O Vasco é uma bagunça. Lembra demais a minha Portuguesa e o velho Palmeiras. Clubes de colônia, em que as lutas pelo poder se sobrepõem aos interesses da instituição. A Portuguesa praticamente acabou. O Palmeiras ia por esse caminho, até ser resgatado e, digamos, pacificado (são os resultados e o dinheiro que sustentam a paz, lógico). O Vasco pode ser um ou pode ser outro.
Tem o potencial de ser Palmeiras, com torcida enorme, alcance nacional. Mas pode muito bem ser Portuguesa daqui a um tempo, se a roda não começar a girar para o lado certo em algum momento. Ambos os processos demorariam para acontecer, tanto o virtuoso quanto o desastroso, pois o Vasco nem está em uma posição idêntica à que os paulistas viveram. O potencial econômico do Palmeiras sempre foi maior que o do Vasco, já o da Lusa nunca chegou perto.
Após mais uma dessas eleições cheias de poréns, Jorge Salgado virou o presidente. "Está" presidente. E acho que tomou uma boa decisão ao trazer Alexandre Pássaro. Há muitas análises emocionais e raivosas sobre o dirigente. Creio que esta reportagem do UOL Esporte mostra bem algumas das melhorias pelas quais clubes como o Vasco precisam passar. Pássaro me parece ser muito mais julgado pela postura do que pela capacidade de gerenciar.
Acho que ele e Fernando Diniz deveriam seguir no clube por mais um ano. Mas não foi a decisão tomada. Diniz, Lisca, Cabo. Foram muitos técnicos em 2021. O problema não são eles, é a total instabilidade do clube.
Agora, para onde vai o Vasco? Eu, se fosse presidente do clube, faria uma oferta consistente para Pedrinho assumir todo o futebol do Vasco, com carta branca. Possivelmente ele não tenha os conhecimentos gerenciais de um executivo como Pássaro. Mas poderia trabalhar lado a lado com alguém do mesmo perfil - um perfil técnico, não político. E ficaria a cargo dele, Pedrinho, determinar os caminhos a seguir no futebol.
Não conheço Pedrinho pessoalmente, mas ouço diariamente o que ele tem a dizer.
Infelizmente, tem muito ex-jogador para quem foi dado microfone para que eles causem. Nada mais. Falam barbaridades e se esquecem de como as coisas funcionavam quando eram jogadores, se esquecem da violência (física, verbal, moral) e da irracionalidade que fazem parte do universo do futebol brasileiro. Não quero nenhuma reserva de mercado para jornalistas. Apenas acho que a voz dos ex-jogadores só importa se for para agregar, para trazer o conhecimento de quem passou a vida dentro de campos e vestiários. Se for para bradar barbaridades, tanto faz se jogou bola ou não.
Pedrinho é o contrário. Agrega demais. Está claro que estudou, se aprofundou, foi buscar conhecimento que não necessariamente teve porque jogava. Consegue agregar os conceitos do futebol de hoje em dia - o esporte é dinâmico e se transforma a cada ano, assim como a própria sociedade - à experiência que ele teve na vida. E consegue comunicar tudo isso, o que também não é fácil.
Eu sei que está na moda agredir e xingar jornalista, o exemplo vem de cima. Mas sim, sabemos nos comunicar. Pelo menos isso, né? Pedrinho sabe se comunicar, como qualquer bom jornalista. E, se ele sabe fazer isso "no ar", também saberá na vida real. E tem mais uma coisa: é ex-jogador do Vasco, ama e conhece o clube, sabe como as coisas funcionam em São Januário.
Não sei nem se Pedrinho quer isso para a vida dele. E também sabemos como é difícil acreditar em dirigentes de futebol, então nem adianta contar com promessas do tipo "você terá tempo para implementar tua filosofia e carta branca para cuidar dos processos". É o que o Vasco deveria fazer. Colocar o futebol, da base ao profissional, nas mãos de quem entende. E bancar o projeto.
Para ver se ainda dá tempo de seguir os passos do Palmeiras. Porque, hoje, o caminho que está trilhando é o mesmo da co-irmã lusitana.