O canhão da Colina
Como a insistência do pai e um toque do ex-treinador fizeram Figueiredo, do Vasco, aprimorar o chute de perna direita e colecionar bonitos gols na Série B
Autor de três bonitos gols nesta Série B, o último na vitória sobre o Náutico na sexta-feira passada, Figueiredo é o segundo jogador do Vasco que arrisca mais finalizações na competição - perde apenas para o centroavante Raniel. Vê-lo em campo é ter a certeza de que em algum momento, de qualquer lugar do campo, o atacante de 21 anos vai experimentar um chute ao gol. Mas nem sempre foi assim.
- Eu falava para ele: "Cara, você tem que explorar isso, você bate muito bem. Tem que acreditar no seu potencial".
Wagner Rangel dos Santos, o Seu Wagner, pai de Figueiredo, é e sempre foi o maior incentivador de tudo que diz respeito à carreira do filho. Isso inclui a insistência para que ele, desde pequeno, arriscasse os chutes de fora da área. O atacante está à disposição do técnico Jorginho para o jogo desta quarta, contra o Cruzeiro, às 21h (de Brasília), no Mineirão.
Figueiredo joga bola desde os três anos de idade e foi franzino na maior parte da vida, apesar do canhão na perna direita. Passou a ganhar porte físico já na adolescência - os anos de natação ajudaram nisso. Hoje Figueiredo é um atacante de muita força, a ponto de ser chamado de "cavalo" por Jorginho, logo na coletiva de apresentação do treinador.
Mas a confiança e a potência no chute de média e longa distância são a carta na manga desse jovem jogador, que este ano subiu em definitivo para o time de cima. Os três gols marcados na Série B, seus três primeiros como profissional, foram pancadas de fora da área. É o Canhão da Colina.
O primeiro foi na vitória por 1 a 0 sobre o Bahia, no primeiro turno, quando recebeu a bola rolada de Nenê na falta e estufou a rede do goleiro Danilo Fernandes. A bola atingiu 106 km/h. No segundo, uma cobrança de falta direta contra o Náutico, o chute chegou a incríveis 113 km/h. Já na última sexta, em São Januário, o gol de Figueiredo saiu com bola rolando: uma pancada seca que morreu no ângulo.
- O segredo é o trabalho - afirmou o jogador do Vasco, ao ser perguntado sobre a formula para os golaços. - Venho trabalhando forte no dia a dia. Acredito que seja o trabalho o responsável.
Para chegar a esse nível, Figueiredo precisou ouvir muitos gritos do Seu Wagner na arquibancada, ainda nos tempos de escolinha em Niterói; e, mais tarde, na base do Botafogo. Ele chegou ao Vasco apenas aos 16 anos de idade, depois de ser dispensado no rival.
"Você só faz o gol se experimentar, cara. Tem que continuar chutando, é o dom dele, ele tem esse dom desde criança", afirma o pai do atacante em conversa com o ge.
- Ele sempre teve um chute forte. É uma pancada em linha reta, não dá tempo de o goleiro chegar na bola. Às vezes, quando ele chega no bico da área, em vez de tocar para o lado, tem que chutar. A gente só vai saber o resultado se chutar. Graças a Deus ele está pegando esse vício de abrir e chutar - acrescenta o pai.
E Figueiredo, de fato, hoje chuta de qualquer lugar. Como esquecer, por exemplo, o golaço marcado contra o São Paulo na Copinha deste ano, quando ele recebeu na intermediária e, sem deixar a bola cair, tocou por cobertura? Veja:
Ou no empate sem gols com o Sport no primeiro turno, no Maracanã, quando ele quase inaugurou o placar com um chutaço do meio da rua. Maílson, no susto, fez grande defesa. Assista:
O CONSELHO DE ZÉ RICARDO
Figueiredo vive até hoje com os pais numa casa em Santa Rosa, bairro da Zona Sul de Niterói. Sai todos os dias 1h30 antes do horário do treino para não correr o risco de chegar atrasado ao CT Moacyr Barbosa, que fica próximo à Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Ele tem uma filha, a pequena Maria, que completou três anos em março.
O atacante foi lançado no profissional num momento conturbado no ano passado, mas recuperou a confiança ao ser artilheiro da Copinha deste ano e cresceu no time de cima sob o comando de Zé Ricardo. Foi ele o responsável por colocar Figueiredo para cobrar faltas no Vasco. Ele nunca havia treinado cobranças de falta, nem mesmo na base.
- Eu vi jogos da copinha e observei que ele chutava forte e eu queria uma alternativa pra batida de falta de longa distância. Só tinha o Nenê como cobrador de falta. Perguntei se ele batia falta, ele disse que não. Eu falei que via potencial nele e ele se colocou disponível para treinar - conta ao ge Zé Ricardo, hoje técnico do Shimizu S-Pulse, do Japão.
Zé Ricardo lembra que, no início, Figueiredo perdia tempo demais buscando uma batida mais colocada, com mais precisão.
- Eu pedi para que, de início, ele tentasse acertar o meio do gol mesmo, acertar a batida. A bola é leve e varia muito. Acertando o meio com potência já ia gerar algum tipo de perigo. Depois, pra bola não subir muito, orientei a aproximar mais o pé de apoio da bola, equilibrar o corpo, com o peso pra frente.. e assim fomos treinando, sempre com a ajuda do Nenê, que o estimulou bastante - explica o treinador, que deixou o Vasco no primeiro turno da Série B.
"Depois de bastante treino, colocamos em prática. Ele estava um pouco preocupado por não estar fazendo gols, mas nós demos tranquilidade e foi questão de tempo", conclui.
Figueiredo deve começar no banco na partida contra o Cruzeiro nesta quarta-feira, com bola rolando às 21h (de Brasília), no Mineirão.