Quando o experiente goleiro Wilson, de 37 anos, ingressar em São Januário hoje (16) para enfrentar o Vasco, a partir das 16h30, pela Série B, viverá um momento de nostalgia. Isso porque a poucos metros da entrada dos vestiários se encontra o ginásio onde o arqueiro do Coritiba teve uma breve, porém vitoriosa, passagem pelo futsal do clube.
Considerado um "cria" do Flamengo por ter defendido o Rubro-Negro na grande maioria de seu período da base, ele foi campeão carioca infantil pelo salão do Vasco em 1998, ano do centenário vascaíno e onde, no profissional, a equipe obteria o título da Libertadores com Juninho Pernambucano, Felipe, Pedrinho, Luizão, Donizete e cia.
Assim como no campo, a diretoria cruzmaltina, naquela época, quis montar times competitivos em todas as modalidades, incluindo o futsal da base. E foi aí que Wilson foi convidado para ser o goleiro titular num time que ainda tinham outras promessas que não chegaram a corresponder todas as expectativas no profissional do campo, casos de Nélio (ex-meia do Flamengo), Anderson (ex-atacante do Vasco), Júnior (ex-volante do Vasco), entre outros.
"Trabalhei com o Wilson a primeira vez no Fluminense, em 94, e passamos um tempo juntos, ele era menino ainda. Mas desde então, o Wilson já tinha uma personalidade muito forte desde bem novinho, e isso foi florescendo junto com o futsal. Até que em 1998 formamos um grupo muito forte e ele era uma espécie de comandante desse grupo", se recorda o técnico daquela equipe, Jader Campello.
Goleiro-artilheiro no futsal
Em sua geração, Wilson foi um dos arqueiros mais badalados na base e se notabilizou por ser um "goleiro-artilheiro" no futsal, fazendo inúmeros gols de falta, pênalti e longa distância.
Ex-companheiro de Wilson no salão do Flamengo nos dois anos seguintes, Rafael Dutra - hoje empresário do ramo de imóveis - relembra que, naquela época, o goleiro já havia se firmado no campo e era "convocado" como reforço para os jogos mais importantes na quadra.
"No infanto e no juvenil, nós tínhamos 16, 17 anos, e ele já jogava futebol de campo. Ele era muito requisitado lá para jogar e ia treinar umas duas vezes no máximo com a gente. Quando ele jogava, a gente arrebentava", contou Dutra em entrevista ao UOL Esporte em 2017.
O ex-jogador de futsal relembrou a impressionante média de gols de Wilson nas quadras mesmo sendo goleiro:
"Um campeonato em que o artilheiro tem 16, 17 gols, e ele terminar com seis, oito gols, é bastante coisa".
Classificou Vasco para final
Jader Campello atesta essa característica de Wilson e lembra de quando o goleiro classificou o Vasco para a final do Campeonato Carioca infantil.
"Lembro de um gol que ele fez contra a AABB, na semifinal do Carioca, num jogo muito difícil, e o Wilson decidiu o jogo com um petardo antes do meio de quadra, lá da nossa área quase. A bola foi muito forte. Ele fez aquele gol que credenciou o Vasco para a final do campeonato", se recorda o treinador, que enaltece também suas características debaixo das traves:
"Dentro do gol ele também era intransponível, formidável. Sempre foi um baita de um goleiro e um garoto muito bom de se lidar".
Jader lembra que inovava ao já usá-lo como uma espécie de "goleiro-linha", algo tão comum no futsal de hoje em dia:
"Já em 1998 eu utilizava muito o goleiro-linha porque por eu ter o Wilson, não precisava por um jogador de linha, pois ele fazia muito bem esse trabalho, apesar das regras ainda limitarem bastante. O Wilson adquiriu essa condição, tinha um chute muito forte, então fazia muitos gols lá do meio da rua nessa época".
Do Flamengo desde o sub-11
Apesar da passagem vitoriosa em 1998 pelo futsal do Vasco, Wilson é considerado mesmo um "cria" do Flamengo. Foi o Rubro-Negro que ele defendeu no campo desde o sub-11, ficando por lá até o profissional, onde teve pouquíssimas oportunidades e acabou deixando o clube em 2006.
"Acho que o Flamengo não o aproveitou no profissional, ou aproveitou pouco. Existia na época o Getúlio Vargas (já se aposentou), que vinha desde o sub-20 sendo titular, e ele (Wilson) era o segundo goleiro. Sabíamos que o Wilson precisava voar, não era goleiro para estar em segundo plano", declarou Jader Campello.
"Um dos melhores do mundo batendo na bola"
Os anos se passaram e Jader Campello continuou acompanhando a carreira de Wilson até ele se firmar no profissional do campo. O treinador não tem dúvidas em afirmar que o goleiro é um dos melhores do mundo no que refere à forma como bate na bola.
"Quando eu o vejo no campo, sem nostalgia, vejo exatamente aquele espetáculo de jogador, só que evoluído com o tempo. Ele trouxe aquelas qualidades e aperfeiçoou, desde o espírito de liderança até o controle de bola com os pés. Ele é um dos melhores do mundo na forma como bate na bola, não me acanho em dizer isso. Põe a bola onde quer. E dentro do gol também vejo aquele goleiraço que já via desde os 15 anos no Vasco da Gama", declarou Jader, complementando:
"Sou aquele torcedor que não perde um jogo dele. Estou sempre vendo. É um prazer para mim ver os jogos dele. Me faz bem. Só tenho a parabenizar o Wilson".