Analisando taticamente a partida entre Vasco Vs Flamengo, no último sábado, e o futebol brasileiro hoje, vemos a maioria dos times jogando no falso 4-3-3, o que na verdade é um 4-5-1. São quatro defensores: dois zagueiros e dois laterais; cinco no meio de campo: geralmente três volantes e um armador e um meia aberto. Salve raríssimas exceções quando times jogam com dois volantes fixos, um armador centralizado, o famoso 10 clássico, e dois meias abertos pelas pontas.
Mas a maioria o que faz? Colocam TODOS, eu disse TODOS os meio de campo para marcar e com isso os armadores viram os....laterais. Sim, os laterais hoje possuem liberdade para atacar como pontas e são cobrados inclusive pela torcida de armarem as jogadas a todo instante.
Por que não jogar com aquele 10 clássico no melhor estilo antigo?
Os treinadores do futebol brasileiro estão acabando com os chamados ponta de lança. Hoje o 10 clássico tem que marcar, dar carrinho, dar combate, acompanhar a subida do lateral adversário. Então, haja fôlego para mesmo depois disso, armarem as jogadas.
Será que ainda existem espaços no futebol para Paulo Henrique Ganso, Douglas e Marlone?
Tomando como exemplo o número 31 vascaíno, Marlone: na base, sempre muito elogiado por ser o cérebro da equipe, armava, partia pra dentro, fazia gols de placa partida após partida. No profissional, vem arcando com funções táticas defensivas. Com isso acaba-se o futebol do meio campista de função mais pensante do futebol, que é o ponta de lança. Posição de Zinedine Zidane, Zico e tantos outros da era romântica do futebol.
Mas hoje, quem não marcar, não joga. É sacado do time. E Marlone está sacrificando o seu melhor futebol para, justamente, marcar, ser taticamente útil.
Quem não se lembra do Toró quando surgiu no Fluminense? Era chamado assim por ser chuva de gols, jogador mais promissor daquela safra, um craque. Mas foi colocado pra marcar, marcar e cada vez mais marcar. Hoje o chuva de gols é chuva de carrinhos, faltas cometidas e marcações individuais em cima do jogador mais criativo adversário. E por onde anda o tal chuva de gols? Desapareceu, tornou-se um jogador comum.
Pois é... Marlone ou jogador algum aguenta ou possui fôlego pra marcar, defender, e ainda assim disparar ao ataque em busca de armação de jogadas. E o 10 clássico vai se tornando o 8, as vezes até o 5. Em alguns casos de torna o 2 ou o 6 de tanto que tem que voltar para marcar. Isto ficou ainda mais nítido na partida do último sábado, contra o Flamengo.
Será que o futebol não há mais espaço para jogadores como Marlone? Ou deveríamos é procurar não dar espaços para treinadores que transformam o futebol brasileiro em 14° potência do futebol?
Onde estão os ponta de lança no futebol atual, responsáveis pelas armações quase todas de jogadas dos times? Marlone sempre jogou assim na base, solto, armando, partindo pra dentro, e agora, no profissional, vem sendo sacrificado pelo esquema tático, ou seja, tem que marcar, recompor, voltar demais. Até mesmo PH Ganso vem sendo duramente criticado por não ter funções defensivas. É o futebol brasileiro atual. Treinadores estão acabando com ele. E vemos promessas e mais promessas sumirem da mesma forma que aparecem. Relâmpago.
Recentemente, o técnico Ney Franco, do São Paulo, deixou o talentoso Lucas solto em campo, sem obrigação alguma de marcar. Resultado: ele acabou com o jogo!
Até quando Marlone terá que sacrificar o seu futebol promissor para marcar e ser útil taticamente? Até tornar-se um volante marcador, trombador e fazedor de faltas? NÃO, por favor! Deixem o menino russo jogar e nos brindar com o seu belo futebol, liso, leve e solto!
Texto escrito pelo jornalista Thiago Guimarães.