Na tabela de artilharia do primeiro turno do Brasileirão 2020, eles estão ali todos juntinhos, linha após linha, mas aqui eles aparecem espalhados, separados de acordo com o mérito que tiveram em cada finalização. É bem mais fácil fazer um gol da pequena área do que de mais longe, assim como também é mais fácil vencer o goleiro se você estiver sozinho em um contra-ataque em velocidade do que se tiver de superar vários adversários posicionados à frente do goleiro. A partir dos dados de expectativa de gols (xG) calculados pelo economista Bruno Imaizumi, o Espião Estatístico* mostra a eficiência e o poder de decisão dos principais goleadores do campeonato após 182 jogos disputados.
Thiago Galhardo (Internacional)
Destaque disparado do primeiro turno, o atacante acerta o gol uma vez a cada duas tentativas. Grosso modo, de cada seis finalizações que faz, três vão no gol e uma entra. Quando se conta as assistências, de cada dez gols da equipe gaúcha no Brasileirão, sete têm participação dele. Foram 15 gols, dez em casa e cinco quando visitante. Foram cinco gols de pênalti. E ainda deu cinco assistências. Foram 1.326 minutos em campo em 18 jogos, um gol a cada 88 minutos. Dos 15 gols que marcou, em nove o time estava empatando e passou a vencer sendo que em sete ele fez o primeiro gol do jogo. É isso que torna o jogador decisivo. Para cada gol que colocou o Inter à frente do placar, Galhardo ganhou dois pontos, os mesmos dois que o Inter passou a contar a mais na classificação do campeonato graças ao gol dele. Mesmo que a equipe sofresse um gol de empate em seguida, esses dois pontos continuariam a ser contados para ele. Quando o Colorado estava perdendo por um gol, e Galhardo empatou o jogo, como na partida contra o Grêmio, ele conquistou mais um ponto decisivo, assim como o Internacional teve a mais na classificação do Brasileirão. Quatro dos gols foram marcados quando o Inter já vencia, o que não vale pontuação como decisivo. Galhardo fechou o primeiro turno com 19 pontos decisivos.
Marinho (Santos)
O atacante do Santos participou de 16 jogos e ficou 1.438 minutos em campo, com um gol marcado a cada 120 minutos. Fez 12 gols no primeiro turno, sendo quatro de pênalti e um de falta direta. Em seis deles, o Santos estava empatando, e Marinho colocou a equipe à frente, o que lhe valeu 12 pontos como decisivo. Com mais três gols quando o time perdia por um gol de diferença, acumulou 15 pontos decisivos, e só Galhardo conseguiu mais. Segundo jogador mais decisivo, também foi o segundo mais eficiente, com maior diferença entre o que se esperava que ele fizesse pelas características (xG) das finalizações que ele fez e o que ele realmente fez. A colaboração dele não parou por aí: ainda fez cinco assistências para gol.
Pedro (Flamengo)
Esteve em campo por 1.121 minutos em 17 jogos (seis deles saindo do banco de reservas) e marcou dez gols, nenhum de pênalti, um a cada 112 minutos. Não deu nenhuma assistência no Brasileirão. O Flamengo estava empatando quando Pedro marcou cinco de seus dez gols e perdendo por um gol em outros três totalizando 13 pontos como decisivo.
Cano (Vasco)
Foram 15 jogos e 1.379 minutos em campo com sete gols para o Vasco, um a cada 197 minutos. Fez um gol de pênalti, e o Vasco empatava quando o argentino fez cinco gols e perdia por um gol quando fez outro. Só um de seus gols não são aqui considerados decisivos, o que evidencia sua importância para a equipe e todo o destaque que recebeu no primeiro turno. Acumulou 11 pontos decisivos.
O quadro abaixo mostra como estava a distribuição dos artilheiros ao final do primeiro turno do ano passado, uma opção para quem quiser comparar a importância de diferentes jogadores em cada edição. E para nos lembrar de como o mundo dá voltas: Gabigol, do Flamengo, era o mestre decisivo ao fim do primeiro turno de 2019, mas agora está lesionado e aparece no gráfico com eficiência negativa. Como a bola entrou pouco, ao mesmo tempo pontuou pouco positivamente e muito negativamente a cada chance desperdiçada. Não deixa de ser ilustrativo que de uma edição para a outra alguém com tamanho talento deixe de ser exemplo máximo positivo para figurar abaixo da média.
Metodologia*
O economista Bruno Imaizumi explica que o modelo de "Expectativa de Gols" (xG, do inglês Expected Goals), é uma métrica consolidada no mundo de análise de dados. Leva em consideração a eficiência média dos jogadores dependendo da distância, do ângulo, do tipo de finalização (se de cabeça, com a perna direita ou com a esquerda ou outra parte do corpo) e também a origem do lance de ataque (se um contra-ataque, um lateral, um cruzamento ou uma falta levantada, já que é mais fácil fazer um gol de pênalti do que em uma cobrança de falta direta). O fator casa também tem peso no cálculo.
O cálculo de eficiência que aparece no gráfico é feito a partir do xG. De cada cem pênaltis cobrados, em média 75% viram gol. Chegamos a esse valor comparando pouco mais de 69 mil finalizações cadastradas pelo Espião Estatístico nas edições de 2013 a 2020 do Campeonato Brasileiro. Assim, a cada cobrança há uma expectativa de 75% de que a bola entre no gol (0,75 xG). Quando o cobrador faz o gol, ele foi 0,25 xG acima da média, portanto eficiente em 0,25 do gol que conseguiu. A soma da eficiência acima da expectativa é o que resulta na altura em que cada atleta é representado nos gráficos. Mas se ele perde o pênalti, ele foi pior do que a média de 75% e então ele perde 0,75 xG.