Por Rodrigo Capelo
Meio da tabela, sem expectativa de classificação para a Libertadores, nem risco de rebaixamento para a segunda divisão. A realidade do Vasco dentro de campo nesta temporada, com alguma licença poética, tem um pouco a ver com o que a diretoria cruzmaltina tem conseguido fora das quatro linhas em termos de grana.
Em resumo, a direção de Alexandre Campello está abaixo do que pretendia em termos de arrecadação – na área comercial e nas transferências de jogadores, principalmente. Mas, como tem administrado o clube com o freio de mão puxado nas despesas, conseguiu chegar até setembro com um deficit razoavelmente baixo e um aumento das dívidas menos preocupante do que poderia ser.
A base para a análise é o balancete publicado pelo clube há poucos dias, referente ao terceiro trimestre deste ano, que compreende o período entre janeiro e setembro. Esta é a primeira vez, na história do clube, que o Vasco coloca balancetes parciais à disposição da torcida em seu site.
Para entender como anda a arrecadação vascaína, comparamos os valores que tinham sido projetados pelo departamento financeiro do clube, em seu orçamento, com os que foram efetivamente realizados.
Na televisão, a diretoria acredita que está aquém do que poderia arrecadar com pay-per-view. Além disso, situação comum a outros clubes, teve as receitas concentradas no segundo semestre em razão da mudança no fluxo de pagamento das emissoras. É provável que, com R$ 70 milhões até setembro, consiga chegar a dezembro muito próximo dos R$ 121 milhões esperados para o ano inteiro
Nos patrocínios, está o maior problema. O Vasco assinou com o BMG e ocupou a principal propriedade de seu uniforme. O acordo rendeu R$ 8 milhões adiantados – R$ 4 milhões referentes a 2019, outros R$ 4 milhões antecipados de 2020. A cota só aumentará daqui em diante se torcedores aderirem às contas bancárias do patrocinador
Nas bilheterias e nos sócios, os valores são baixos se comparados aos de adversários diretos, mas estão próximos do que havia sido orçado para a temporada. A projeção na venda de ingressos para toda a temporada está praticamente batida. Nas associações, faltam cerca de R$ 10 milhões para bater a meta. Será difícil com a fase mambembe do futebol, mas o buraco não será grande
Nas transferências de jogadores, está outro grande problema. O Vasco fez uma temporada decente no ano passado justamente porque vendeu Paulinho para o Bayer Leverkusen. Neste ano, não houve nenhuma negociação de grande porte. Mesmo com uma previsão realista, de R$ 30 milhões, o clube passou pelas duas janelas de transferências sem chegar ao que considerava possível
Por que há tantos salários atrasados?
Vascaínos demonstram ao longo de toda a temporada enorme dificuldade em manter salários em dia. Este é um dos principais riscos que as finanças podem oferecer ao desempenho esportivo, pois atrasos afetam as vidas de jogadores e comissão técnica, geram pressão sobre a direção, enfim, causam dores de cabeça em todos os envolvidos.
O balancete até setembro mostra que, nesses nove meses, o Vasco teve um prejuízo de R$ 14 milhões. Não chega a dar susto. Na verdade, uma vez que as receitas estão abaixo da expectativa, ter registrado um deficit razoavelmente baixo mostra que a direção cruzmaltina tem sido bem-sucedida ao manter despesas sob controle. O quadro poderia ser muito pior se houvesse outra mentalidade na condução.
Para entender por que os números financeiros dizem uma coisa, mas a realidade em campo aponta para outra, com salários frequentemente atrasados, precisamos ir um pouco além do balancete.
Em primeiro lugar, o Vasco contava com uma arrecadação mais alta justamente para que "sobrasse" dinheiro para pagar dívidas. Visto que patrocínios e vendas de jogadores estão abaixo do orçado, isso deixa as contas justas. Honrar com os pagamentos do elenco do futebol profissional ao mesmo tempo em que se pagam acordos com credores é um dilema duríssimo nessas condições.
Em segundo, precisamos lembrar que a receita de televisão foi quase toda antecipada pela administração de Eurico Miranda. Isso faz com que R$ 70 milhões apareçam no balancete como arrecadação de 2019, mas na prática essa grana vai direto para as contas bancárias de quem emprestou dinheiro ao Vasco e pegou o contrato de tevê como garantia.
É por isso que recorremos a mais dados para tornar o retrato mais fidedigno. No caso, o acompanhamento das dívidas é útil. Entre dezembro do ano passado e setembro deste, o Vasco aumentou o seu endividamento em R$ 30 milhões. De novo, poderia ser pior se não fosse o controle das despesas, mas ainda está mau para um clube que está tentando se reerguer. Alguma coisa precisa acontecer entre outubro e dezembro para dar uma força ao vascaíno.