A goleada do Vasco sobre a Portuguesa por 4 a 1, neste domingo, em São Januário, mostra como o meio de campo do time de Fábio Carille está bem servido. Em um time que busca opções para o ataque no mercado, o treinador encontrou a formação que parece ser a ideal para o atual elenco: um 4-3-2-1 com muita posse, aproximação e jogo por dentro, com Coutinho como protagonista.
O Vasco teve a posse de bola e o controle das ações na maior parte do primeiro tempo. Depois de diminuir o ritmo e perder intensidade no meio, deixou a Portuguesa jogar, mas voltou a dominar nos 15 minutos finais da partida e sacramentou a goleada.
O esquema de jogo
Carille já deu uma cara ao Vasco. O time se posta em um 4-3-2-1, com Jair fixo como primeiro volante e muita liberdade para Tchê Tchê, Paulinho e Coutinho no meio. Alex Teixeira é o jogador de infiltração e aproximação por dentro, que cai para as pontas quando necessário, e Vegetti é o atacante de referência da equipe.
Com a bola, o Vasco espeta os laterais no ataque e faz uma saída com três na defesa: João Victor pela direita, Oliveira pelo centro e Jair pela esquerda.
Com o auxílio de Jair e Piton na base da jogada, o time forma triangulações interessantes pela esquerda, com Tchê Tchê, Paulinho, Coutinho e o lateral criando boas oportunidades por ali. Foi assim que o Vasco quase abriu o placar logo no início da partida, mas Alex Teixeira desperdiçou uma boa chance na área, em jogada que ele começou se aproximando dos volantes e meias e terminou finalizando (veja o lance abaixo).
O primeiro gol do Vasco mostra a importância de um jogador que dentro desse esquema de aproximação e passes de primeira tem dificuldades, mas que não pode ser descartado em nenhuma hipótese. Vegetti tem o cheiro do gol e abriu o placar marcando de costela ao bloquear um chutão do goleiro da Portuguesa.
Coutinho à la Coutinho
O esquema, que foi utilizado por Felipe nas últimas rodadas do ano passado, já mostrou que pode potencializar a referência técnica do time: Philippe Coutinho. O meia ex-seleção brasileira teve uma de suas melhores atuações pelo Vasco neste domingo, marcando um golaço em sua melhor característica e tendo bastante movimentação.
Opções para diferentes contextos
Mas nem tudo está perfeito ainda. O time ainda apresenta falhas defensivas, principalmente na transição para o campo de ataque. O gol da Portuguesa contou com o azar de Oliveira, que desviou a bola para o gol, mas também mostrou que um meio de campo mais reforçado na defesa será preciso em determinados momentos. E o elenco tem Mateus Carvalho e Hugo Moura para solucionar eventuais problemas.
E foi o que aconteceu no segundo tempo. O Vasco desceu as linhas de marcação, até por um desgaste físico, e deu mais espaços para a Portuguesa criar chances, mas nenhuma levou grande perigo.
Mateus deu mais poder de marcação ao meio de campo, e Hugo mostrou que é mais do que um volante de marcação. O jogador participou dos dois últimos gols do Vasco.
No terceiro, clareou a jogada duas vezes com ótimas inversões. A primeira para Lucas Piton. A bola circulou, voltou até Hugo, que virou para Paulo Henrique do outro lado. O lateral tabelou com Maxime e invadiu a área, tendo muita qualidade para definir e marcar um golaço.
No quarto gol, Hugo Moura se aventurou no ataque, dando profundidade pela direita, recebeu passe de Payet e cruzou na medida para Vegetti marcar o segundo dele no jogo. O argentino fechou a conta para o Vasco e marcou seu terceiro gol em dois jogos.
Pontos fortes e outros a melhorar
A força do Vasco neste início de trabalho de Fábio Carille tem sido o meio de campo, setor com mais opções no elenco. O Vasco tem cinco jogadores que poderiam ser titulares para três vagas no meio de campo.
Jair tem refino na saída de jogo e na distribuição. Paulinho e Tchê Tchê dão muita dinâmica ao meio e parecem jogar juntos há mais de um ano. Cocão e Hugo são mais físicos e têm qualidade. Na frente, o time tem Coutinho e Payet com qualidade técnica de sobras. Com um time mais estruturado defensivamente e com opções pelo meio, os camisas 11 e 10 têm companhias melhores que no ano passado e têm tudo para não estarem tão isolados quanto estiveram em alguns momentos de 2024. O setor subirá ainda mais de nível quando Adson e Estrella estiverem disponíveis.
Contra times de maior expressão ou que terão mais posse de bola que o Vasco, Carille pode promover a entrada de Hugo Moura no time titular e adiantar Paulinho para a vaga de Alex Teixeira, por exemplo. Ou sacar Jair e impor mais presença física no setor com Mateus Carvalho ou Hugo.
Alex Teixeira tem se esforçado e tem sido útil na função de meia-atacante por trás de Vegetti, mas o Vasco precisa de mais opções no ataque de velocidade. Não só para o esquema atual, mas para ter alternativas durante a partida para surpreender o time adversário, ou furar uma defesa que bloqueie o meio de campo vascaíno. A chegada de um titular e de mais um ponta para o elenco é fundamental.
A sustentação da defesa tende a ser o quesito com maior margem de evolução. João Victor, pela direita, ainda apresenta algumas falhas de posicionamento ou de tomadas de decisão. Carille pode trabalhar nisso e transformá-lo em um defensor mais seguro durante as partidas — potencial para isso João tem. O jogo fluiu melhor nos pés de Oliveira, com passes verticais pelo meio. O zagueiro, que é reforço para 2025, fez dois jogos seguros contra Madureira e Portuguesa.
Apesar de ainda ser cedo, o início de trabalho de Carille é promissor no Vasco. A primeira impressão em casa, perto de sua torcida em São Januário, foi ótima. O próximo desafio será novamente em São Januário, contra o Maricá, às 19h, na quarta-feira, em disputa direta pela liderança do Carioca.