A recente conquista, pelo Vasco, do título estadual de 2015, vem servindo para marcar datas importantes da história do clube. Há 70 anos os vascaínos festejavam o primeiro título carioca do Expresso da Vitória, time que se tornou célebre na história do futebol nacional (num período em que não havia ainda campeonato brasileiro), por ter colecionado troféus e por ter sido o primeiro a ganhar um título no exterior, o Sul-Americano de Clubes Campeões, no Chile, em 1948 (torneio precursor da Copa Libertadores da América), além de ter sido base da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950.
Antes disso, há 100 anos, em novembro de 1915, o clube, que havia sido fundado em 1898 para a prática do remo, dava início às atividades de seu Departamento de Futebol, começando na Terceira Divisão, até chegar à Primeira em 1923, quando foi campeão no ano de sua estreia com um elenco formado por atletas negros e de classes sociais mais baixas, não aceitos nos chamados “grandes” da época, como Flamengo, Fluminense, Botafogo e América, favoráveis a um futebol elitizado e de jovens brancos filhos das famílias mais ricas da cidade. Em 1965, ano do Quarto Centenário de fundação do Rio, o Vasco ganhou o torneio internacional de comemoração dessa data e também a Taça Guanabara, que à época era independente do Campeonato Carioca e servia para apontar o representante do Rio na Taça Brasil, o campeonato nacional daquele tempo.
A história do Expresso tem início em 1942, quando foi eleito para a presidência em São Januário o gaúcho Cyro Aranha, a quem é atribuído o slogan “Enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal”. Desde 1936, a taça de campeão carioca não ia para a sede vascaína, e Aranha começou um trabalho de retomada do clube. Por iniciativa dele, chegaram ao Vasco novatos como o goleiro Barbosa, o atacante Ademir Meneses, os meias Jair, Lelé, Isaías, Ely e Djalma e o ponta Chico, sob o comando do técnico uruguaio Ondino Viera. Os resultados começaram a surgir em 1944, no Torneio Relâmpago (pentagonal diusputado entre 1943 e 1946 e que incluía também Flamengo, Fluminense, Botafogo e América); Torneio Início (de abertura da temporada, realizado num dia só e com partidas mais curtas); e Torneio Municipal (disputado em turno único, antes do Campeonato Carioca, que era em dois turnos e em pontos corridos). O Carioca de 1944, porém, o elenco perdeu para o Flamengo, que chegou ao tricampeonato.
Em 1945, o novo time vascaíno mostrou sua força. Por causa dos seguidos triunfos, alguns com goleadas, ganhou num programa de rádio o apelido de Expresso da Vitória, como se fosse um trem veloz e que não parava em estação (adversário) algum. Antes mesmo do Carioca, o time de São Januário comemorou os bicampeonatos dos Torneios Início e Municipal. Ao erguer também a taça do Carioca, chegou a uma tríplice coroa que não ocorria no Rio há mais de 20 anos. No campeonato, propriamente dito, aplicou goleadas como 6 a 2 no Bangu; 5 a 1 no Bangu e no São Cristóvão; 5 a 0 no Canto do Rio e em especial, 9 a 0 no Bonsucesso, a maior do Carioca. Chegou ao título com uma rodada de antecedência, com 4 a 0 sobre o Madureira. O time-base de Ondino Viera formava com Rodrigues, Augusto e Rafanelli; Berascochea, Eli e Argemiro; Djalma (Ademir), Lelé, Isaías, Jair e Chico. Foi o primeiro do país a usar o esquema 4-2-4, de grande influência no Brasil e no Uruguai naquele período.
Em 1946, sem Ademir Menezes, que foi para o Fluminense ajudar o tricolor a ser campeão carioca, o Expresso levantou as taças dos Torneios Relâmpago e Municipal, em que estreava Moacyr Barbosa, maior goleiro da história vascaína. Em 1947, já dirigido por Flávio Costa, a equipe foi tetra do Torneio Municipal e campeã carioca invicta novamente. No ano de 1948, sem conquistas domésticas, o grupo, que já contava novamente com Ademir, foi campeão sul-americano no Chile, invicto, com quatro vitórias e dois empates em seis partidas, enfrentando Litoral (Bolívia), Nacional (Uruguai), Municipal (Peru), Emelec (Equador), Colo-Colo (Chile) e River Plate (Argentina).
Na temporada seguinte, marcou 84 gols e tomou 24 para ser novamente campeão invicto, com 18 triunfos e dois empates. Em 1950, num campeonato que começou no segundo semestre após a Copa do Mundo e só terminu em janeiro, o Vasco — ainda dirigido por Flávio Costa — foi bicampeão carioca (não invicto), ganhando do América por 2 a 1 na final, no Maracanã. Assim, se tornou o primeiro campeão naquele estádio, motivo pelo qual o clube reivindica hoje o direito de sempre ter sua torcida à direita das tribunas de honra e de imprensa. Em 1951, o grupo passou em branco, mas em 1952, reconquistou o Carioca, último daquela geração.
O Expresso fechou sua participação na história do clube em 1953, ao ganhar o troféu da Copa Internacional Rivadávia Corrêa Meyer, que sucedeu as edições da Copa Rio de 1951 e 1952, ganhas por Fluminense e Palmeiras, respectivamente. Do octogonal de 1953, organizado pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD, antecessora da CBF) e que teve chaves no Maracanã e no Pacaembu, tomaram parte times como Botafogo, Corinthians, São Paulo, Hibernian (Escócia), Olimpia (Paraguai) e Sporting (Portugal). Na final, em dois jogos, os vascaínos bateram o São Paulo por 1 a 0 e 2 a 1, no que na ocasião era visto como um precursor do Mundial de Clubes da Fifa.
Deste famoso elenco não esquecido pelos que os viram atuar e que habita a imaginação de gerações mais recentes de torcedores, fazem parte, por exemplo, Ademir, Augusto, Barbosa, Berascochea, Chico, Danilo, Ely, Friaça, Heleno, Ipojucan, Jair, Jorge, Lelé, Maneca e Rafagnelli, entre outros sem os quais o Vasco talvez não tivesse uma história tão rica de conquistas.