Finalmente, Dakson começa a ver seu nome se afastar do anonimato e reforça a luta contra a reprovação pela controversa indicação de sua contratação ao Vasco, ocorrida a contragosto de parte da diretoria e da comissão técnica, em julho. Após quatro meses de pura desconfiança, o meia foi utilizado pela primeira vez no clássico contra o Flamengo e, com a suspensão de Fellipe Bastos, pode até ser titular diante do Fluminense, no domingo, pela última rodada do Brasileirão. O alagoano de 25 anos, porém, vive situação curiosa: enquanto ainda espera ser reconhecido nas ruas cariocas, em Santana do Ipanema sua estreia \"provocou\" um apagão.
Certas gírias de quem virou morador do Rio já na adolescência tentam esconder, mas, no fundo, o sotaque e a simplicidade não deixam mentir: Dakson é um autêntico nordestino de infância humilde, a qual viveu no meio do sertão. Em sua terra, de aproximadamente 60 mil habitantes, são poucos os que não sabem de sua história. Promessa tricolor até 2006, ficou para trás na hora de estourar no time principal, comandado pelo mesmo Abel Braga de hoje. Por isso, depois de cinco temporadas sumido na Bulgária, a chance em São Januário foi motivo para dar uma guinada e causar furor entre seus antigos amigos e vizinhos.
- Todo mundo se reuniu para assistir ao Vasco x Flamengo na minha cidade, mas teve um apagão geral na hora do jogo (risos). Parece que voltou a luz no fim do primeiro tempo e os que ficaram puderam me ver, mas muita gente desistiu. Vamos ter que esperar a próxima chance. Tenho muitos amigos que torcem pelo Vasco que querem muito o meu sucesso. Falam com meu pai, minha esposa... Aqui é que nunca fui reconhecido mesmo. Está tudo muito recente. Sou uma carinha nova ainda - diverte-se Dakson, sonhando com o estrelato.
Embora explique que vestia a camisa 10 do Lokomotiv Plovdiv, uma das maiores forças do pequeno país do Leste Europeu, e que tenha sido até convidado a se naturalizar para defender a seleção local, a chegada do jogador teve impacto negativo pelo desconforto de ser empresariado por Pedrinho Vicençote, ex-lateral do Vasco e dono do terreno alugado para a construção do CT da base, em Itaguaí. O presidente Roberto Dinamite efetuou o negócio sozinho, mas tudo quase foi por água abaixo porque a documentação ficou retida na Fifa, que alegava que a transferência fora feita após o prazo limite da janela internacional. O problema de Dakson só foi resolvido no início de setembro. Nada que tirasse seu ânimo.
- Todo mundo criticava a minha contratação e ainda tive essa situação com os documentos, foi bem complicado. Mas sempre acreditei no meu potencial e que a vida é feita de desafios. Abri mão da Europa e vim preparado porque sabia que teria críticas por não ser conhecido e que seria difícil para caramba. Não sabia quando, mas a chance apareceria. Por isso, treinei muito e acabou sendo especial, num clássico. Fiquei feliz pelos elogios do treinador. Dá muita força para seguir o que ele falou - afirmou, sobre Gaúcho tê-lo incluído na lista para 2013.
Tempo livre e caminho inesperado
Diante da baixa confiança dos treinadores anteriores, o meia encarou um cenário inusitado na carreira: teve folga na maioria dos domingos do segundo semestre. Tímido e ligado à família, garante que aproveita o tempo livre apenas para caminhar na praia, tomar um café na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio, onde mora, e eventualmente ir ao cinema. Além disso, outro programa é jantar com o volante Abuda - que vive momento de crescimento parecido, aproveitando que o clube não tem mais perspectivas na competição.
A história de Dakson, aliás, reserva capítulos que poderiam transformar o clássico do próximo domingo em vingança pessoal. Ignorado pelo Fluminense em 2002, ele foi para o Campo Grande e acabou levado para as Laranjeiras já na categoria de juniores, onde foi campeão do Mundialito da categoria, nos Emirados Árabes Unidos. Ainda assim, não emplacou. Pediu para sair, foi liberado, mas a amargura fica em segundo plano na hora de entrar em campo.
- Fui para o banco de reservas uma vez só, contra o Volta Redonda, mas nem entrei. Chegou o momento em que não estava tendo oportunidade, apesar de fazer parte de um time vencedor. Fiz dois gols na final e fui eleito o melhor jogador do campeonato. Fizemos um acordo, mas não guardo mágoa. Respeito o Abel, é um grande treinador que dava moral à base. Não sei se ele lembra de mim, mas quero dar um abraço nele antes da partida - disse.
Agora, Dakson só espera que 2012 acabe de forma positiva, porque 2013 será de fortes emoções, a começar pelo nascimento do primeiro filho, Gabriel, fruto da união de quatro anos com a alagoana Amanda, que não podia permanecer mais que três meses na Bulgária por não ter visto de trabalho. Algo que o meia já não suportava mais, a ponto de abrir mão da chance de disputar a Copa da Uefa pela primeira vez na carreira, após vaga na fase preliminar.
- Quando apareceu o Vasco, larguei tudo. Poderia não pintar outra oportunidade, era a hora de voltar ao Brasil. Não esperava nem ficar mais de um ano lá. E seria mais fácil cuidar da família daqui. Disse não à naturalização e à possibilidade de chegar à Uefa. E faria de novo apesar das dificuldades porque ainda vou colher os frutos - promete.
A crise financeira pela qual o Gigante da Colina atravessa não perturba, avisa Dakson, que se acostumou a não receber salários em dia na Bulgária. Assim, mesmo que não seja o nome dos sonhos do torcedor, é um dos poucos que não cogitam a hipótese de sair. Ele tem contrato até o fim da próxima temporada e vai disputar posição com Felipe, Carlos Alberto, Bernardo e Marlone. Juninho ainda precisa renovar.