Raquel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE), no dia 17 de novembro de 1910, há exatos 102 anos. Ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, fugindo da seca que assolava a região. Autora de obras consagradas como \"O quinze\" e \"O memorial de Maria Moura\", Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, no dia 4 de novembro de 1977, onde passou a ocupar a cadeira de número 5.
Raquel estreou em jornal no ano de 1927. Durante sua carreira, nunca escondeu seu amor pelo Vasco e escrever um texto explicando como surgiu a paixão pelo Gigante:
Porque sou vascaína
Como é que eu sou vascaína? Não sei. Amor é assim: você vai atravessando a rua e de repente vê um cara e ele te olha, você olha para ele e pronto: apaixonou!
Comigo e o Vasco também foi assim. Mocinha, mocinha, desembarquei do meu lta, vindo do Ceará.
Era sábado, no dia seguinte me levaram para assistir a um jogo. Vasco e Fluminense? Acho que sim. Meu tio, vascaíno, me explicou que o Vasco era uma das mais puras expressões do Rio - o português-carioca, aqui nascido ou aclimado, nesta cidade que eles fundaram e que, já antes de D. João VI, amavam apaixonadamente. Foi um jogo difícil, mas o Vasco venceu. Terá sido aquela vitória suada que me conquistou? Ou a celebração, a gente num carro de capota arriada (ainda havia disso) atravessando a Avenida, cantando e soltando vivas? Não posso explicar. Como já disse, não se explica: acontece.
E desde aquele primeiro jogo, nunca mais deixei o Vasco. Em casa o marido era Fluminense - erro dele!
E por mais que Zé Lins do Rego, o amigo fraterno, fizesse tudo para me arrastar ao Flamengo - até pela imprensa, no Jornal dos Esportes, eu ficava inabalável. Edilberto Coutinho sabe disso.
Dai para cá, nestes longos anos, tivemos de tudo - vitórias, anos magros, campeonatos (o Expresso da Vitória) lembram? E quando a concentração era na Praia do Barão, na Ilha do Governador, nós morávamos lá, a gente se visitava. E nas vezes em que o time chegava, Ademir, Barbosa, os outros, era a glória do quarteirão!
Lembro até um episódio dessa época - foi na década de 50? - os anais do clube dirão. A gente já ganhara o campeonato, mas teve um jogo de arremate; era com o Olaria, e lá fomos nós, sacramentar o título na tribuna de honra. Mas não sei se os nossos rapazes tinham comemorado demais na antecipação segura, sei que a nossa situação foi ficando incomoda: o Olaria estava um brilho só. Não é que o título perigasse, mas podia ser um vexame. E o mais aflito era o presidente do Olaria, o hospedeiro, suando no seu terno branco, constrangidíssimo. A sorte é que de repente mudou, e salvou-se a honra. Todos respiramos - mas o susto foi grande.
Na noite de festa em que me deram a carteirinha de sócio honorário, excusei-me de fazer discurso, ao recebê-la, mas fiz uma promessa: Juro que jamais a rasgarei em momentos de desespero! A promessa foi cumprida; e ainda guardo a minha carteirinha, linda, entre os meus documentos mais preciosos.
Viva o Vasco!
Em 2003, aos 92 anos, Rachel de Queiroz faleceu. Segundo a família, ela sofreu um acidente vascular cerebral e morreu enquanto dormia em casa, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. O velório foi realizado na sede da ABL, no Centro do Rio.