Um ano atrás, em 2 de setembro de 2022, o Vasco assinava o contrato mais importante de sua história. Atolado em dívidas por conta de uma sequência de más administrações, o clube vendeu 70% das ações do futebol para a empresa 777 Partners. Da esperança dos investimentos à frustração com os resultados, o Cruz-Maltino vive dias difíceis, sob a pressão para evitar o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Foram meses de negociação até o início do trabalho efetivo dos norte-americanos. O presidente do Vasco, Jorge Salgado, disse ter certeza de que se travava da proposta melhor elaborada e mais vantajosa financeiramente. A aprovação dos poderes internos garantiu uma paz política momentânea, até porque a 777 colocou os salários em dia, renegociou e pagou dívidas, injetando R$ 120 milhões logo de cara.
No total, o aporte estimado é de R$ 1.4 bilhões nos próximos quatro anos. Afinal, as partes dividiram a grana em R$ 700 milhões para o futebol e R$ 700 milhões para credores. Somente no início da temporada, mais de R$ 100 milhões saíram do bolso da SAF para a compra de novos jogadores, um número sem precedente da história do clube.
No entanto, vários acordos não foram quitados, como o do lateral Puma e do zagueiro Capasso. Dessa forma, os respectivos times de origem foram à Fifa para cobrar. A gestão culpou o baixo “fluxo de caixa” do momento, e até agora não houve solução para os casos.
INÍCIO ANIMADOR VS. QUEDA
Esportivamente, tudo parecia funcionar até março. Isso porque, o time subiu à Série A e deu boas respostas no Campeonato Carioca, vencendo clássicos contra Botafogo e Flamengo. Contudo, pouco a pouco, a situação saiu do controle com a soma das eliminações na Copa do Brasil e a falta de vitórias no Brasileirão. Os jogadores perderam a confiança, a bola parou de entrar e o Vasco chegou a ocupar a último lugar na tabela.
Com isso, surgiram as críticas de falta de apoio e de diálogo por parte dos executivos. Josh Wander e sua comitiva, por exemplo, só vieram ao Rio uma vez em 2023. A torcida passou a protestar, por sinal, na própria sede administrativa da empresa no Rio, além de pichar os muros de São Januário. Um dos principais alvos era o CEO da SAF, Luiz Mello, antigo sócio e torcedor do Flamengo e sem boa relação interna. Além disso, o diretor Paulo Bracks admitiu os erros na montagem do elenco e prometeu corrigi-las.
A manutenção do estádio cruz-maltino, em relação a gramados, arquibancada e limpeza, e a modernização mais ampla do CT Moacyr Barbosa também são questões relevantes que tiveram pouquíssima ação. Ambos, por contrato, são responsabilidade da 777 Partners.
Números do Vasco SAF em um ano:
R$ 300 milhões em orçamento
26 contratações (10 por compras)
4 vendas (+6 jogadores emprestados)
4 vitórias em 20 jogos no Brasileirão
4 treinadores (Jorginho, Barbieri, William Batista (interino) e Ramón Díaz)
POLÍTICA SE AGITA COM ELEIÇÕES
À medida em que as eleições institucionais se aproximam, as cobranças se tornam cada vez mais duras. Afinal, nenhum dos candidatos que se apresentaram é favorável ao modelo da 777 Partners e defendem que o clube não deveria ter sido vendido. Por isso, atacam o presidente Salgado por ter topado alguns detalhes do acordo. A empresa norte-americana, por exemplo, recebe 89% em cima da venda produto oficial.
No futebol, a reta final da janela de transferências trouxe um um ar de otimismo. Afinal, as últimas contratações agradaram (Medel, Praxedes, Paulinho e Vegetti) e vêm se encaixando no time de Ramón Díaz, experiente técnico argentino que está com moral. A principal estrela, aliás, ainda vai estrear. Após aprimorar a forma física, o francês Dimitri Payet estreia neste domingo, contra o Bahia, na Arena Fonte Nova.
E no âmbito da direção, a troca de Mello por Lúcio Barbosa também funcionou. Ex-diretor financeiro da empresa, o novo CEO é vascaíno e trabalhou ativamente na liberação de recursos para investimentos, em suas primeiras semanas, além de atuar na liberação judicial de São Januário para partidas com público. Com um discurso de união entre SAF e Vasco, vem sendo bastante elogiado por acalmar os bastidores e pode ser uma peça importante para a mudança que o clube precisava neste momento.