A morte do garoto Wendel Junior Venâncio da Silva, de 14 anos, em um centro de treinamento do Vasco da Gama vai obrigar o clube a esclarecer na Justiça suspeitas de irregularidades em suas categorias de base. Promotores do Rio de Janeiro estão finalizando uma ação civil pública contra o Vasco. Até o final do mês, ela deve ser levada aos tribunais.
Essa ação é o resultado de meses de investigação da Promotoria da Infância e da Juventude e da Procuradoria do Trabalho. Os dois órgãos analisam desde 2010 o tratamento dado as crianças e adolescentes que fazem parte dos times de base do Vasco. Chegaram a negociar acordos para melhorias nesse tratamento com o clube. Porém, desistiram de qualquer negociação depois que Wendel morreu enquanto treinava em uma escolinha do Vasco em Itaguaí, na região metropolitana do Rio.
A promotora Clisanger Ferreira Gonçalves é responsável pela apuração de casos de violação dos direitos da criança no Rio e deve assinar a ação contra o Vasco. Ela explicou que, desde que começou a investigar irregularidades na base do clube, visitou o alojamento do Vasco em São Januário e acompanhou a rotina de atividades dos garotos que treinam no clube carioca.
Nessas visitas, ela encontrou jovens em alojamentos precários, que quase não têm contato com sua família e que têm problemas para frequentar a escola devido a alta carga de treinos. Há garotos que quase não encontram com sua família e que não conseguem acompanhar a escola, disse ela.
Danielle Cramer, procuradora do Trabalho, ratificou o tratamento dado aos garotos e constatou também irregularidades trabalhistas. Os meninos não têm contrato de trabalho, nem de aprendiz, afirmou ela. Também têm que aguentar uma carga excessiva de treinamento para a idade deles.
Já Clisanger disse que todas essas irregularidades foram apresentadas ao Vasco em diversas reuniões durante o processo de investigação no clube. Ela afirmou que a diretoria do Vasco parecia comprometida em resolver os problemas existentes. A morte do garoto Wendel, entretanto, mudou os rumos da negociação.
Nós [as promotoras] não tínhamos sido informadas pelo Vasco que o clube mantinha um centro de treinamento em Itaguaí, explicou ela. Estavámos em uma negociação, mas o clube omitiu essa informação, que era importante. Tínhamos que ter visitado aquele CT também.
A omissão, segundo Clisanger, rompeu a confiança para qualquer tratativa com o clube. Por isso e, tendo em vista a gravidade da situação a que estão expostos os jovens jogadores do Vasco, as promotoras decidiram entrar na Justiça para que o clube responda pelas irregularidades.
De acordo com as promotoras, detalhes formais da ação ainda estão sendo finalizados. Não se sabe se cada promotoria abrirá um processo contra o clube ou se ambas assinaram uma só ação, por exemplo. Fato é que o processo será aberto e o clube será acionado pela Justiça. Se condenado, o clube pode ter de pagar multa pelas irregularidades. Pode, inclusive, ter seus centros de treinamento fechados.
O Vasco do Gama informou que ainda não foi comunicado sobre a ação. Por isso, o vice-presidente jurídico do clube, Aníbal Rouxinol, disse que prefere ainda se pronunciar sobre o assunto.