Celso Roth deixa o Vasco onde o encontrou: na lanterna do Brasileiro. Responsável por 10 dos 13 pontos conquistados pelo clube na competição - com Roth, o time venceu dois clássicos, o Avaí e conquistou o empate da semana passada contra o Joinville -, o técnico ensaiou uma arrancada que lembra bem a marca de seu trabalho em outros clubes, com bom início e depois queda de rendimento. Mas ficou só na ameaça, e o técnico terminou sua passagem de maneira melancólica por São Januário. A cena do treino de sexta-feira do treinador sentado ao lado de José Luis Moreira na porta do vestiário era emblemática. Com poucas palavras, o dirigente e o treinador olhavam para o horizonte, em silêncio.
Apresentado no dia 23 de junho, em substituição a Doriva, Celso Roth durou pouco em São Januário por vários motivos. Ele foi comunicado da demissão no vestiário pelo vice-presidente de futebol José Luis Moreira. No curto pronunciamento, o dirigente não citou o nome de Roth e foi objetivo.
- O treinador está fora - disse José Luis Moreira, que depois repetiu a cena a pedido de uma emissora de TV que não conseguiu gravar a curta declaração.
A diretoria se reúne neste domingo para definir o substituto do treinador. Os nomes em vista são de Oswaldo de Oliveira, Guto Ferreira e até de Petkovic, que é o único que está empregado dos três. O ex-jogador é técnico do Criciúma.
Leia abaixo os principais pontos que determinaram a saída do técnico gaúcho, que encerra sua passagem após menos de dois meses no Vasco. Foram 13 jogos, com sete derrotas, um empate e cinco vitórias - duas pela Copa do Brasil.
1 - Exposição de jogadores: Nas entrevistas após as partidas, em alguns momentos Celso Roth criticou os atletas, que se incomodaram com as palavras do treinador. A mais notória das declarações se deu após a vitória por 3 a 1 sobre o América-RN. Quando um repórter fazia a introdução da pergunta elogiando a atuação do time, lembrou que houve "pequena falha" de Aislan, no gol dos potiguares. Roth interrompeu e questionou:
- Tu achas pequena falha?
2 - No meio do fogo cruzado: Nome escolhido principalmente por José Luis Moreira e Paulo Angioni, Roth não agradava a outros grupos na diretoria do Vasco. Euriquinho também não simpatizava com o gaúcho. O incômodo ficou maior quando o filho do presidente fez reunião no vestiário sem a comissão técnica. Roth, neste dia, mal comandou o treinamento, que começou atrasado e sem a ideia do treinador de passar vídeo com orientações para os atletas. A falta de relacionamento com o coordenador científico do Caprres, Alex Evangelista, também influenciou na insatisfação dos que defendiam a mudança de técnico.
3 - Constantes mudanças: em 11 jogos no Brasileiro e dois pela Copa do Brasil, Roth não repetiu a formação nenhuma vez. Ora por lesões e suspensões, mas principalmente pelas tentativas de mudar esquema e forma de jogar. A direção do clube também se incomodou quando Roth elogiou Dagoberto contra o Joinville e três dias depois não o colocou nem mesmo no segundo tempo.
4 - O caso Martín Silva: A substituição do goleiro no intervalo da partida contra o Palmeiras por pouco não ameaçou a continuidade de Roth há cinco rodadas. Um dos principais jogadores do elenco, o uruguaio falhara nos gols dos paulistas, mas tinha crédito e personalidade suficiente para seguir no time. Após o episódio, o empresário de Martín fez duras críticas ao treinador, que teve defesa de Eurico Miranda. Mas Roth saiu arranhado naquele momento e passou a impressão no grupo que transferia as responsabilidades em mais uma derrota do Vasco.
5 - Os 10 dias: Com longo período para trabalhar entre a derrota por 3 a 0 para o Corinthians e o empate por 0 a 0 contra o Joinville, o treinador tinha a missão de mostrar um time mais encorpado no jogo do último domingo no Maracanã. A atuação fraca alertou ainda mais para a necessidade de mudança na direção. No período de 10 dias, foram poucos trabalhos com bola.
6 - "Fogo amigo" de Eurico: Se havia alguma dúvida da estabilidade de Roth no cargo, a certeza de que o treinador praticamente cumpria aviso prévio veio na coletiva de imprensa antes da partida contra o Coritiba. O presidente Eurico Miranda disse que o Vasco não podia ser tão defensivo - dias depois de quase não finalizar a gol contra o Santos na Vila Belmiro - e colocou reforços na equipe, dizendo que não "escalava", mas lembrando que o técnico tinha que "raciocinar".
7 - Rejeição da torcida: Ainda com resquício da saída de Roth para o Internacional em 2010 - quando ficou no Vasco por apenas 25 dias e cinco partidas, antes de aceitar proposta do time colorado, que disputaria as finais da Libertadores -, os vascaínos nunca engoliram a chegada do treinador. Nas arquibancadas e redes sociais, as críticas ao time e às opções do treinador eram constantes. No último jogo sob seu comando, Roth disputou com o presidente Eurico Miranda o posto de maior alvo de insatisfação da torcida.