Em agosto de 2012, completa-se o centenário de nascimento do chamado \"anjo pornográfico\". Escritor, jornalista e dramaturgo, Nelson Rodrigues nasceu no Recife e cresceu no Rio de Janeiro, onde dedicou sua vida às crônicas esportivas e ao amor pelo Fluminense, paixão que serviu de herança para o próprio filho, Nelson Rodrigues Filho. Nelsinho, como é carinhosamente chamado, presenciou os últimos momentos de vida de seu pai e, ainda, acompanhou a última crônica produzida por ele.
Há 32 anos atrás, o time das Laranjeiras e o Vasco da Gama decidiam o Campeonato Estadual. À época, Nelson tinha problemas cardíacos e estava proibido de ver e ouvir jogos de futebol, principalmente os do tricolor carioca. O filho deixou de ir ao Maracanã para ficar com o pai no apartamento onde morava, no Leme. A solução foi ouvir à decisão pelo rádio.
- Ele não podia sequer saber do jogo. Só que acabava sabendo. Acordava, sempre procurando \"Nelsinho, e o jogo?\" - lembra o filho.
De um lado, Zagallo comandava o Vasco. De outro, Nelsinho Rosa, o Fluminense. Mas um dos times levava certa vantagem: o apoio de Pelé, que se dizia vascaíno.
- Evidente que, eu sendo vascaíno, ia torcer para que não metesse nenhum gol, para que o Vasco fosse o campeão - declarou o Rei.
Com medo de causar qualquer tipo de reação, Nelsinho omitia certos lances do jogo para não liberar as emoções do pai. Mas foi impossível esconder o gol de falta de Edinho. O título estava a caminho.
- Eu esperei o jogo acabar. Quando o jogo acabou eu disse pra ele: \"Velho, vai ter uma falta e o Edinho vai bater. O Edinho bate bem. Velho, gol do Fluminense. Ele ficou excitado. Mas falei para ele segurar que ainda faltava jogo - recorda Nelsinho.
Quando a torcida já comemorava nas ruas, foi hora de dar a notícia. O Fluminense era campeão. E antes que o filho pudesse contê-lo, Nelson levantou da cama em direção à máquina de escrever. Porém, sem conseguir redigir, concordou em ditar para Nelsinho escrever. Ali nascia a última crônica do jornalista.
- Gostaria de falar dos campeões. O Fluminense tem um elenco fabuloso do goleiro ao ponta-esquerda, e só os lorpas e pasquácios não veem que o futebol brasileiro está encarnado nos craques tricolores - narra Pedro Bial um trecho do texto.
O cronista morreu dezenove dias depois da publicação, no dia 21 de dezembro de 1980.
- Ele morreu muito feliz, com o futebol e com o Fluminense. Porque em seguida ele apagou no pleno da felicidade - descreve Nelsinho.
O filho eternizou a história do último texto do dramaturgo no livro Profeta Tricolor, uma coletânea de escritos de Nelson Rodrigues sobre o Fluminense.