O salão, quer dizer, o estádio estava repleto. Aliás, há muito tempo não se via o maior do mundo tão cheio como palco de uma festa apenas vascaína. Naquela noite de sábado, dia 19 de maio de 1984, cerca de 110 mil cruzmaltinos se esbaldaram e continuaram o carnaval madrugada adentro, esperançosos por uma conquista que não vinha há uma década. Ao vencer o Grêmio de forma incontestável um 3 x0 com direito a olé , o Gigante da Colina se credenciava a disputar a decisão do Campeonato Brasileiro, que no dia seguinte conheceria seu segundo finalista na partida entre Fluminense e Corinthians que também seria jogada no Maracanã.
O Tricolor gaúcho havia saído na frente naquela semifinal uma semana antes, no Olímpico. O gol solitário de Tarciso a onze minutos do fim deixou a torcida vascaína apreensiva para o jogo de volta. Somente a vitória interessava, fosse ela por qualquer placar. Do outro lado estava apenas o campeão da Libertadores a da Taça Intercontinental Euro-América de 1983. Tradicionalmente formado por um sistema defensivo forte, destaque para o uruguaio De León na zaga, com jogadores criativos no meio, como Luís Carlos e Osvaldo, e contando com o driblador Renato e o oportunista Caio na frente, o time sulista estava em um momento de afirmação no campeonato eram nove jogos de invencibilidade e se apresentava como um dos mais sérios candidatos ao título.
O Vasco vinha de uma temporada péssima no Carioca anterior: apenas sétimo colocado. A diretoria se mexeu e para o Brasileirão (que abria o ano àquela época), contratou o volante Pires, o lateral esquerdo Aírton e os meias Arthurzinho e Mário, destaques do bom time de Moça Bonita, terceiro colocado e maior pontuador do Estadual de19 83. E o Almirante foi se acertando durante a competição. A principal arma da equipe de São Januário era a mobilidade do seu sistema ofensivo. Sem posição fixa, os anõeszinhos da Colina, como ficou conhecido o quarteto formado por Arthurzinho-Mário- Mauricinho-Marquinho, mais o oportunismo e precisão do artilheiríssimo Roberto Dinamite, cada vez mais objetivo na área, deixavam os adversários tontos, sem saber que esquema usar para tentar parar aqueles endiabrados baixolinhas. Contra a Portuguesa de Desportos pelas quartas-de-final, foram nove gols em dois confrontos. Mas na sequência, uma série invicta de oito partidas havia sido quebrada em Porto Alegre.
E o duelo mal começa quando Aírton vai no fundo e cruza na área. Roberto tenta dominar, mas a bola foge. Marquinho se aproveita da sobra e chuta no canto, explodindo o Maraca. O Grêmio tenta reagir, mas o Vasco se defende bem. No segundo tempo, Renato recebe de De León e deixa Osvaldo em ótimas condições de empatar, mas o meia perde a chance, chutando por cima da meta. Rei Arthur quase faz um tento espetacular por cobertura. Não demora muito e em um rápido contragolpe, Arthurzinho recebe de Mauricinho, invade a área em diagonal, dribla João Marcos, perde o ângulo, mas acaba encontrando Roberto bem colocado. Dinamite então não perdoa: ele bate firme e aumenta o placar para o delírio dos torcedores vascaínos em todo o Brasil.
Caio tem duas oportunidades de diminuir e botar fogo na luta, mas desperdiça ambas. E para encerrar o baile cruzmaltino em alto estilo, após boa trama de Pires com Arthurzinho, a zaga adversária colabora e este último deixa Roberto na cara do goleiro. Ele só desvia de João Marcos, fazendo o terceiro do Vasco, o segundo gol dele no jogo e o 16º no Brasileirão, se isolando ainda mais na artilharia. Em seguida, Mauricinho ainda quase deixou os gaúchos de quatro, mas naquela altura, o que importava era que o Gigante estava de novo na final de um campeonato nacional após cinco anos. E mais do que embalado!
Sábado, 19 de maio de 1984
VASCO 3×0 Grêmio (RS)
Campeonato Brasileiro (Fase Semifinal)
Local: Maracanã
Hora: 21:30
Renda: CR$ 323.495.500,00
Público: 110.877 pagantes Árbitro: José de Assis Aragão
Auxiliares: Dulcídio Vanderlei Boschila e Edson Alcântara Amorim
Gols: Marquinho aos 10 do 1º tempo; Roberto Dinamite aos 19 e 38 do 2º tempo.
VASCO: Roberto Costa, Edevaldo, Ivan, Daniel González (Nenê), Aírton; Pires, Arthurzinho, Mário (Geovani); Mauricinho, Roberto Dinamite e Marquinho.
Técnico: Edu Antunes. Grêmio: João Marcos, Raul, Baidek, De León, Paulo César; China, Bonamigo (César), Luís Carlos, Osvaldo; Renato e Caio.
Técnico: Carlos Froner.