Foi desesperador. Um verdadeiro constrangimento para um time que, mesmo levando 4 a 0 fora de casa, ainda tem a consciência de que perdeu de pouco. Martín Silva evitou uma catástrofe ainda maior. A aventura do Vasco em Avellaneda, diante do Racing, é um capítulo triste para a jornada cruz-maltina na Libertadores e deixa o time com a necessidade de uma retumbante reação nos três jogos restantes do Grupo 5 para alcançar a (agora) improvável classificação às oitavas de final.
O Vasco não só perdeu o segundo jogo em três partidas pela fase de grupos, mas sofreu um atropelamento que serve de lição, sobretudo quanto ao comportamento defensivo da equipe. O lado esquerdo foi um queijo suíço, cheio de buracos, por meio dos quais o time argentino se deliciou, criando um banquete de chances e gols. Se tinha alguma coisa que o Vasco deveria copiar dos suíços era a capacidade defensiva da seleção do país europeu, e não a metáfora alimentícia.
Foram três os volantes escalados, uma mudança no esquema de Zé Ricardo, mas o Vasco não encontrou uma fórmula eficaz para neutralizar o Racing, que chegou como quis e só não fez mais gols porque Martín Silva mostrou competência nos pênaltis: defendeu duas cobranças de Lisandro López no primeiro tempo. O atacante só não repetiu o feito do compatriota Palermo (que, na Copa América de 1999, perdeu três em um jogo só pela Argentina) porque converteu a terceira penalidade marcada pelo árbitro.
As jogadas dos pênaltis são exemplos para mostrar o quão frágil foi o lado esquerdo vascaíno, já que todos nasceram por aquele setor. Primeiro, Evander tocou Saravia; depois, Erazo derrubou Lautaro Martínez; mo terceiro, Wagner deixou o braço no rosto do mesmo Saravia. O fato de o lateral-direito do Racing ter sido alvo das faltas dentro da área é elucidativo. O avanço dele foi decisivo para desequilibrar numericamente a defesa vascaína, já que Henrique ficou sobrecarregado e não teve a cobertura devida dos volantes e muito menos de Evander, perdido quando tinha que voltar para recompor o sistema defensivo. Também pesou contra o Vasco o desentrosamento do estreante Bruno Silva. Em um jogo robusto de Libertadores, qualquer desequilíbrio é determinante.
Quem viu o Vasco no primeiro tempo não imaginava que o desfecho seria tão tenebroso para o time. O time de Zé Ricardo, apesar de já ter passado pelo susto do primeiro pênalti contra si, conseguia criar chances, levar a bola à frente e achar espaços, mas falhou nas conclusões. Faltava mentes mais criativas e pés mais talentosos que os de Wellington. Erros ofensivos à parte, ainda se via uma consistência no time. E tudo ruiu com o primeiro gol, de Centurión, nascido (advinha?) pelo lado esquerdo do Vasco. Seis minutos depois, mais uma jogada na qual a defesa do Vasco foi envolvida. Conclusão? Gol de Lautaro Martínez.
O segundo tempo veio, e com ele mais dois gols do Racing. A substituição de Rildo por Evander não surtiu efeito. Zé não abandonou os três volantes para a etapa final e pagou o preço. O terceiro gol teve requintes de crueldade, porque Zaracho passou como quis por Paulão e driblou Martín Silva antes de empurrar para as redes. O quarto foi o já citado reencontro entre Lisandro e o goleiro no pênalti.
No estádio El Cilindro, o Vasco foi encaixotado. O próximo jogo é em São Januário, novamente contra o Racing. A lanterna do grupo é a realidade atual. Recompor-se da surra é essencial.
Ao fim do jogo, a nota lamentável: a torcida se manifestou de forma racista, fazendo gestos que imitavam macacos.