Horas antes do começo do jogo entre Vasco e Grêmio, nesta quarta-feira, em São Januário. As sociais são o lugar das últimas articulações entre situação e oposição. Nesta quinta-feira, o Conselho Deliberativo do clube se reúne para votar as contas do primeiro ano de gestão de Alexandre Campello. O risco de o presidente ter os números reprovados é real.
No restaurante onde o bolinho de bacalhau é o petisco mais vendido, os grupos reforçaram as últimas alianças. No lado da gestão, a confiança é de que o apoio do núcleo do Conselho de Beneméritos, presidido por Silvio Godói, e mais as dissidências da Sempre Vasco possam ser suficientes para garantir a vitória.
- Não recebemos nada e vamos para a reunião sem ter noção dos números. Mas acho que não há um risco de reprovação, nosso grupo pensa que reprovar as contas é prejudicial ao Vasco. Eurico (Miranda, ex-presidente, falecido em março) pensava assim. O Vasco sempre chega a um acordo - afirmou Godói.
Os contatos têm sido constantes. O argumento da diretoria é de que a reprovação das contas poderia trazer prejuízos ao clube. Existe a possibilidade de a diretoria conseguir pagar mais uma folha de salários atrasados nesta sexta-feira, o que pode causar boa impressão nos conselheiros para a reunião.
- Uma reprovação de contas agora implicará num grande retrocesso na reconstrução da imagem do clube perante fornecedores, credores e patrocinadores. Todo trabalho que está sendo feito para resgatar a credibilidade que o Vasco vem perdendo no mercado, há pelo menos duas décadas, será afetado, gerando ainda mais dificuldades na obtenção de recursos para honrar compromissos com funcionários, fornecedores e acordos judiciais - afirmou Carlos Leão, presidente da Cruzada Vascaína e apoiador da gestão.
Para alguns dissidentes da Sempre Vasco, a aproximação do grupo de Julio Brant do presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro, é motivo suficiente para votarem de forma contrária. A sintonia entre eles tem sido recorrente nas últimas pautas do clube. Um grupo que veio fragmentado em votações passadas, o que favoreceu Campello, foi o Casaca. Porém, existe a expectativa de que os apoiadores de Eurico Miranda tenham o mesmo voto a favor da reprovação das contas. Caso isso aconteça, será difícil para a situação impedir a derrota.
- Honestamente não tenho uma leitura clara de como vai ser a votação. Fato é que a recomendação do Conselho Fiscal por maioria é muito bem fundamentada. Vamos aguardar a posição do Conselho Deliberativo, que com certeza adotará as melhores medidas para o Vasco - afirmou Roberto Monteiro.
E qual é a possível consequência de uma reprovação das contas? O principal alvo da oposição neste caso deverá ser Campello. A reprovação serve para que se tente novamente afastá-lo da presidência, possibilidade que já nasce com chances remotas de ir à frente — diferentemente da votação das contas, que precisa de maioria simples, a votação para tirar o dirigente precisa de maioria qualificada (três quartos dos votos do conselho).
Existe também a possibilidade de Alexandre Campello ser alvo de uma tentativa de responsabilizá-lo diretamente pela reprovação das contas. Não existe a risco de o Vasco ser retirado do Profut, programa de refinanciamento das dívidas dos clubes por causa de uma reprovação, mas a imagem do Cruz-Maltino pode ficar arranhada.
- Acho que vão fazer de tudo para ferrar o Campello. Ele é muito odiado. Ainda tem alguns votos a favor por conta da rivalidade entre os grupos e de alguns beneméritos. Mas no fundo ninguém vota por ele - disse Eurico Brandão, filho do ex-presidente Eurico Miranda.