Ferreira Gullar é o ocupante atual da cadeira número 37 da Academia Brasileira de Letras. Dono de vasta e reconhecida obra poética, Gullar era um ferrenho peladeiro na infância. Foi nessa época, ainda menino, que acabou escolhendo o Vasco. A paixão pelo clube de São Januário nasceu de uma revista carioca de futebol que comprou. Mais tarde, já tendo optado pelas letras ao invés da bola, se mudou para o Rio de Janeiro na década de 1950 e acompanhou das arquibancadas do Maracanã o auge do mágico Expresso da Vitória que assombrou o futebol carioca. O GloboEsporte.com conversou com o poeta maranhense sobre o Vasco e também sobre a relação entre a poesia e o futebol.
Nascido há 84 anos em São Luiz, capital do Maranhão com o nome de José Ribamar Ferreira, o poeta tem mais de 15 livros de poesia publicados, vários ensaios, antologias e trabalhos em jornal e televisão. Neto de português e filho de Alzira Goulart e Newton Ferreira, a paixão pelo futebol nasceu por influência do pai que era craque, centroavante da seleção estadual do Maranhão, e o levava para ver as partidas de futebol. Nessa época, Ferreira jogou nas categorias de base do Sampaio Correa e adotou o Vasco da Gama como time do coração por um acaso do destino.
- Isso foi por acaso, quando eu fiz um time de botão para mim. Nessa época tinha uma revista do Rio, era uma revista semanal de futebol, mas eu não lembro o nome, que a cada semana publicava um time, com a fotografia dos jogadores, o nome e tal. E no dia que eu fui comprar a revista era o Vasco. Aí eu levei a revista para casa e virei Vasco. E aí eu passei a me interessar pelo Vasco, pelas coisas, sabia de cor a escala dos jogadores. E foi assim.
Companheiro de peladas do craque são-paulino Canhoteiro, para muitos um Garrincha pelo lado esquerdo, Ferreira acabou largando o futebol por conta de uma lesão. Já estava apaixonado pelas letras então, e foi buscando mais oportunidades no jornalismo e na literatura que se mudou para o Rio de Janeiro em 1951, onde pode acompanhar as façanhas do Expresso da Vitória ao vivo.
- Quando cheguei ao Rio fui algumas vezes ao Maracanã com amigos e tal, mas não virei frequentador do futebol porque o jornalismo e também o meu interesse pela literatura e as artes plásticas me ocupavam o tempo todo. Mas eu ia esporadicamente, uma vez ou outra. Depois passei a ouvir pelo rádio e a ver pela televisão, e eu vejo até hoje os jogos e tal.
Satisfeito com a volta do Vasco a primeira divisão, o poeta acompanha o cruzmaltino, mas avisa que não alimenta falsas esperanças para o Brasileirão.
- Acho que isso é de fato importante para o torcedor do Vasco, é importante para o Vasco como time e instituição. É a aspiração de todos aqueles que descem à segunda. Nesse sentido eu acho justo, até o fato dele ter descido terminou estimulando o time e a própria instituição Vasco da Gama a levar a coisa mais a sério e sair daquela situação e fazer jus a sua história. Vamos ver se o Vasco melhora, eu continuo (torcendo). Eu falo que está mal porque realmente não gosto de me iludir, mas eu tenho confiança que vai ressuscitar e que está melhorando. Só o fato de estar na primeira divisão já é uma vitória importante para nós vascaínos.
O GOL (Ferreira Gullar, 2006)
A esfera desce
do espaço
veloz
ele a apara
no peito
e a pára
no ar
depois
com o joelho
a dispõe a meia altura
onde
iluminada
a esfera
espera
o chute que
num relâmpago
a dispara
na direção
do nosso
coração.