A torcida do Vasco não vê a hora do reencontro. Em menos de um mês, ela vai matar saudade de um ídolo que marcou época entre 1995 e 2001 por seu estilo sóbrio e elegante. Juninho Pernambucano volta ao clube que o projetou para o futebol depois de dez anos. E volta com um contrato inédito: ganhando R$ 600,00. Será a primeira vez que o Reizinho, apelido oriundo das arquibancadas, pisará em São Januário desde a sua polêmica transferência para o Lyon, da França. Entre tapas e beijos com o ex-presidente Eurico Miranda, o meia decidiu encerrar seu ciclo na Colina.
Durou uma década a separação forçada. Seu último gol pelo Vasco foi na final da Copa João Havelange, contra o São Caetano, no Maracanã: 3 a 1 o 21º em 111 partidas. Seguiu carreira na Europa, defendendo o Lyon, pelo qual sagrou-se hexacampeão nacional. Disputou a Copa do Mundo de 2006 e há duas temporadas aventurou-se pelo Al-Gharafa, do Catar. Aos 36 anos, faz juras de amor ao Vasco e decide voltar ao Brasil. Volta porque está perto do adeus e porque a família (mulher e duas filhas) o pressionava - incomodada com as restrições da religião muçulmana. Milionário, recebia na casa dos 700 mil euros, mas cansou.
Nesta entrevista ao iG, Juninho esclarece os questionamentos sobre o seu contrato, avisa, em outras palavras, que não quer roubar o Vasco, avalia seu condicionamento e não faz planos para a aposentadoria. Duro nas respostas, evita comentar sobre o futuro como executivo no clube, pois acha que já o estão aposentando. Apesar dos desentendimentos com Eurico, conta que retornaria mesmo se o ex-dirigente estivesse ainda no comando. Volto pelo Vasco, pela instituição.
Ao lado de Roberto Dinamite, Juninho Pernambucano posa com camisa 8 do Vasco
iG: As pessoas ainda duvidam do seu contrato. Acreditam que existe alguma bonificação por trás. Pode esclarecer como é este acordo com o Vasco?
Juninho Pernambucano: Natural que se duvide. Eu também duvidaria se ouvisse isto, mas foi uma opção minha. O valor do meu contrato é de 600 reais e só tenho bônus se o Vasco ganhar um título brasileiro ou da Sul-Americana ou se ficar entre os quatro do Brasileiro. Fora isto, continuo ganhando os 600 reais. Quero deixar claro que o Vasco me fez uma ótima proposta, mas recusei. Quero assim porque caso não vença nada, pelo menos o Vasco não terá prejuízo econômico. Eu não tenho contrato com nenhuma empresa e acho que não seria justo vir ganhando tanto se não der certo. Estou muito confiante que dê, mas preciso pensar em tudo. Sei que posso me arrepender porque muita gente me cobrou dizendo que estava fazendo errado, mas sei também que, aos 36 anos, não seria este o contrato que salvaria minha vida. Não é por aí. E tem mais: porque quero deixar todo mundo livre, principalmente o treinador de me colocar se estiver bem e não porque ganho mais ou porque tenho nome. Só vou jogar se estiver bem.
iG: Se fosse o Eurico Miranda, e não o Roberto negociando a sua volta, você teria retornado?Juninho Pernambucano: Eu nunca tive problemas grandes com o Eurico. Batia de frente em algumas vezes por conta de minha personalidade, mas não guardo mágoas de ninguém. Eu voltaria, até por que volto pelo Vasco. É claro que o Roberto foi fundamental e a presença dele ajudou demais, mas digo que voltaria por conta do Vasco, da instituição.
iG: Que tipo de função exatamente você pode exercer dentro de um cargo executivo no Vasco?
Juninho Pernambucano: Não penso muito nisto porque ainda me vejo como jogador e com condição de render, produzir. É claro que você sempre pensa em produzir alguma coisa próxima daquilo que você fez em campo, mas acho que preciso canalizar minhas energias para o campo ainda. Isso de pensar em pós carreira me desgasta muito. Sou jogador ainda!
iG: O que o torcedor pode esperar do Juninho neste retorno?
Juninho Pernambucano: Dedicação e respeito à camisa. Vim para vencer e ajudar o Vasco no Brasileiro, e tenho certeza que, pelo meu nível, ainda posso dar isto.
iG: Fisicamente, você acredita que joga mais quantos anos?
Juninho Pernambucano: Não se pode prever isso. Impossível este prognóstico. Vou me preparar para o contrato que vou cumprir, jogando um grande Brasileiro. Depois o que vai acontecer, eu não sei.
iG: Você vem para matar saudade ou para trabalhar?
Juninho Pernambucano: Do dia a dia. De rever pessoas que trabalhavam comigo na minha época. Eu cheguei novo ao Vasco, terminando minha formação como adolescente. Admiro muito o Vasco porque é um clube que tem potencial de recuperar muita gente, ajudar. Esta é uma vocação do clube. Eu vi muita gente dar a volta por cima com a camisa do Vasco e acho isso muito legal. Quero é entrar logo na minha rotina e acordar, ir para o treino e jogar. Só que sei que a cobrança é tão grande que às vezes você nem aproveita estes momentos, como passei aqui e no Lyon. Quando você quer ver de novo, acabou, passou. Eu penso assim, talvez seja uma maneira de sempre me concentrar nas coisas e não pensar em festas e glamour. É uma característica pessoal minha que me faz pensar assim, sem tempo para tantas saudades.
iG: Você assistiu à final contra o Flamengo? Como se sentiu? Sofreu com o resultado?
Juninho Pernambucano: Não consegui ver pela hora aqui, mas é claro que torci pro Vasco, mas não estou ainda envolvido a este ponto de sofrer. Mas fica-se chateado.
iG: Algum jogo especial você gostaria de reviver?
Juninho Pernambucano: Todos os jogos que joguei pelo Vasco foram especiais. Claro que o do River Plate (semifinal da Libertadores, 1 a 1, gol dele de falta, no Monumental), o jogo contra o Palmeiras na Mercosul (depois de estar perdendo por 3 a 0, o Vasco virou para 4 a 3 dentro do Palestra Itália) marcaram muito. Mas não tenho muito tempo para ficar remoendo o passado!