O presidente Jorge Salgado, na entrevista coletiva de quarta-feira, desagradou parte da torcida do Vasco. Ele reconheceu que o clube, já naquele momento, antes da derrota para o Guarani, trabalhava mais com a possibilidade de o time estar na Série B em 2022 do que na primeira divisão. Relativizou o peso para o cruz-maltino de dois anos seguidos longe da elite do futebol brasileiro e usou o Grêmio como exemplo de que nem sempre o trabalho bem feito de uma gestão gera resultados condizentes em campo.
É ingenuidade ou picuinha política pensar que o dirigente viria a público pedir desculpas por mais um vexame na história já tão manchada do cruz-maltino. Nem ele, nem nenhum outro na mesma posição faria isso. Mas também não é possível colocar a culpa no azar. A falta de sorte decide jogos. Se for uma final, é preponderante até mesmo na definição de um campeão. Mas nunca o resultado em um campeonato de 38 rodadas é fruto do acaso. Seja em São Januário, seja no Grêmio, exemplo usado pelo presidente vascaíno.
A melhor maneira que o Vasco tem para reconhecer seus erros não é com palavras, e sim com ações. O futebol fracassou em 2021 e precisa passar por mudanças para que o resultado não seja o mesmo em 2022.
Uma delas pode ser financeira. Mas a permanência na Série B e mais os compromissos que o clube assume com seus passivos trabalhistas, cíveis e tributários não permitem um aumento nos investimentos na formação do elenco, o mais caro da segunda divisão na temporada e, consequentemente, o de pior custo-benefício.
Se não é possível dar mais dinheiro ao departamento de futebol, é preciso fazer com que ele funcione melhor com o que existe à disposição. Fatalmente, chega-se à conclusão de que a única maneira de Jorge Salgado tem para se redimir do fato de não ter levado o Vasco de volta à Série A é reformular o setor.
Vantagem amarga
A campanha ruim, a ponto de deixar o cruz-maltino sem chances de acesso antes mesmo da última rodada, oferece à diretoria a vantagem amarga de poder se antecipar a alguns rivais e sair na frente neste trabalho de reformulação. Mapeando saídas e possíveis chegadas. Definindo também prioridades de permanência e concretizando tudo o quanto antes.
Fernando Diniz, por exemplo. O treinador tem seu estilo bem autoral de trabalho, que o Vasco precisa decidir o quanto antes se é nele que apostará em 2022. Justamente por não ser uma maneira de jogar muito recorrente no futebol brasileiro, é importante que a diretoria dê a ele carta branca para a montagem de um elenco que se encaixe na proposta.
Cano, jogador da última bola, com poucos recursos além da finalização eficiente na grande área, não é um atacante cujo estilo encha os olhos de Diniz. Ele prefere jogadores com maior mobilidade e técnica para participar do jogo, não apenas na conclusão das jogadas. O contrato do argentino acaba em dezembro. Se Diniz ficar, ele fará questão que Cano fique também?
Essa é apenas uma das muitas questões abertas para a diretoria do Vasco lidar. E isso precisa acontecer o quanto antes. A torcida não precisa de um pedido de desculpas ou de um reconhecimento público de fracasso. O torcedor só precisa sentir que algo está sendo feito para que, na temporada que vem, ele não se repita.