Pandemia, divisão política, rebaixamento para a Série B... Os obstáculos para o Vasco manter o programa de sócio-torcedor como fonte de receita significativa batem à porta, mas o clube está confiante: voltará a ter associados na casa dos 100 mil até o meio do ano. Atualmente, o número está caindo. Até o fechamento da reportagem, eram 78.342 sócios. No auge da associação em massa, no fim de dezembro de 2019, o número chegou a 185 mil.
Para se ter uma ideia da importância da receita oriunda do sócio, de acordo com o balancete do terceiro trimestre de 2020, o quadro social foi a terceira maior receita do clube até 30 de setembro: R$ 21 milhões. Só gerou mais recente para o Vasco no período os direitos de transmissão das partidas, cerca de R$ 48 milhões, e a venda de direitos econômicos de jogadores, aproximadamente R$ 32 milhões.
Confirmada a disputa da Segunda Divisão — o Vasco ainda tenta na Justiça Desportiva anular a partida contra o Internacional e assim seguir com chances de evitar o rebaixamento —, a relevância da receita proveniente do sócio deverá ser ainda maior, uma vez que a redução no dinheiro que entrará de TV será drástica: R$ 80 milhões, estima o clube. Isso sem contar com a redução que o clube poderá ter referente ao Campeonato Estadual: até 2020, recebeu cerca de R$ 15 milhões e este ano terá uma fatia dos R$ 11 milhões, valor a ser dividido entre todos os clubes participantes, e mais uma receita variável referente à venda de pay-per-view.
O principal responsável por tentar reverter essa queda no número de associados é Vitor Roma, vice-presidente de marketing. Segundo ele, na impossibilidade de ter público nos estádios, e consequentemente, oferecer desconto nos ingressos, o clube deve apostar na produção de conteúdo exclusivo para o sócio na Vasco TV, entre outras vantagens.
O GLOBO: Como o Vasco pretende trabalhar o sócio-torcedor ainda mais em um cenário possível de disputa de Série B?
Vitor Roma: O sócio do Vasco espera uma resposta dessa gestão, que entrou para atender os anseios dos vascaínos por mudança. Elas vão surgir todos os dias. Temos uma convocação do Conselho Deliberativo para tratar de algumas coisas, vamos reabrir o programa de sócios na semana que vem, com novidades. Vamos colocar em prática o que foi colocado em campanha, que é dar o direito a voto ao sócio torcedor de acordo com o plano que ele se associar.
Mas para isso é preciso reformar o estatuto...
Vamos começar a transformar isso no Conselho Deliberativo a partir de agora. Vamos falar sobre reforma do estatuto, adesão onlline do socio proprietário, que está fechada. Vamos reabrir o clube para trazer o sócio de volta.
Sabe qual é o problema dessa história? Boa parte dos sócios-torcedores do Brasil foi construída com base no ingresso. A pandemia mudou esse conceito. Alguns vascaínos pagaram pelo programa de sócio com direito a ingresso por um ano e não puderam ir aos jogos. Estamos lançando o Campeonato Estadual no PPV. Lançamos um pacote com preço tabelado no contrato, um contrato assinado antes de entrarmos, vale dizer, e que não me permite fazer promoção para o sócio- torcedor. Não posso ir ao sócio do Vasco e dizer ao que já paga para ter acesso aos jogos que ele poderá assistir o PPV.
Na impossibilidade do sócio usufruir do ingresso, vocês pretendem criar conteúdo exclusivo para ele?
Queremos fazer algumas coisas legais. Temos de criar subsídios para o vascaíno querer virar sócio além do voto e além do ingresso. Esse é o grande desafio, para poder entregar mais ao torcedor. Já começamos a fazer isso, temos a Vasco TV como um grande ativo. Teremos outras novidades que vão além do simples ingresso, não sabemos quando vamos poder ter o ingresso. No Vasco, indo para a Série B ou não, temos de falar a verdade sobre a situação do clube. O vascaíno, enxergando a verdade e enxergando as mudanças sendo implementadas, vai se associar. Tudo que o vascaíno quer é que o Vasco mude. A gente espera que o vascaíno volte a comprar essa briga. A vasco TV vai passar a ter um papel fundamental nessa história, ela vai gerar conteúdo exclusivo para o sócio. Existem outros componentes. Vamos remodelar o sistema de compra on-line e terá vantagem para o sócio. O sócio precisa ter vantagens, não só o clube.
E possuem alguma meta, seja de arrecadação, seja de número de sócios?
Queremos voltar a ter 100 mil sócios, em primeiro lugar. Gosto de estabelecer metas curtas. A primeira é voltar a ter 100 mil sócios até o meio do ano, até o início da Série B. Acho que o vascaíno vai comprar a ideia. Estou muito confiante.
E como vê a diminuição no número de sócios em curso?
É um ano de pandemia, todos os clubes perderam sócios. Perdemos pouco sócios dentro dessa campanha de cancelamento de associação, ela teve impacto inexpressivo.
Perderam 10 mil sócios com a campanha de cancelamento?
Não, muito menos que isso. Eu enxergo o vascaíno aguardando notícias, movimentos, para redobrar a confiança em quem foi eleito. O movimento começa agora.
Quanto esperam receber com esse novo formato de direito de transmissão no Estadual?
Discutimos muito esse tema. Optei por não fazer meta de arrecadação porque estou tratando como teste do produto digital Vasco TV. Gostaria muito que os 7 mil sócios que têm direito a ingresso do Vasco pudessem migrar diretamente para essa plataforma. Como estamos lançando o produto quatro dias antes do Estadual e sem condição de dar desconto ao sócio-torcedor, queremos entregar um produto legal, que gere um burburinho, que gere vontade do vascaíno em se associar, em ver a mesa redonda feita de vascaíno para vascaíno, uma hora de mesa redonda do Vasco, com ídolos. A minha preocupação no Estadual, em relação ao PPV, não é o dinheiro e sim entregar o melhor produto possível. É preciso dizer também: no PPV comprado no pacote da Vasco TV, o dinheiro todo é do Vasco. É um produto de vascaíno para vascaíno, com cada jogo custando menos de R$ 10.