Dia seguinte de uma atuação ruim pelo Bahia, e Madson é chamado para uma conversa com o técnico Jorginho. Sem meias palavras, o ex-meia que teve grandes passagens por Palmeiras e Portuguesa e treinou o Bahia em 2013, pergunta para o jogador se ele sabe trabalhar com alguma outra coisa, se já havia pensado em virar vendedor ou estudar engenharia.
- Não, professor, só sei fazer isso mesmo - disse, de cabeça baixa, o garoto.
- Então ou você aprende a absorver vaias, críticas ou você não vai conseguir jogar futebol - disse, de primeira, o treinador, atualmente sem clube.
A passagem é recente. Pouco depois do episódio, no ano passado, Madson foi muito bem no ABC de Natal - fez inclusive um bonito gol contra o Vasco na Copa do Brasil. Longe de Salvador, ele ganhou maturidade e começou a virar o jogo. Para Paulo Angioni, que estava no Bahia e viu a ascensão de Madson desde que despontou como grande promessa do clube - ele era batedor de falta, de pênaltis e um dos destaques do time vice-campeão da Copa São Paulo de juniores de 2011 -, o tempo em Natal parece ter transformado o garoto. Quando o reencontrou, um ano depois, na pré-temporada vascaína em Pinheiral, "era um novo Madson".
- Ele é muito introvertido, é uma característica dele. Mas a saída para o ABC foi muito valiosa. Madson está bem diferente, amadurecido. Eu o vejo mais destemido, encorajado - afirma o gerente de futebol do Vasco.
Nascido na ilha de Itaparica (BA), Madson Ferreira dos Santos, de 23 anos, filho da dona Edna e do seu Magno, segue uma linha de grandes laterais formados no Bahia. Os mais recentes são Daniel Alves, um exemplo para o jogador, e Clebson, que faleceu em acidente de carro na Bahia pouco depois de ser campeão brasileiro pelo Vasco de Romário, Juninhos e cia em 2000. A carreira começou no Vitória. Era meia-direita e terminou dispensado aos 15 anos. No teste para o rival, acabou passando e foi treinar no Fazendão.
Alto - hoje, ele tem 1,80 m -, muito magro e muito rápido, acabou caindo como uma luva para a filosofia da base do Esquadrão de Aço, que decidiu colocar jogadores altos na lateral. Mas ele nunca deixou de atacar muito. Com Doriva, no Vasco, é válvula de escape e alvo dos passes do paraguaio Julio dos Santos. Da velocidade e dos pés de Madson saíram o passe para o gol de Gilberto contra o Resende e as principais jogadas ofensivas no Vasco.
Para Laelson Lopes, que treinou Madson na base, o que ele passou no Bahia foi um sintoma claro de "síndrome de jogador de base". Ele lembra que Madson era a referência do seu time vice-campeão da Copinha em 2011 - Anderson Talisca era reserva naquela equipe. Ney Franco, ex-técnico do Vitória e do Bahia, concorda com a análise. Como técnico da seleção brasileira sub-20, ele convocou Madson para o Pan-Americano de 2011.
- A velocidade dele já me chamava atenção naquela época. Madson tem uma passagem muito forte pelo canto do campo. Uma facilidade enorme, cruzamento bom. Seu biotipo é muito bom para um lateral - comenta Ney, que vê mais potencial no jogador. - É um jogador de muito futuro, até mesmo para a Seleção principal.
Arremesso e batida de falta vêm da base
Madson chegou ao Vasco como um dos muitos desconhecidos no início da temporada. Em trabalho específico no centro de saúde criado pelo clube - com aparelhos do Centro Avançado de Prevenção, Reabilitação e Rendimento Esportivo (Cappres) -, ele trabalhou equilíbrio muscular e se recuperou rapidamente de estiramento na coxa. Mas logo no primeiro jogo, contra a Cabofriense, já apareceu numa correria difícil de acompanhar. Não é para qualquer um. Se o Flamengo tem Everton e Cirino "voando" a 30 km/h, o Vasco tem um jogador que atinge 32,4 km/h - segundo medições em treinos e jogos da temporada. É o mais rápido jogador do elenco.
Para chegar a esse ponto, porém, houve dificuldades. Antes de completar 16 anos, ele chegou ao centro de treinamento do Fazendão, em Salvador, pesando 56 kg em 1,77m de corpo, com apenas 1,27% de gordura no corpo. Apesar das limitações de alimentação e suplementos em boa parte das categorias de base de clubes brasileiros, menos de um ano depois, em fase de crescimento, ele media 1,80m e pesava 62,7 kg - o índice de gordura era 6,27%.
- Tivemos que fazer um trabalho especial com ele, como fizemos com (Anderson) Talisca. Nós o tirávamos até duas vezes da semana de treinos. Perdia 2,5 kg a 3 kg por jogo - lembra o preparador físico do Bahia Marcos Paulo, que trabalhou com Madson nos tempos de Vitória.
Mesmo magrinho e ainda longe da melhor condição física e muscular, Madson fazia 50 m com aumento gradativo de velocidade que impressionava - nos últimos 30 m chegava a 29 km/h. A força do garoto também era trabalhada nessa época. Marcos Paulo assistiu ao jogo do Vasco no fim de semana contra o Nova Iguaçu, quando Madson jogou a bola da lateral dentro da área com as mãos, e se lembrou como era comum essa prática no Bahia.
- Levamos medicine ball e fizemos esse trabalho durante seis meses. Nesse período, saíram uns seis gols assim, de lateral. Modéstia parte, esse trabalho começou comigo - lembra Marcos.
Se a fase é boa, nada melhor que um clássico para pôr em prova a maturidade do novo Vasco do técnico Doriva e a alta perfomance de Madson. O técnico Jorginho, que via traços de insegurança naquele garoto que se acanhava com críticas e se livrava da bola quando era vaiado, revela uma característica ainda escondida nos três meses de São Januário, que pode significar uma barreira a mais ultrapassada pelo "ligeirinho" da Colina.
- Não deixaram ele bater falta ainda, mas ele bate muito bem, bate forte. No Vasco tem o Bernardo e o Rodrigo, mas ele tem que pegar e bater. Você vai ver!