Em um período de uma semana, os clubes da Série A terão recebido duas propostas de compra de parte da Liga para organizar o Brasileiro. As negociações têm impacto direto no futuro dos direitos de TV do principal campeonato nacional. Uma decisão dos times pode mudar como os clubes comercializam TV e patrocínios, o tamanho da receita e a forma como o público assiste aos jogos.
Para entender o cenário, é primeiro preciso lembrar que qualquer mudança terá efeitos a partir de 2025 —os clubes já têm contratos de direitos com a Globo até 2024. Segundo, esse movimento começou quando os clubes da Série A decidiram, no meio de 2021, formar uma liga para organizar o Brasileiro.
A liga pressupõe a negociação centralizada de todos os direitos de TV e patrocínio da competição. Para fazer isso, os clubes têm de organizar uma estrutura empresarial única para fazer a operação comercial. Essa operação ainda não está organizada.
Em paralelo, as principais ligas do mundo, que já têm essa estrutura, têm negociado parte de seus direitos futuros em troca de aportes financeiros imediatos para os clubes. Isso ocorreu na La Liga e na Série A Italiana. Quem compra esses direitos são fundos internacionais, em geral de private Equity. Em troca do investimento, ficam com um percentual entre 10% e 15% de todas as receitas futuras.
No Brasil, as propostas para compra dos direitos de mídia se misturam com o gerenciamento da parte comercial da Liga. Foram duas ofertas em andamento pela Liga: uma da empresa Codajas Kapital Sports e a outra pelas empresas LiveMode e 1190.
No caso da Codajas, a oferta é para assumir a estruturação e o gerenciamento da parte comercial da Liga. Sua intenção é organizá-la em 150 dias. Neste período, o BTG faria a captação para obter um investimento de até R$ 5,5 bilhões. Não há ainda um capital garantido. A empresa ficaria com um percentual das receitas, isto é, dos direitos de TV e patrocínio do Brasileiro.
Já a LiveMode e a 1190 foram procuradas por investidores para apresentar a proposta pela Liga. A oferta, que será enviada aos clubes, tem uma garantia de investimento de US$ 800 milhões (R$ 4,2 bilhões) para compra de 20% da Liga. Em troca, as duas empresas assumiriam a gestão da parte comercial do campeonato, ou seja, a comercialização dos direitos de TV e patrocínios. Não foi revelada ainda a fonte do dinheiro.
Os clubes terão de decidir, primeiro, se querem ter um parceiro na gestão deste ativo. Em um segundo momento, teriam de definir qual é a proposta mais vantajosa e se há espaço para negociarem os termos contratuais. Outro ponto é como seria a governança e divisão de receitas. Havia um acordo inicial neste ponto, mas resta saber se ele perdura com o novo modelo de negócios.
Quem vencer a concorrência poderia iniciar a comercialização dos direitos do Brasileiro-2025. Na última negociação, os clubes venderam os direitos para Globo e Turner em 2016, três anos antes do início do contrato de 2019.
Outra questão é como será a gestão do campeonato em si. Quando formaram a Liga, os clubes informaram que assumiriam toda a organização da competição, tirando-a da CBF. Mas até agora não há uma estruturação da empresa da Liga com este objetivo. A operação do campeonato, assim como as transmissões de jogos, afetam diretamente o valor a ser pedido pelos seus direitos e as receitas dos clubes.