O articulado Lucas Santos era um jovem de poucas palavras no sábado, quando embarcou para Moscou. Não por má vontade, mas pela imensa mudança que aquela viagem supunha: na conversa de pouco mais de 15 minutos com o GloboEsporte.com, era possível perceber a ansiedade e o peso de se separar pela primeira vez da família.
Lucas Santos com a família antes da viagem para a Rússia — Foto: Felipe Schmidt
Lucas embarcou para a Rússia com apenas duas malas, acompanhado do empresário, Fabiano Farah. Na despedida no aeroporto, estavam seus familiares mais próximos, a namorada e alguns amigos.
A princípio, ele está emprestado pelo Vasco ao CSKA, da Rússia, por apenas três meses. Mas a intenção é ficar. Por isso, todos ali sabiam que a despedida era por um tempo maior. Lucas quer retribuir toda a confiança que o clube russo depositou nele, num interesse que vem desde janeiro.
- Vão ser os três meses da minha vida. Vou buscar me adaptar o mais rápido possível para mostrar meu futebol, para que exerçam a compra. Sei que não vai ser fácil, mas sei que com a ajuda da minha família, do Fabiano, meu empresario, e de Deus, principalmente, vou conseguir esse objetivo - disse Lucas.
Lucas Santos posa com a camisa do CSKA, entre diretor do clube e o empresário Fabiano Farah — Foto: GloboEsporte.com
A mudança também supõe um adeus ao clube em que Lucas esteve nos últimos 15 anos. Hoje com 20, ele chegou ao Vasco com cinco anos. Sempre tratado como joia, não conseguiu dar o último passo e se firmar no profissional.
Nesta entrevista, o meia analisa sua saída do Vasco e projeta o que espera na Rússia. Confira:
GloboEsporte.com: O CSKA mostrou interesse em você desde o início do ano, quase chegou a um acerto. Já pesquisou sobre o clube, está preparado para lidar com o frio?
Lucas Santos: Quando se fala em Rússia, já se pensa no frio. Não vejo isso como dificuldade. Lógico que tenho que me adaptar. Creio que vou me adaptar rápido, tenho essa facilidade. Vou conseguir fazer meu futebol e dar seguimento a meu objetivo lá.
A gente já conhece do futebol europeu, já vi na Champions League, na Liga Europa. Quando vem um clube desse tamanho, a gente fica feliz. O interesse deles foi muito grande, isso me deixou feliz. Independente de tudo que aconteceu, continuaram acreditando em mim. Esperando responder isso da melhor forma.
O futebol russo tem tido casos de racismo, particularmente com a torcida do Zenit. O que acha disso?
- Estou preparado para lidar com isso. Já aconteceram algumas situações no Brasil. Entendendo a gente fica mais chateado. Lá não vou entender muito. Creio que vou conseguir tirar de letra. Sei que lá é um país um pouco atrasado em relação a isso, mas vou buscar blindar meus ouvidos e fazer meu futebol, que não vai ter por que eles ficarem nessa. Creio que vai dar tudo certo. Estou bem maduro para lidar com isso.
Você sempre foi tratado como promessa no Vasco. Por que acha que não conseguiu ter sequência no profissional?
- Pela situação que o Vasco estava passando, a torcida exige muito desempenho rápido. Creio que faltou eu amadurecer mais rápido. Eu recebi dicas de jogadores mais experientes, e a gente fica meio receoso de tentar algumas coisas por estar no profissional Eles me disseram que independente de onde estiver, tinha que fazer o que faço no sub-20.
Isso eu fui botando na minha mente, desci para o sub-20, voltei a fazer o que fazia. Depois de um tempo voltei para o jogo contra o Goiás, mas já entrei no segundo tempo, com o time precisando segurar o resultado. Agora tenho que mostrar isso mais lá fora. Acho que foi esse futebol que seduziu eles. Tenho que mostrar minhas características para que possa me manter lá.
Você estava no sub-20 e de repente teve uma chance contra o Goiás. Essa oscilação prejudicou?
- A gente ficava nessa oscilação. Tinha saído de um jogo, no dia seguinte, normalmente regenerativo, fui chamado para treinar lá. Já viajei, entrei no jogo. Não esperava. Mas estava ciente de que poderia acontecer. Tem que estar preparado em todos os momentos. Eu creio que pude ajudar naquele jogo.
Com que sentimento você deixa o Vasco após 15 anos no clube?
- Eu não me arrependo de nada do que passei aqui. Pelo contrário, sou muito grato. Não consegui o que queria, que era dar seguimento, fazer história no profissional do Vasco, mas acho que tem coisas que vêm para o nosso bem.
Saindo, posso buscar mais experiência, melhorar meu estilo de jogo, amadurecer certos pontos que creio que vão ser bons para a minha evolução. Com certeza tenho o desejo de voltar e mostrar o que sempre mostrei. Tenho coração vascaíno e vontade de jogar no Vasco.
Você, a princípio, vai para ficar mais três meses. Mas tem o objetivo de permanecer. Encara essa viagem como sem volta?
Estou encarando assim. Esse é meu objetivo: ir e ficar. Não quero só três meses. Concluindo meu objetivo, meu pensamento, creio que vai ser difícil a volta. Mas nada é impossível, porque tenho carinho enorme pelo Vasco.