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Edmundo: "O Vasco virou quintal pra empresário"

O amor pelo Vasco permanece, já a consideração pelo atual presidente cruzmaltino, Roberto Dinamite, já foi para o espaço há muito tempo. Em entrevista ao ‘Ataque’, o ex-camisa 10 revela sua tristeza pela forma com que foi tratado pelo mandatário vascaíno na época de sua dispensa e faz duras críticas a Roberto, a quem considera não ser “uma pessoa do bem”.

O ‘Animal’ ainda saiu em defesa de Adriano, ao falar que o que o atacante rubro-negro não deve ser tão criticado por seu modo de vida excêntrico e suas idas à favela. Edmundo faz questão de ressaltar que isso não é um problema só do Imperador, mas sim da sociedade que não dá melhor instrução e estudo ao mais necessitados.

O DIA: Você tem acompanhado os jogos do Vasco no Carioca? O que esse time precisa para engrenar?

Edmundo: O Vasco está precisando de conjunto. E é muito difícil falar se é ou não o mais fraco entre os clubes grandes do Carioca, já que tem Philippe Coutinho, Carlos Alberto e Dodô, jogadores de alto nível. Não sei se é o melhor ou o pior. O que posso dizer é que o time precisa jogar, mostrar dentro do campo e, infelizmente, não está fazendo isso. Isso é uma coisa também para a diretoria, que eu vejo aparecendo muito nos momentos bons, mas tem que botar a cara nos ruins.

Acha que a saída de Eurico Miranda e a entrada de Roberto Dinamite não foram tão boas para o clube?

Não posso concordar que o Roberto (Dinamite) é bom, é gente boa, não concordo que ele seja do bem. Posso ser o único, já que ele abriu as portas do Vasco para muita gente que estava proibida pelo Eurico. Mas essa é só minha opinião, não quero influenciar ninguém. Mas acho que o Vasco não melhorou nada, não paga aos funcionários, o time continua ruim, mas não vejo ninguém falando sobre isso.

Guarda mágoas do Roberto Dinamite pela forma como o dispensou?

Não saí magoado, não. Faz muito tempo que eu tirei sentimentos ruins da minha vida, da minha cabeça e do meu coração. Fiquei triste porque ele me ligou trezentas mil vezes antes de ser presidente e não me ligou uma vez para me mandar embora. Faz parte. Não estou aqui pra falar mal dele porque não continuei no Vasco, muito pelo contrário. Acho que o Vasco não melhorou nada. Virou quintal pra vice-presidente, empresário. Antigamente, ‘nego’ dizia que era o Eurico que mandava em tudo, agora é Carlos Leite, Mandarino... Acho que essas coisas têm de ser noticiadas.

Por conta da rivalidade com Roberto, surgiu a notícia que você teria se filiado ao PP para concorrer com o presidente do Vasco a deputado estadual. Teremos um Edmundo candidato nas próximas eleições?


Fui meio que influenciado pelo doutor Eurico, por essa indignação com o Roberto. Eurico disse que seria benéfico para mim, mas eu não tenho pretensão política. E teria que brigar com muita gente, já que não concordo com a maneira que os políticos agem. Aí, depois disso, me encontrei em uma nova profissão, que é a de comentarista de futebol, e não quero abrir mão disso. Foi um lampejo de um dia, que passou no outro. E nunca pensei em me candidatar pra concorrer com o Roberto. Me filiei numa segunda-feira, às 16h, e, quando cheguei em casa e conversei com minha mulher, já tinha desistido.

Você, que sempre teve fama de badboy, pode responder com propriedade: acha que os problemas do Adriano fora do gramado atrapalham o desempenho em campo?


Olha, se o que estão falando for verdade, natural que seja noticiado. Se for mentira, aí eu acho exagero, não é legal. Agora, o que atrapalha realmente é você não treinar. Ficar 11 dias fora de seu trabalho, isso atrapalha. Agora, a vida pessoal, acho que não tem nada a ver, não me compete falar. Gosto dele, admiro e quero vê-lo fazendo gols, jogando bem. E foi o que fez no domingo. As questões particulares só ele pode resolver.

Acha que o Imperador pode ficar de fora da Copa?

O que definirá se ele vai ou não são os jogos que fizer pelo Flamengo nestes dias que restam para a convocação. Não vi o clássico de domingo, mas me disseram que ele não jogou bem, mas foi decisivo. Ele tem presença de área e a Seleção precisa de um jogador assim. É fácil falar: ah, tira o Adriano. Mas me diz: quem você levaria? Acho que, se ele continuar jogando bem, deve ir à Copa.

O apego de Adriano pela favela é um problema?

Ele não era problema do Flamengo, mas passou a ser quando veio. Existem outros tantos Adrianos por aí, que são um problema de ordem pública, do governador, do presidente... Estes têm de dar acesso à Educação, Saúde, Segurança. Falar do que ele faz ou deixa de fazer é passar por cima dos sentimentos do cara. Hoje ele é jogador famoso e com um monte de gente que puxa o saco, mas talvez, lá na comunidade, ele sinta a segurança de ter amigos de verdade, mesmo que esses amigos não tenham uma vida normal, bacana. A gente tem que respeitar, e não criticar.

Você teve dificuldades parecidas no início da carreira?

Sim, fui ter acesso à Saúde e Educação quando virei profissional, antes eu não tinha. Adoraria ter estudado e ter sido melhor direcionado. Só temos que cobrar dos governantes para que o moleque de hoje não vire o bandido de amanhã. E aqui no Brasil só se dá bem quem estuda, quem joga futebol ou canta samba. Dificilmente um cara sai da Vila Cruzeiro e vira advogado, médico ou tem uma boa profissão.As pessoas só querem receber do Adriano uma coisa que talvez ninguém tenha dado.

Você vai à Copa como comentarista. Espera poder analisar o Ronaldinho Gaúcho no Mundial?

Sinceramente, gostaria, mas acho que não. Acho que está bem definida essa situação, e o Dunga tem todo o direito de optar pelos jogadores que o convêm. Seleção é simples, vão os melhores. Na Itália, é fácil, só tem 20 jogadores, aqui no Brasil nós temos 300. Hoje seria injusto o Neymar não ir, e não vai. Tem o Vagner Love também e o Bruno que está jogando pra caramba. A lista é grande. Pode ser que aconteça uma surpresa, mas acho difícil que o Ronaldinho vá à Copa.

Na Copa de 98, você acha que o episódio do Ronaldo foi decisivo para a derrota?

Já falei sobre isso tantas vezes. Ele teve a convulsão e depois apareceu no vestiário para jogar, bem disposto. É difícil a decisão de barrar o então melhor jogador do mundo numa final de Copa. Mas, depois do ocorrido, todo mundo fica com a ideia de que, se ele não tivesse jogado, o Brasil poderia ter ganhado. Mas faz parte, a vida é assim. Não fico remoendo as coisas que aconteceram. O que a gente fez ontem não serve de nada. O importante é o que a gente faz hoje.

Fonte: O Dia
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