EXCLUSIVO: Nélson Rocha fala sobre situação do Vasco, contrato de tv, orçamento, programa de sócios e investimento em esportes amadores! O programa "Só dá Vasco" recebeu na última terça-feira (05/11) o ex-vice-presidente de finanças do Vasco, o senhor Nélson Rocha. Na oportunidade, o ex-dirigente cruzmaltino discorreu sobre os seguintes temas:
>> Destaque inicial
"É um prazer estar aqui. É um prazer falar para vascaíno. É um programa para vascaíno e foi feito para vascaíno que gosta de acompanhar o time".
>> Cotas de TV
"Na realidade o contrato permanece da mesma forma. O Vasco é momento algum deixou de fazer parte desse primeiro grupo, que consta dois clubes do Rio e três clubes de São Paulo. A questão do PPV já existia antes. O pagamento é em função da quantidade de assinantes que cada clube tem. Eles fazem essa medida a partir da pesquisa feita pelo Data Folha e Ibope. A diferença do Vasco para os outros é muito grande. Naquela altura eu cheguei a falar que o pessoal da TV que seria ideal fazer um recadastramento. Seria um critério mais justo e mais objetivo. Eles alegaram que tinha muita gente, mas que precisavam fazer isso. Eles sempre se pautavam nesse assunto. Quem decide a compra do PPV não é quem paga. Às vezes o filho torce para o clube e o pai torce para outro. Eu disse para eles que a pesquisa está sujeita ao mesmo tipo de erro. Quem atende o telefone da pesquisa pode não ser o que fez a assinatura e pode torcer para outro time".
"Eles fazem efetivamente por amostragem. São poucas, como uma pesquisa eleitoral. Eles ligam e checam isso. Não sei como está agora essa situação do PPV. Não sei se eles perguntam hoje ou não. Quando você tem um grande número de operadoras, a dificuldade aumenta"
"A diferença é maior em relação aos outros rivais. O Flamengo e o Corinthians recebem cerca de 15%. Eu não sou favorável essa discussão de ganhar igual. Tem que ser proporcional o que cada um possui de assinatura. É importante que os vascaínos assinem para que o Vasco receba recursos. Isso sem impedir a ida aos estádios. Eu tenho PPV, mas gosto de ver os jogos no estádio. A não ser que seja quando o Vasco joga fora".
>> Sobre ser considerado o 'Tricampeão' das contas reprovadas:
"Esses são os idiotas de plantão. Eles estão sempre ali. Eles estão do lado de lá, do lado das pessoas que prejudicaram o clube. Quem combate isso não pode passar imune a esse tipo de discussão. Estou habituado a isso, mas isso me irrita. As pessoas não possuem conhecimento e ficam comentando. A liderança do dragão da maldade é muito ruim. Essas pessoas possuem uma dependência psicológica. Freud talvez explique o caso dessas pessoas. Quando não se tem argumentos para discutir, se ataca o outro. Em 2009 o que houve foi uma contestação de dois conselheiros. Uma das propostas do Vira Vasco é que a eleição de conselheiros se dê diretamente, o que não ocorreu em 2009 e em 2010. Os bobalhões que governaram, sobretudo o grande bobão, tem que botar o rabo entre as pernas e dar conta do que foi descoberto na CPI do futebol".
"Do ponto de vista técnico não vou discutir, até porque não tem discussão. Não é só covardia. Eu acho que as pessoas possuem uma visão sobre como as coisas ocorrem. Elas acham que as coisas ocorrem de forma imediata. Você pense que desliga um interruptor e liga outro. Uma empresa, um clube, tem uma cultura e necessita de um tempo para algo ser mudado. O clube precisa se oxigenar. Ele foi envelhecido. O Vasco era aquela coisa envelhecida, mofada e onde a gente não detectasse modernidade. Os funcionários estavam desmotivados e sem capacidade para criar algo novo. O clube ficou muito envelhecido. Hoje o clube é infinitamente melhor do que era. Ainda precisa de muita coisa, assim como a maioria dos clubes brasileiros. A maioria deles enfrentam dificuldades para se modernizar. Essa é uma prática geral no futebol. É claro que decepciona, mas o que aconteceu foi mais ou menos isso. Você acaba se tornando amigo da pessoa, até porque ela lutou com você. Eu não queria ter essas pessoas no lado oposto politicamente. Hoje eles fazem parte de outras frentes políticas. É um assunto que passou. Eu sou uma pessoa que não guardo ressentimento. Atravessar as dificuldades que a vida te coloca é muito complicado. Tudo que conquistei foi na base do trabalho e da luta. Essa pessoa que me refiro contribuiu muito para o Vasco e para sua redemocratização".
"Essa é uma questão técnica. Quando você vota as contas, você não vota as contas de um presidente, mas as contas do clube. Isso por si suscitava um questionamento sobre gestão temerária, que ao meu ver aconteceu. Alguém que deixa de registrar 272 milhões de dívidas no balanço da gestão está cometendo no mínimo um erro. Agora se coloca como um grande administrador. Essa pessoa não tem capacidade nem de dirigir a padaria do pai. Tudo isso causa uma certa vontade...Isso não se impedia de abrir um processo em separado para avaliar a possibilidade de gestão temerária no clube. Inclusive tenho um documento assinado pelo presidente cobrando o reembolso de uma campanha de chapa do ex-presidente. Infelizmente não demos consequência a isso. Isso foi muito ruim. Não foi nada demais, mas sim por conta de uma comissão técnica. Esse desvio que ocorreu deveria ter sido apurado. Cobramos ao departamento jurídico uma posição nos órgãos competentes, mas infelizmente não foi feito".
"Quando você é eleito, você recebe o poder para decidir em nome dos sócios. Pode ser até que a maioria não concorde, mas você tem que tomar a decisão. Outra coisa é você assumir uma dívida da Penalty ou uma dívida do Edmundo. O clube não tem que pagar conta pessoal".
"Em 2011 o clube já tinha melhorado bastante em termos de receita. O resultado foi ótimo. O clube foi considerado a gestão mais eficiente dentre os clubes. O Conselho Fiscal encontrou alguns erros, o que estava correto. Ocorreu devido alguns erros da empresa, que não recebeu alguns documentos. Esse erro tinha que ser corrigido. O montante não era suficiente para que se fosse dado um parecer contrário. A prova é que o Conselho Fiscal aprovou na sequência. A contabilidade não tinha nada comigo. Ela tinha autonomia. Não é vice-presidente de finanças que fica cuidando disso. Você confia que os números estejam certo. Cheguei a conversar com o Conselho Fiscal e eles me disseram que a culpa não era minha. Eles diziam que foi um ato de reprovação a gestão do Roberto Dinamite. Eu discordava deles, porém foi uma opinião deles. Discordo do ponto de vista técnico, mas entendi aquela reprovação como uma forma de dizer ao presidente que eles não estavam de acordo com o que vinha acontecendo. As contas foram aprovadas. Que está na política precisa estar preparado para enfrentar esse tipo de situação".
"Era para ter tido uma provação com ressalva. Cerca de 100 mil documentos são contabilizados pelo clube num ano. Isso causa alguns erros. Não era nada relevante. Não era para a conta de 2011 ter sido reprovada. Acho que dentro desse contexto outros assuntos que não eram só relativos as contas. Qual o único instrumento que o Conselho Fiscal tem para forçar a gestão a tomar outro rumo? As contas. A questão era irrelevante".
>> Importância do orçamento
"O orçamento não é uma peça de ficção. Ele é a grande bussola. O clube muitas vezes está defasado por falta de documentos. Por mais que tenham entrado pessoas novas, muitas pessoas adotam práticas antigas. Teve uma semana que passei dentro do clube pegando documento para ensinar as pessoas. Não podia pagar uma coisa pelo gato da pessoa não ter o recibo. Isso obviamente provocou alguns problemas no clube. A contabilidade às vezes não está em dia no clube. Isso só se agravou desde que sai. Quando não tem contabilidade em dia, você cria uma distância, até porque você precisa pagar as contas. Na totalidade das empresas que eu fui diretor financeira, a gente tinha o balancete no dia 05 do mês seguinte. Ele servia para medir os gastos e planejar um corte de gastos. Ajuda a definir onde pode e onde não pode ser investido. O clube a dificuldade de fazer isso. A projeção feita no orçamento é muito próximo de que acontece. Em 2011 e em 2012 foi muito próximo da realidade. Antes da gestão atual não existia orçamento. Aí sim podemos chamar de peça de ficção".
>> Liberdade para os esportes amadores possuírem um patrocínio próprio
"É muito difícil, muito difícil. Sempre que discuto o contrato de alguém me coloco no lugar da outra pessoa para saber onde posso ir. É muito difícil a empresa pagar por um patrocínio e não ter exclusividade. É muito difícil você ter uma fornecedora no futebol e outra no remo. O clube pode explorar muito mais o recebimento de verba se tiver um único patrocinador. Pouco se está disposto a pagar por aquele esporte. A Eletrobrás amarrou no contrato a visibilidade no uniforme de outros esportes. O que posso te dizer é que existe no contrato da Penalty uma determinação que diz que ela precisa fazer as camisas casuais do Vasco. Eu acho que se tem que trabalhar melhor e definir quais são os esportes ideais para o clube. Isso tem pouco a ver a empresa de fornecedor do material esportivo. Alguns esportes já possuem capacidade de auto-sustentabilidade. Cito aqui o vôlei e o basquete".
>> TV Vasco no PFC
"O problema não é você ter a transmissão. Você precisa ter público que assista. Se você não tem público, você não atrai patrocinador. Acho que alguns países fizeram essa abordagem. Acho que deve se utilizar mais a TV Vasco. Tem que passar mais, porém isso não resolve o problema. Cheguei a ir ao Benfica conhecê-la. Naquela altura eles estavam no último ano da TV pública e pagavam para ter um espaço. Acho que o futebol brasileiro vai ajudar no crescimento da receita de TV. Vai ajudar no modelo de um novo comando da TV".
>> Programa de Sócios
"No início não foi ruim. Teve uma explosão, mas depois caiu. Os sócios aproximam o torcedor de um clube. É muito mais do que uma relação de receber recursos. O Vasco pouco dá em troca hoje. Os clubes acabaram com a vida social. Hoje as pessoas possuem em sua residência e em seus condomínios tudo que necessitam aproveitar. O clube antigamente recebia famílias. O que é mais importante que a questão financeira é você criar uma relação de cumplicidade entre o sócio torcedor e o clube. Isso criará mais fidelização dos torcedores. O programa criado pelo Fábio Fernandes era fantástico. Pena que perdemos ele na continuidade da administração do clube. O clube que possui mais sócios consolida sua marca. O clube precisa de lojas em todos os lugares e várias ações de marketing. Você ter uma pessoa associada a marca do clube é muito ruim. Existiram uma série de erros nessa questão do programa de sócios, o principal deles foi tratar o sócio apenas como pagador. Hoje passamos por uma grave crise institucional da marca Vasco da Gama. Falta uma política de marketing estruturada. É muito ruim o que está acontecendo. O clube vem perdendo a imagem de clube vencedor. Não existem mais ações de marketing que busquem trazer novos vascaínos. Se a gente não fizer isso, a torcida do Vasco vai envelhecer e vamos perder torcida ao longo tempo. Temos que ter um trabalho voltado para o público mais jovem".
"Queria fazer uma cobrança: Foram captados recursos para serem colocados num projeto na sede da Lagoa. Foram captados recursos da Nestlé e da Gatorade e até agora não aconteceu absolutamente nada na sede. Onde estão esses recursos? Por qual motivo nada foi instalado? Foram arrecadados um milhão e 300 mil. Essa cobrança que faço é para a Jeff Sports e para o clube".
>> Saída do Vasco em 2012 ao lado de José Hamilton Mandarino e pagamento ao fundo de investimento
"Havia um contrato de empréstimo com as pessoas que ajudaram o clube. Toda vez que o clube se recorreu a grande vascaíno sempre foi amarrado a algum atleta e com remuneração. Um clube do tamanho do Vasco não pode viver de 'vaquinha'. O clube hoje precisa ter volume de recurso para viver. O clube quando vendesse um atleta, tinha que pagar uma parte para investidor. Se o cara emprestou, ele tem o direito de receber. Isso é importante para você ter credibilidade e poder contar com essa ajuda no futuro. Eu ainda hoje sou avalista do empréstimo do clube. Eu fiz recentemente um 'vaquinha' para ajudar o Vasco. Eu só fiz isso se não o clube ia ter um problema grande na justiça. As pessoas querem atrelar a saída dos jogadores a nossa saída. Tem gente que fala demais sem conhecimento de causa".
>> Viabilidade do Vasco
"O clube tem um problema grave que vem de longo prazo. Só vamos solucionar isso a longo prazo. Avançamos muito quando negociamos algumas dívidas. Antes não era a receita que fazia bloqueio, eram todos os outros credores. A receita fez um acordo e pelo que tomei conhecimento ele é péssimo. Ele mira só o curto prazo. O longo prazo não. Esse é o problema de não se ter comando vascaíno lá em cima. Por conta disso teremos alguns problemas ao longo do tempo. É possível, o clube é viável, mas vamos sofrer durante muito tempo. Como você sobrevive? Tendo criatividade para gerar novas receitas e sorte de formar um bom elenco".
>> Reforma do Estatuto
"Eu queria aproveitar a oportunidade para dizer que as propostas do Vira Vasco está no Facebook (https://www.facebook.com/viravasco). Esse estatuto já havia sido discutido em outras épocas. Eu acho que o estatuto tem avanços e tem retrocessos. Tem um problema grave de retrocesso em alguns casos. O conselho deliberativo deveria adiar para que a gente pudesse discutir num momento que não tenha discussão eleitoral".