Vinicius Faustini
O início de 2011 do Vasco segue marcado pelo contraste. O mesmo time que amargou quatro derrotas em sequência na Taça Guanabara (três delas inéditas em confrontos contra times de menor expressão no Rio de Janeiro) saiu quarta-feira do Estádio Morenão, em Campo Grande, com sua terceira vitória consecutiva todas com diferença superior a três gols. E no 6 a 1 sobre o Comercial do Mato Grosso do Sul, a equipe treinada por Ricardo Gomes apresentou disposição, força, segurança e, principalmente, não se limitou a se apegar à tradição do seu nome para se impor ao rival.
Aliado a esta mudança psicológica entre os jogadores, o Vasco também teve a seu favor um contraste em relação ao adversário: o ritmo. Enquanto os vascaínos vinham da disputa de todo um primeiro turno do Campeonato Carioca, o Comercial fazia apenas sua primeira partida oficial no ano, pois o Campeonato Estadual começa apenas em 12 de março. Desde 5 de junho de 2010, quando sagrou-se campeão do Mato Grosso do Sul, o Colorado não disputava um jogo oficial sua motivação vinha das quatro vitórias nos quatro amistosos realizados em 2011. Com maior fôlego e superioridade técnica, o Vasco foi desenhando sua goleada a partir dos dois minutos quando Éder Luís foi derrubado com falta e, na cobrança, Fellipe Bastos chutou no cantinho. Em seguida, vieram dois gols de Marcel (o primeiro, em cobrança de pênalti, num lance difícil e interpretativo se Andrezão teve de fato intenção de derrubar o camisa 9 dentro da área; o segundo, de cabeça, após cruzamento na medida feito Ramón) e, ainda no fim do primeiro tempo, um gol de Jéferson após receber belo passe de Felipe. Na segunda etapa, Éder Luís finalizou com um gol a arrancada que deu ao receber um lançamento na esquerda, e Rômulo desviou para a rede novo cruzamento de Ramón.
Sábio cronista esportivo, Nelson Rodrigues dizia que as goleadas são perigosas. O Vasco não pode correr o risco de achar que os 18 gols marcados nos últimos três jogos sepultaram os problemas apresentados sob o comando de Paulo César Gusmão ainda mais porque os desafios ao novo Vasco acontecerão mesmo durante a Taça Rio quando vai enfrentar Botafogo e Fluminense na primeira fase. O time ainda precisa de um finalizador menos limitado, e também deve evitar o contraste em relação a 2010: a zaga, que no ano passado era arrumada, fez mais uma partida confusa contra o Comercial. Houve alguns erros primários na saída de bola, falhas na hora do combate e, no gol do time do Mato Grosso do Sul, uma grosseira linha de impedimento, que permitiu que Anderson entrasse na área, tentasse um chapéu em Fernando Prass e fosse parado apenas com um pênalti (cobrado pelo próprio Anderson).
De qualquer forma, o 6 a 1 sobre o Comercial traz alguns bons motivos para o torcedor vascaíno comemorar. Aos poucos, Felipe parece assimilar sua condição de líder do grupo. Fellipe Bastos vem surgindo como uma boa opção para o meio-de-campo, e jogadores como Ramón e Jéferson demonstram muita vontade para recuperar a qualidade de seu futebol. Até Éder Luís reencontrou o caminho do gol. Mas a importância desta série de boas vitórias vem justamente através do contraste. Em vez do time medroso, que recuava quando conseguia ficar em vantagem no placar e foi um dos recordistas de empate no Campeonato Brasileiro de 2010, o Vasco voltou a ter vontade de ganhar.