Os primeiros passos de Fernando e Carlos Alberto no futebol foram dados na Rua Imbariê, em Realengo. E foi na Zona Oeste do Rio de Janeiro que os dois meninos da família Gomes de Jesus participaram das primeiras peladas até chegar ao Fluminense, em 1999. Agora, em 2010, o caçula, de 23 anos, defende o Flamengo. Já o mais velho, com 25, é o capitão do Vasco desde a temporada passada. Por uma obra do destino, neste domingo, às 19h30m (horário de Brasília), no Maracanã, no clássico entre os rivais, a mãe dos jogadores, Mária de Fátima, não vai precisar se dividir entre o Rubro-Negro e o Gigante da Colina.
Tudo por conta do estiramento grau um que Fernando sofreu durante a partida contra o Caracas, na última quarta-feira, na Venezuela, pela Libertadores. Vetado da partida, o jogador vai acompanhar o clássico ao lado da mãe nas cadeiras especiais do Maracanã. Porém, mesmo sem o caçula e apenas com Carlos Alberto em campo, Fátima prefere ficar em cima do muro.
- Se eu tivesse dois corações, eu daria um para cada filho. Mas como só tenho um, divido entre o Carlos Alberto e o Fernando - afirmou Fátima.
Na conversa, a mãe dos jogadores ainda relembrou das dificuldades que ela e seu Carlos Alberto passaram para manter os irmãos treinando nas categorias de base do Fluminense. No fim, o esforço valeu a pena.
- Eu e o pai sempre incentivamos o sonho deles, procuramos levá-los aos treinos, mesmo com muita dificuldade. Quando morávamos em Xerém, minha casa vivia abarrotada de amigos que jogavam com eles. Os dois sempre levaram a profissão muito a sério. Hoje, nós vemos que todo aquele sonho está se tornando realidade - contou a matriarca da família.
E o curioso é que ao longo das carreiras dos irmãos, a família só viveu em uma oportunidade o confronto entre os dois. No dia 30 de julho de 2008, o Botafogo de Carlos Alberto venceu o Goiás de Fernando por 2 a 0, com dois gols do volante Túlio. A partida era válida pelo Campeonato Brasileiro, e o irmão mais velho não deu colher de chá para o mais novo. Mostrando conhecimento de causa, Fátima analisou o desempenho dos \"meninos\".
Em Goiânia, Fernando visitou Carlos Alberto durante um treino em 2009 - Amo muito meus filhos e fico muito orgulhosa e feliz pelo sucesso deles. O Fernando está conquistando seu espaço no Flamengo, e o Carlinhos tornou-se um jogador importante para o Vasco. O sonho deles era vencer no futebol desde pequenos e fico emocionada em ver que estão conseguindo se sair bem - revelou.
Carlos Alberto e Fernando jamais atuaram juntos. Nem nos tempos em que defenderam o Fluminense. Os dois também jogaram no São Paulo, mas em períodos diferentes. Enquanto o atual camisa 19 do Vasco esteve no Tricolor paulista em 2008. O caçula passou pelo Morumbi em 2007, logo após deixar a equipe das Laranjeiras. Apesar da rivalidade na atual temporada, o capitão do Gigante da Colina fala do relacionamento entre os dois fora da quatro linhas.
- Sempre brincamos e conversamos muito. Pensávamos como seria quando os dois chegassem juntos ao profissional. Em meio a mais de mil garotos, nós dois vencemos e estamos aqui. Eu me sinto um vencedor, como ele também deve se sentir - afirmou o jogador do Vasco.
Campeão da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes pelo Porto, em 2004, e do Brasileirão com o Corinthians, em 2005, Carlos Alberto se tornou mais famoso do que o irmão mais novo, que também passou pelo Goiás. O capitão vascaíno revelou que, em determinados momentos da carreira, Fernando, que é volante de origem, foi cobrado a fazer as mesmas jogadas que ele costumava executar atuando como meia ofensivo.
- Como sou mais velho e passei por mais situações e o Fernando costuma me ouvir muito. As pessoas exigiam dele coisas que eu fazia dentro de campo. Ele joga em uma função diferente da minha. Mesmo com todos esses problemas, a família está orgulhosa de ver os dois onde estão - disse Carlos Alberto, admitindo que poderia rolar uma aposta na família para o clássico deste domingo.
Na estreia de Fernando com a camisa do Flamengo, Carlos Alberto foi ao hotel-concentração do rival com o filho Lucca para desejar sorte ao irmão. A atitude causou um mal estar com o presidente Roberto Dinamite, que repreendeu o capitão. O episódio foi superado, mas para evitar um novo desconforto, o encontro antes do clássico vai ser deixado de lado.
- Prefiro não falar sobre esse assunto - afirmou Carlos Alberto.
No fim da contas, no clássico de domingo, não importa se vai dar Fernando, Carlos Alberto ou empate. Certo mesmo é qualquer que seja o resultado, a família Gomes de Jesus vai abraçar os seus filhos mais ilustres no apagar das luzes do Maracanã.