Aos irracionais...
Vi na TV cenas deprimentes do confronto entre torcedores do Vasco e a polícia mineira à saida do Mineirão.
Quer dizer, não posso nem chamar os arruaceiros de torcedores, como os destemperados de farda como policiais..
Embarcar num ônibus superlotado, com motorista em situação irregular, para brigar em Belo Horizonte não é coisa de quem se diz torcedor.
E nem tampouco enfiar a borduna nos insanos, encaçapando-os no ônibus na base da porrada, é coisa de quem é pago pelo contribuinte para dar segurança à população.
Mais tarde, recebo o email do Túlio Dias, sujeito de paz, e que foi desafiado nas cadeiras do Mineirão por um troglodita insano só porque escolheu para torcer um clube que não era o do arigó cruzeirense.
Enfim, o relato do Túlio está no Púlpito desta semana.
Tirem suas conclusões e, por favor, quando forem aos estádios policiem-se.
Não se deixem contaminar por essa sensação imbecil de achar que quem torce por outro clube é inimigo.
Evite que sua irracionalidade seja a causadora de uma tragédia...
Como andam os estádios - relato de Túlio Dias (*)
Fui ao Mineirão assistir Cruzeiro x Vasco. Eu, vascaíno, com dois amigos cruzeirenses.
Escolhi as cadeiras especiais por acreditar em menos tumulto e em mais civilização.
Não fui vestido com a camisa do meu time de coração, o que, convenhamos, é sempre aconselhável, mas é muito ruim saber que não podemos vestir a camisa de nosso time e torcer por ele por causa da intolerância que reina nos estádios.
No rádio, a todo instante falavam do confronto entre as torcidas.
A torcida visitante, do Vasco, se acomodou um pouco à minha esquerda, embaixo de onde eu estava.
Pendurados nas grades das arquibancadas, as torcidas marcavam uma briga na saída.
Dava pra ver e ouvir ambas marcando o "confronto", na linguagem deles próprios.
Outra notícia dava conta de que um ônibus que transportava torcedores do Vasco fora interceptado na entrada da cidade.
Nele, encontraram drogas e uma arma, um revólver, carregado.
O condutor do veículo, além de não ter a habilitação adequada, saiu do Rio de Janeiro transportando 90 vascaínos, onde caberiam apenas 40, e poucas pessoas educadamente sentadas.
Um torcedor, sendado ao meu lado, relatou que no jogo do ano passado aconteceu coisa parecida: ele estava em uma barbearia quando um ônibus com torcedores do Vasco passou, sendo perseguido pela polícia, pois 10 pessoas "surfavam" no teto do veículo.
Pois bem, rolou a bola. E eu no meio dos Cruzeirenses.
Porém, como não sou daqueles que se levantam e gritam a todo lance do time, evidentemente, ninguém notou que eu torcia pelo visitante.
Não que eu fizesse questão de esconder, mas as circunstâncias não deixavam transparecer meu amor pelo Vasco da Gama.
A essa altura, o cruzeirense à minha esquerda, acompanhado da filha, já conversava comigo, e aí parecia que estávamos no meio de pessoas civilizadas.
Em conversa amistosa, falávamos de nossos times de uma forma tão sadia que nem parecia que estávamos numa partida de futebol, ao contrário do relatado mais acima.
Eis que o telefone de meu amigo cruzeirense tocou. Era um outro amigo, dizendo não acreditar que tínhamos mesmo ido ao jogo.
Ele passou o telefone para eu confirmar, e o outro amigo disse que não ouvia a torcida, e por isso continuava a duvidar.
Então, eu disse, em tom de brincadeira:
"É que a torcida do Cruzeiro é pequena e o estádio está vazio pq a torcida do Vasco ainda vai chegar. Mas não sei não, como a torcida do Cruzeiro só faz crescer, e a do Vasco cair, pode ser que nos encontremos no ranking das maiores em breve."
Desliguei o telefone.
E aí tudo voltou ao normal, e eu me senti de novo em um estádio de futebol no Brasil.
O cidadão que estava à minha frente ouviu a conversa.
Era um sujeito branco, com camisa oficial do Cruzeiro, tênis e relógio caros e nenhuma educação ou muito álcool na cabeça.
E no momento do pênalti, batia no peito feito um gorila, e olhando com ódio na minha direção.
A diferença entre os dois é que gorilas não usam roupas e relógios caros, e só batem no peito quando algo realmente importante o obriga a fazer isso.
Já aquele torcedor...
Ato contínuo, gritava a plenos pulmões "tem vascaíno aqui, tem vascaíno aqui", tentando chamar a atenção dos torcedores para a minha presença, apontando na minha direção.
Posteriormente, com o dedo em riste, dizia que eu seria obrigado a gritar gol, pois ele queria que assim fosse.
Como o pênalti não foi convertido, ele ficou sem graça, mas para não perder o costume, novamente com o dedo em riste se virou e disse que se eu risse levaria porrada.
E falou assim mesmo, mas num tom exageradamente ameaçador.
Obvio que nem todos os torcedores são assim.
Dois senhores me prestaram solidariedade, e pediram calma ao exaltado torcedor.
E outros tantos deixaram claro que reprovavam sua conduta.
E o mais legal: uma torcedora vestida com a camisa do Cruzeiro se virou para ele e disse:
"Estava torcendo contra meu time só por sua causa."
E na saída, muitos torcedores do Cruzeiro, a maioria aparentando pouca idade, corriam de um lado para o outro gritando "é hora do confronto", ou "eu quero é campo de batalha."
Enfim, este é o retrato dos nossos estádios.
Eu, que já não tinha costume de ir, agora é que não vou mais.
(*) Túlio Dias é representante comercial, carioca, vascaíno, e vive em Belo Horizonte.