A crise política do Vasco teve mais um capítulo. Com a viagem de Alexandre Campello à Rússia, situação e oposição divergiram no entendimento de quem deve ser o presidente interino do clube enquanto o mandatário não retornar - ele fica na sede da Copa até o dia 17 de julho e não cogita voltar antes disso.
No centro de tudo, está novamente o estatuto do Vasco, que permite diferentes interpretações. Assim, tanto situação quanto oposição se baseiam em diversos artigos para legitimar seu posicionamento.
O que diz Campello?
Em nota oficial, o presidente afirmou estar ainda no pleno exercício de suas funções, em viagem institucional representando o clube. Ou seja, não está licenciado do cargo - a comparação é com viagens pela Libertadores, por exemplo, em que seguiu exercendo sua função normalmente. Com base nisso, se considera apto a indicar seu representante no Brasil - no caso, João Marcos Amorim, VP de Finanças.
O amparo legal de Campello está no segundo parágrafo do artigo 99:
Compete ao Presidente da diretoria administrativa representar o clube na sua vida social e jurídica e construir em seu nome, procuradores ou mandatários em juízo ou fora dele.
O que diz a oposição?
Para o presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, Campello se licenciou do cargo à medida em que viajou para a Rússia. Por isso, naturalmente seu substituto interino seria o primeiro vice-presidente geral, Elói Ferreira. Legalmente, duas passagens do estatuto amparam a interpretação de Monteiro.
O terceiro parágrafo do artigo 45 diz:
Compete à Presidência da Diretoria Administrativa licenciar os membros desta, e ao Presidente do Conselho Deliberativo, "ad-referendum" do mesmo Conselho, licenciar o Presidente da Diretoria Administrativa e os membros dos outros Poderes, convocando os seus substitutos legais.
O primeiro parágrafo do artigo 100 diz:
Ao 1º e 2º Vice-presidentes eleitos compete substituir hierarquicamente o Presidente do Club nos seus impedimentos, assumindo todas as atribuições do mesmo, na forma do Estatuto.
Por conta disso, Elói foi à sala da presidência na tarde de terça-feira, mas a encontrou trancada. Houve confusão, e a segurança do clube, ameaçada de demissão em caso de resistência, chamou a polícia.
Guerra política pode travar o clube
A indefinição sobre o caso pode representar maiores danos ao Vasco. Por exemplo, em caso de registro de contrato na CBF, é preciso que o presidente do clube assine - ou quem estiver legalmente em seu lugar, o que suscita controvérsias. A diretoria negocia a renovação de Ríos e também acertou novo vínculo com Yago Pikachu, por exemplo.
O racha entre Campello e Monteiro pode se estender. Eventualmente, caso precise buscar um empréstimo bancário, o mandatário precisará da assinatura do presidente do Conselho Deliberativo, um cenário improvável no momento.