Quando o assunto é torcida, tamanho ainda é documento. Flamengo e Corinthians, clubes com o maior número de torcedores do país, têm seus aficcionados como os mais respeitados pelos boleiros nos estádios. Mas os alvinegros levam vantagem no quesito \"jogar junto\". Líder em média de público dos últimos três Campeonatos Brasileiros, a Fiel foi eleita pelo segundo ano consecutivo a torcida que mais faz pressão nos adversários em pesquisa feita pelo GLOBOESPORTE.COM e pela revista Monet com 343 atletas de 23 clubes das Séries A e B do Brasileirão. E a vantagem sobre os concorrentes foi ainda maior este ano.
A torcida do Corinthians é destacada por 53,9% dos entrevistados, equivalente a 185 jogadores - 43 a mais do que no ano passado. O Flamengo novamente ficou em segundo lugar, agora com apenas 10,5%, ao receber 36 votos - seis a menos do que na temporada passada. Atlético-MG e Grêmio dividem o terceiro lugar, com 15 votos (4,4%). A dupla é seguida por Atlético-PR (nove votos, 2,6%), Palmeiras (sete votos, 2%), Bahia e Santos (seis votos, 1,7%), São Paulo (cinco votos, 1,5%), Ponte Preta e Sport (três votos, 0,9%), além de Internacional, Vasco, Náutico e São Caetano (dois votos, 0,6%). Ao todo, 26 clubes foram citados na pesquisa, sendo 25 brasileiros e um argentino: o Boca Juniors. Trinta e quatro atletas, 9,9% dos participantes, não responderam a essa pergunta do questionário.
Revelado pelo Flamengo e com três passagens pelo Corinthians, Marcelinho Carioca viveu 14 anos nos dois clubes no total e conquistou títulos importantes por ambas equipes, como o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e os estaduais do Rio de Janeiro e de São Paulo. O ex-meia concorda com a opinião geral dos jogadores ao apontar as duas maiores torcidas do país como as que têm mais força. Porém, na visão do craque, a Fiel leva vantagem num quesito determinante: a paciência.
- Quando a torcida (do Corinthians) vê que o time está mal em campo, aí que ela grita mais ainda. Às vezes, se o jogador está cansado ou não teve sequência, ele sabe que vai ter que correr muito mais. Jogador que veste essa camisa sempre vai entrar em campo a 200km/h. E o torcedor, vendo essa postura, vai em cima mesmo. O próprio atleta vê que a equipe adversária fica temerosa, começa a errar passes, a não arriscar jogadas... É algo inacreditável, nunca vi isso em time nenhum do Brasil. A torcida do Flamengo está junto, tem muita força, mas é menos paciente - constatou.
O Flamengo é o recordista em média de público ao levar mais torcedores aos estádios em 13 das 42 edições do Campeonato Brasileiro. Mas o Corinthians já ameaça os números rubro-negros. Com o melhor público dos últimos três anos, a Fiel soma a maior média de dez campeonatos nacionais ao todo. No clube desde 2011, o lateral-esquerdo Fábio Santos vê o apoio como um elemento determinante para o sucesso do time. E destaca a reação dos alvinegros em momentos negativos - caso de um gol sofrido.
- Acredito que o mais marcante e o que mais me chamou atenção é o momento em que tomamos gol. Os torcedores gritam e incentivam ainda mais o time. Isso dá muita força aos jogadores. Sempre foi complicado enfrentar o Corinthians. Mas acredito que atualmente eles (torcedores) estão ainda mais participativos. É só ver a média de público da gente em todos os campeonatos. Sempre é a maior ou uma das maiores. Dificilmente jogamos para menos de 25 mil torcedores, o que no Brasil é excelente.
Mudança de perfil
Duas eliminações, dois finais distintos. Nas oitavas de final da Libertadores de 2006, ao cair para o River Plate, da Argentina, torcedores se revoltaram, invadiram o campo e entraram em confronto com a polícia. Sete anos depois, na mesma fase do torneio sul-americano, o time foi eliminado pelo também argentino Boca Juniors, mas saiu de campo aplaudido e ovacionado pelos alvinegros, que pareciam comemorar a classificação no Pacaembu (veja no vídeo ao lado). O episódio é usado como exemplo por jogadores e treinador para comprovar a forte ligação entre o time e a Fiel.
- O carinho, o incentivo que o torcedor corintiano dá aos atletas durante o jogo todo é emocionante para nós e pressiona os adversários. E quando o reconhecimento vem pelo desempenho, como por exemplo no jogo contra o Boca Juniors, independentemente do resultado, é algo extraordinário. Talvez revolucionário e exemplar - exaltou o técnico Tite.
Marcelinho Carioca não vê diferença no incentivo dos corintianos atualmente em comparação com 1993, ano em que foi contratado pela primeira vez pelo clube paulista. Mas o ex-jogador percebe uma mudança de comportamento e cita uma história de 1994 como exemplo.
- Lembro que em 1994 os caras invadiram o hotel na hora do almoço. Estavam sentados na mesa o Luisinho, o Boiadeiro, o Paulo Roberto e o Branco. A torcida estava livrando só a cabeça do Branco. Falou que se não ganhássemos, os outros três poderiam voltar para casa. Agora o comportamento melhorou. Invasão não tem mais.
Torcidas de Coritiba, Goiás e Vitória fora; Sport despenca
Dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, três não foram lembrados na pesquisa: o Coritiba e os recém-promovidos à Primeira Divisão Goiás e Vitória. O trio se junta a Santa Cruz, CRB, Brasiliense, Desportiva-ES, Cuiabá-MT, Parnahyba-PI, Potiguar de Mossoró-RN e Cene-MS como os campeões regionais do país este ano que não receberam votos. Os estaduais do Acre, Amazonas, Maranhão, Paraíba, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins ainda estão em andamento.
Já a lista dos citados inclui torcidas de oito equipes da Série B. Além de Palmeiras, que figurou entre os mais votados, a relação tem Avaí, Ceará, Guaratinguetá, Paraná, Paysandu, São Caetano e Sport. O Rubro-Negro pernambucano, por sua vez, teve uma queda vertiginosa se comparado à pesquisa do ano passado. Na Série A em 2012, o clube foi o terceiro mais lembrado pelos boleiros, com 6% dos votos.