao plano "sócio-torcedor", onde não se pode participar da eleição. No entanto, no levantamento do UOL Esporte, foram encontradas 16 associações nestes dias. Eurico não foi claro sobre este assunto.
O que diz Eurico
"Quando você assina a proposta, não quer dizer que foi associado no domingo, pode ter sido associado naquela data, mas a entrada, em outra. Isso é cadastro. Eles assinaram, tiraram... Se você quer se associar e for domingo,assinou como domingo, vai chegar na segunda, Vocês (imprensa) me desculpem, mas é querer buscar pelo em ovo. Querem criar uma situação que não é verdadeira".
Endereços e telefones
No levantamento do UOL Esporte, uma série de fatos incomuns foram detectados no cadastro da urna 7. Mais de 40 pessoas cadastradas em um único número de telefone, grande número de moradores da mesma rua ou condomínio aderindo no mesmo dia, divergências de endereços de certos sócios, além de logradouros sem maiores especificações. Eurico rebateu demonstrando os cadastros incompletos dos ídolos Edmundo, Felipe e Pedrinho, que apoiaram o candidato Julio Brant.
O que diz Eurico
"Felipe: o seu endereço é a rua General Almério de Moura 131, o endereço do Vasco. O telefone do cadastro também é do Vasco. Nem a ficha assinou. O senhor Pedrinho está na mesma situação. Pedrinho não tem CPF e não está assinado por ninguém. O Edmundo o endereço era o Vasco, mas atualizou recentemente.
O pior de tudo, no caso do Edmundo, não tem assinatura dele e nem do proponente. Absolutamente nada e mesmo assim não invalidou. E nem invalida. Isso é uma resposta a alguns casos de endereços e telefones".
"Eu não sou obrigado, quando me associo, a dar meu telefone. Não sou obrigado a tornar meu telefone público. Estão partindo que o cadastro está irregular, e não está. Se falta uma coisa ou outra, não invalida. Estou mostrando que o que acontece aqui pode acontecer com outros".
Nota da redação: Edmundo, Felipe e Pedrinho não estão na lista da urna 7. Felipe e Pedrinho colocaram o logradouro do Vasco no item do cadastro chamado "endereço de trabalho".
Associação em massa
Os 691 sócios da urna sub judice se filiaram ao clube nos meses finais de 2015, novembro e dezembro, em um movimento atípico no clube. Naquele ano, havia um fluxo bem menor de sócios do que nos meses anteriores. E essa adesão em massa ocorre justamente no período em que o Vasco se encaminhava para o rebaixamento. No total, foram 116 associações em novembro e 575 em dezembro.
Neste período, o clube estava no encerramento da categoria "sócio-geral", o plano mais barato que dava direito a voto.
O que diz Eurico
"Por decisões dos conselheiros, a categoria de sócio-geral deixava de existir em janeiro de 2016. Aderiu quem queria ser sócio nesta categoria", contou Eurico. A alegação do grupo do presidente vascaíno é que os associados devem ter aproveitado que essa era a última chance de entrar nesta categoria mais barata, já que, depois, poderiam só ser sócios-torcedores ou pagar mensalidades mais caras:
"Dizer que eles foram feitos pela diretoria é de uma leviandade de toda prova. Se a gente quisesse fazer sócios, faríamos como a administração passada. Eu poderia distribuir títulos de benfeitor remido, como ele (Roberto Dinamite) fez com Edmundo, Pedrinho e Felipe".
Nota da redação: Em relação à suposta facilidade de "distribuição" de títulos de benfeitores remidos citados pelo presidente, há dúvidas, uma vez que, tal título, segundo o próprio clube, só pode ser dado diretamente pelo presidente por alguma relevância da pessoa ao clube ou mediante o pagamento de um alto valor. Também é possível que um benfeitor remido venda seu título e repasse a alguém, mas esta situação é rara.
Urna com maioria absoluta pró-Eurico
Questionada na Justiça, a urna 7 teve mais de 90% dos votos em favor de Eurico Miranda, um percentual discrepante em relação ao restante das urnas. Esses eleitores votaram em separado por decisão judicial.
O que diz Eurico
"Não ficou claro e nem vai ficar. Podem ter se associado com intenção de votar em mim. Não fui eu que mandei se associar, ou que paguei para se associarem. Não teve votos para os outros também?", indagou. Seus aliados alegam que há períodos do clube em que há maioria em favor de uma corrente, como já aconteceu no passado.