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Viola, ex-Vasco e hoje no Resende: "O Vasco era uma Seleção Mundial, menos o

Ele jogou apenas 70 minutos neste Carioca, justamente na estreia do Resende.Uma lesão na coxa direita o afastou dos gramados desde então. Mas volta a dar o ar de sua graça hoje, só que do banco de reservas. Sempre irreverente, pediu para vestir a camisa 21, a mesma com a qual entrou na prorrogação do jogo contra a Itália, na final da Copa de 94, e ajudou a conquistar o tetra com a Seleção Brasileira. Repetirá a dose?

Este é Viola, figura emblemática do futebol brasileiro. Só não o chame de polêmico: \"Eu?! Sou é verdadeiro\". Neste bate-papo, a conversa, obviamente, passou longe de ficar restrita ao seu clube e à decisão de logo mais. Falastrão e bem articulado, lembrou algumas histórias marcantes e revelou outras, como o porquê da mágoa que tem do clube que o lançou, o Corinthians. E tocou na ferida daqueles atacantes que jogam em clubes grandes e não conseguem fazer gol. Confira tudo a seguir:

Erich Onida: Este Resende é uma surpresa ou já achava que o time poderia chegar longe?
Eu tinha cinco equipes para atuar este ano: quatro aqui no Rio (Macaé, Duque de Caxias, Mesquita e Resende) e uma em Santa Catarina (Tubarão). Resolvi acertar com o Resende pelas informações que eu tinha, tanto do técnico quanto do elenco, que já vinha trabalhando há muito tempo junto. Pelo que fizemos, não foi uma surpresa ter chegado até aqui.

Márcio Menezes: Inclusive, já é o seu terceiro clube seguido no Rio. Há um carinho especial?
Sempre achei o Rio maravilhoso. Desde quando cheguei pela primeira vez, em 99, para o Vasco, fui muito bem recebido, não só pelos vascaínos como pelos torcedores dos outros clubes. Tenho jeito carioca: gosto de samba e tenho ginga.

EO: Ninguém imaginava e o Resende deixou o Flamengo para trás. O que precisa ser feito para conquistar esse inédito título da Taça Guanabara?
É uma decisão, e haverá aquele nervosismo natural dos dois lados nos primeiros dez minutos. Temos que ter tranquilidade. Assistimos ao Botafogo contra o Fluminense e, não desmerecendo o Tricolor, é um time mais bem montado e com um conjunto melhor. Temos que respeitar, mas sabemos que eles também terão esse respeito consoco, até porque jogamos de igual para igual com Vasco (1x3), Fluminense (0x3) e Flamengo (3x1). Acredito até que jogadores e torcida do Flamengo nem estão conseguindo dormir ainda. Anos atrás, dificilmente algum pequeno chegava no Morumbi ou no Maracanã e fazia essa graça. Era de três para cima, fora o chocolcate, o ovo de Páscoa, o panetone... O futebol mudou. Hoje, um garoto vê a camisa do Flamengo pela frente e não treme mais. Aquele que trabalhar um pouco mais, tiver um pouco mais de paciência, consciência e responsabilidade com certeza chega. E não faltou nada disso ao Resende.

Cassius Leitão: Você vai para o banco. Como ficou marcado pelas comemorações irreverentes, já pensou em alguma para esta final, caso entre e faça um gol?
Ainda não pensei nisso justamente por não saber se vou jogar. O planejamento era para que eu voltasse na Taça Rio. Até deixei Resende para me recuperar aqui no Rio (lesão no músculo posterior da coxa direita), cheguei a trabalhar em três períodos e me sinto bem fisicamente. Até deixei de curtir o Carnaval, que eu tanto gosto.

EO: Depois de defender 15 clubes em 21 anos de carreira, você se sente um cigano da bola?
Devo estar perdendo para alguém aí: Cláudio Adão, Túlio... Mas sempre fui de coração aberto para todos os clubes. Pretendo seguir no Resende, mas se não ficar com certeza ainda estarei na ativa. Tenho o costume de falar que o Corinthians ficou marcado porque foi onde começou tudo. Aí vem o Vasco, onde fui muito bem recebido, assim como no Santos, clube que amo de paixão... Sempre quando estive para ser contratado, era uma dúvida grande. \"Como será que está o Viola? Tá gordo? Não deve querer nada com nada! Ele deve ser um porra louca de verdade.\" Mas quando chego essa imagem já muda logo, com minha humildade e simplicidade.

MM: E como você associa essa sua imagem a um clube grande, em que você sempre foi uma das estrelas da companhia, e a um clube pequeno, em que a relação é diferente?
Hoje não estou atuando num clube grande porque eles não querem. Aliás, não é que eles não querem, é que eles hoje atuam com garotos de 15, 16 anos, porque vai render para os cofres milhões de euros. Então, jogadores como eu, Túlio, Edmundo, talvez até o Romário, a gente tem muita qualidade, muita coisa para oferecer aos clubes grandes, mas eles não querem porque o pensamento hoje em dia não são os títulos, e sim a venda. Se for campeão, beleza! É loteria. A grande maioria quer é vender. Fazem questão de mandar, rapidamente, um garoto para a Seleção sub-15, sub-16, para já estar vendido, porque os empresários lá de fora estão cada vez mais de olho. Meu filho mais novo, por exemplo, está com um ano e sete meses e já chuta forte, é canhoto, vai ser bom, puxou o pai. Então, já tenho que esconder, porque se algum empresário vê, já vai me oferecer cesta básica, um barraquinho melhor, para poder levar meu filho. Qual jogador hoje é ídolo no futebol brasileiro? Posso apontar o Rogério Ceni. Quem mais? Os clubes não querem mais formar ídolos. Querem formar para vender. E os próprios jogadores mais novos já se enquadraram nisso. Cheios de empresários, não querem mais ficar. É preciso, primeiro, ter bons serviços prestados aqui dentro. E têm alguns que não sabem nem vender. Vendem por qualquer coisa.

CL: E aquela história de que você não teria se adaptado ao Valencia por causa da comida. O que houve de verdade em tal episódio?
Oque tem de verdade é a minha, porque o que colocaram na época é mentira. Uma TV poderosa que fez uma matéria comigo na época e aprontou essa sacanagem na edição. Minha preocupação na Espanha era a concentração, porque a comida não era farta como aqui. Tinha salada, que não como, uma sopa de camarão, que você só tomava o caldo com pão, e o prato quente era uma carne, um peixe ou um filé de frango com purê. E o touro lá vinha sempre mal passado. E comigo tem que ser bem passado, fui criado assim. Não comia e não tinha força para jogar. Sempre gostei de bolachas e levava para a concentração.

EO: Quem é o melhor jogador em atividade no Brasil e no futebol mundial atualmente? Chegam aos pés do Viola no auge?
Esse menino do Palmeiras, o Keirrison. Ele tem muita presença de área e quando cai ali ele mata, não tem dó, mas ainda vai demorar um pouquinho para chegar no meu auge. Aproveitando a deixa, queria falar sobre uma coisa. Tem atacante que está em time grande que não consegue fazer gol. Time grande é time grande! A qualidade nesses clubes é maior. Tudo é melhor: torcida, estrutura, material... Me coloca no Flamengo e vê se não sou artilheiro do Carioca. Sem desmerecer, mas quem é o artilheiro do campeonato? É um garoto, o Bruno Meneghel, que joga aqui comigo. Se ele está com oito, num grande estaria com 16, cara! Eu, hoje, num time grande, é só ficar debaixo do pau e colocar para dentro, querido! Juro que não dá para acreditar ver tantos atacantes por aí sem fazer gols.

EO: Lembro que, alguns anos atrás, você comentou que revelaria uns podres do Corinthians. Já chegou a falar sobre o assunto?
Deve ter sido o Edmundo (risos). Não sou polêmico, sou verdadeiro. Só tenho a agradecer ao Corinthians, porque tenho uma história lá. Mas a única mágoa, que me fez desinteressar pelo clube foi em 96, quando estava na Espanha. Tinha saído do Corinthians há um ano. Vim ao Brasil em férias, e era aniversário de um dos meus filhos. Fui ao clube entregar os convites, como sempre. Quando cheguei no portão, fui barrado pelo senhor que está lá há 500 anos. Ele explicou que tinha uma norma que todos precisavam ser anunciados. Pensei: \"Não vou pagar este mico. Fui nascido e criado no Parque, todos me conhecem\". Eu disse que era rapidinho, só para entregar os convites. Entreguei para o Miranda (roupeiro) distribuir. E disse: \"Nunca mais piso aqui\". E nunca mais pisei. Até porque houve jantares de aniversário do clube e nunca me convidaram.

CL: Mas você consideraria rever esta decisão para levar seus filhos e resgatar o seu passado a eles?
Para meus filhos serem corintianos não dá mais tempo, porque um (Pablo Clayton) é são-paulino doente. Obviamente que a direção muda e se algum dirigente me procurar, souumcara do bem. Só não admiti naquele momento. Tinha acabado de ser campeão paulista e da Copa do Brasil. Levei o clube para Libertadores com meus companheiros.

MM: Você diz que é querido pelos torcedores de todos os clubes. E essa figura do jogador falastrão, folclórico, polêmico, aos poucos está acabando. Romário parou, Edmundo parou, Vampeta parou, Túlio está no fim de carreira e você. São jogadores que levam a torcida ao estádio, promovem e apimentam os clássicos. Por que esse atleta está desaparecendo?
Como já falei, o jogador quer sair do país cada vez mais cedo, a atuação do empresário é cada vez maior, instruem o jogador para não arrumar encrenca porque os europeus não gostam... Tudo isso diminuiu um pouco a coisa bonita do espetáculo. Lembro que jogava no Corinthians e na semana do clássico com o Palmeiras mandava recado para o Evair: \"Vamos fazer uma apostinha aí? Quem perder entrega 50 cestas básicas numa creche\". E era bom até para o torcedor brincar com o outro. Hoje em dia não tem mais isso. O jogador quer ser atleta europeu. Não usam terno e gravata, mas querem ser comportadinhos. Têm medo de falar isso porque não sabem como serão entendidos. Cada um tem que falar o que sente, ter postura, ter personalidade. E muitos hoje não têm. Por isso acabou aquela agitação do bom espetáculo, do torcedor ir para o estádio querendo saber qual vai ser a comemoração se determinado jogador fizer o gol, quem vai perder e ganhar a aposta... Quanto às minhas comemorações, nunca exagerei. Sobre o \"gol porco\", que ficou marcado, não tinha bolado nada. Quando marquei o gol, numa voadora, conforme caí veio na minha cabeça fazer uma homenagem aos torcedores que já tinham, na época, aceitado o porco como sua mascote, já não se irritavam mais. Como fiz com o gavião com asa quebrada. Não acho que tenha exagerado.

MM: Qual a diferença da sua relação de estrela em grandes clubes e agora em pequenos?
Hoje não estou atuando num clube grande porque eles não querem. Aliás, eles hoje atuam com garotos de 15, 16 anos, porque vai render para os cofres milhões de euros.

EO:Você chegou a acertar com o Flamengo, em 2005, mas nem sequer jogou. O que aconteceu?
Estava naTurquia e recebi a proposta, fiz a contra-proposta e conversamos. Me mandaram o pré-contrato e assinei. Alguns torcedores me ligaram, falando que a chegada seria coisa de louco, que fechariam o aeroporto. Fiquei entusiasmado. Afinal, é um clube de massa. Fui do Corinthians e sei como é. Realmente, o Fla tem um pouco da minha cara. Enfim, achei que fosse me apresentar. Até chegar o comunicado de que não tinham dinheiro nem para comprar e nem para pagar o empréstimo. Triste, rasguei o contrato, pois não viria mais.

CL: Como foi sua passagem pelo Vasco, que tinha um timaço?
Me desculpem as outras agremiações, mas aquilo não era um time, era uma seleção mundial: dois Juninhos, eu, Romário, Euller, Pedrinho, Felipe, Mauro Galvão, Júnior Baiano, Jorginho irmão... Odvan menos, né! (risos) Ele fica maluco comigo! Um grande elenco!


CL: E como era a sua relação com o Eurico Miranda?
Para mim foi uma coisa divina. No momento que recebi o convite do Vasco, estava para fechar com o São Paulo ou Atlético-MG. O Newcastle me queria de novo. Inclusive, eram melhores propostas do que a do Vasco. Mas Eurico é sempre Eurico, né! Na época, ele estava em Miami. E de lá ele fez uma ligação para o Paulo Angioni avisando: \"Tira todo mundo do caminho que este atleta é meu\". E todo mundo fez isso. Pensei: \"Caramba, esse cara é poderoso mesmo! Preciso conhecer este malandro!\". Vim para o Rio e conheci a fera.

EO: Você se arrepende de alguma coisa deixou de fazer na carreira?
Poderia ter ficado um pouco mais na Europa na época do Valencia. Se tivesse ficado lá, poderia de repente ter sido o melhor do mundo como muitos brasileiros foram.

CL: Você já está com 38 anos e a aposentadoria se aproxima. Já pensou no que vai fazer quando parar?
Primeiro, não penso nessa aposentadoria porque quero continuar ganhando dinheiro. Se me aposentar, não vou ganhar nada, porque jogador de futebol paga tudo quanto é imposto e não tem retorno algum. E não sei por quê. Temos carteira assinada, pagamos todos os impostos e quando você se aposenta, não vê nada. Não pensei em nada porque ainda quero jogar. Com 38 anos e com essa teta que está aí, com muita molecada jogando sem nem sequer ter feito os fundamentos no trabalho de base, vou parar por quê? Mas não gostaria de ser empresário. Pretendo até ser treinador. E sabe como gostaria de ser ? Encerrar minha carreira e já pegar o time em que estou, já iniciando como treinador. Seria um técnico que falaria a linguagem do boleiro e teria o grupo nas mãos, como Abel, Joel Santana, que não escreve p... nenhuma naquela prancheta, e o próprio Nelsinho Baptista. Sem querer menosprezar os outros, não seria arrogante.

Fonte: Lance!
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