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Presidente Campello prever prejuízo com perda de sócios torcedores

Convidado a assistir apresentação chamada "Impacto do futebol brasileiro", no fim de 2019, o secretário de Indústria, Comércio e Inovação do Ministério da Economia, Caio Megale, observava com ponta de otimismo.

- O estudo mostra que mesmo na pior crise econômica da história o futebol é um setor que segue em crescimento – dizia o representante do ministro Paulo Guedes na sede da CBF.

Um mês depois da paralisação do futebol - a CBF suspendeu competições no dia 15 de março, mas a maioria das federações ainda levou mais um ou dois dias para paralisarem por completo as atividades -, o cenário é nebuloso e passa longe do desafio de triplicar a fatia do futebol no PIB brasileiro (0,72% em 2018 para já inalcançáveis 2,1% neste ano), como queria o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

O dirigente da CBF repetiu as melhores expectativas numa reunião com 20 representantes da Série A, no Conselho Técnico. Era dia 27 de fevereiro. Treze dias depois a Organização Mundial de Saúde classificava o coronavírus como pandemia. E tudo mudou.

O rombo já é significativo nas finanças de clubes - dos grandes ricos aos em eterna crise e também nos médios e pequenos do país. Uma indústria que gerou 156 mil empregos diretos em 2018, de acordo com estudo da Ernst Young, agora analisa próximos passos em quadro para lá de preocupante.

Economista calcula perda de R$ 420 milhões só em bilheteria

A queda na geração de empregos já é um fato, como em todos segmentos da economia no país. Sem público nos estádios - isto, claro, para quando os jogos voltarem, seja em junho ou julho (maio é considerado praticamente descartado) -, a previsão é de perda de cerca de 70 mil de postos de trabalho somente por não haver operação de jogos (chamada de "matchday"). Essas operações de jogos em estádios de todo país significam 55% dos empregos gerados no futebol.

- Quando a gente fala do impacto econômico disso é também o entorno do estádio, os bares, ambulantes, logística, parte logística, hotelaria. Uma série de coisas - comenta Pedro Daniel, diretor da Ernst Young.

- Acho que é muito mais do que a metade (a perda de empregos). A maior parte das pessoas que trabalha no jogo são do matchday. Imagina um jogo no Maracanã, por exemplo, que mais de duas mil pessoas trabalhar. E vamos dizer que o Flamengo vai jogar na Gávea, vai ter 50, 100 pessoas. A diferença é muito grande - acrescenta Alexandre Rangel, sócio da mesma consultora.

O economista Cesar Grafietti, do Itaú BBA, que estuda finanças de clubes brasileiros, contabiliza perdas que podem chegar a R$ 645 milhões em estimativas de perda de bilheteria e também de sócio torcedor. O cálculo é baseado na média dos últimos quatro anos que indica R$ 900 milhões de receitas totais no futebol brasileiro entre bilheteria direta (50%) e sócio torcedor (50%).

- Ou seja, de presença em campo estamos falando de cerca de R$ 450 milhões anuais. Até a paralisação da temporada a estimativa é de que o futebol tenha feito algo como R$ 30 milhões de bilheteria e cerca de R$ 110 milhões de sócio torcedor. Sem público até o final do ano, falamos em perda direta de bilheteria da ordem de R$ 420 milhões, pelo menos. No sócio torcedor é possível que haja muitas baixas, mas fins de exercício digamos que haja 50% de desistências. Ou seja, R$ 225 milhões. Estamos falando então numa perda da ordem de R$ 645 milhões apenas em receitas de bilheteria e sócio torcedor no Brasil todo. Para os clubes da Série A podemos considerar 85% desses valores, ou seja perto de R$ 550 milhões - disse Grafietti.

Envolvidos num protocolo médico para retorno ainda sem data ao futebol, os clubes do Rio ainda fazem contas do prejuízo. Até o poderoso Flamengo sente os efeitos, com atraso de repasse de R$ 8 milhões de fornecedora de material esportivo que o acompanha desde 2012. O Azeite Royal rescindiu contrato de patrocínio com o clube, no valor de R$ 3 milhões anuais - a marca saiu das camisas de Fluminense, Botafogo e Vasco também.

No pior quadro, Vasco prevê menos R$ 20 milhões com sócios

Por enquanto, o Rubro-Negro ainda não acertou redução salarial. No balanço de 2019, divulgado em março, a diretoria analisava ser possível absorver os impactos financeiros por até três meses. Até o momento, mantém os salários dos jogadores de maneira integral e ainda não fez mudanças no orçamento.

Com sérias dificuldades de caixa com ou sem pandemia, Flu, Botafogo e Vasco respiraram com alongamento de alguns acordos e parcelamento de dívidas e suspensão de pagamentos de tributos junto aos governos estaduais e federais. Por enquanto só o Tricolor chegou a acordo de redução salarial. O Fluminense, que nem votou orçamento para 2020 - estava marcado para 27 de março, mas foi adiado -, vai rever as contas.

Ao jornal "Valor Econômico", o presidente do Fluminense, Mario Bittencourt, disse que já há cálculos de perdas de até 25% de receitas, num orçamento inicialmente previsto para chegar máximo de R$ 230 milhões. No Alvinegro, o orçamento aprovado - de receitas de R$ 229,3 - terá que ser revisado.

- Não houve e certamente não haverá demissões até 30 de abril. Depois desta data, teremos que aguardar se permanecerá o isolamento social - afirmaram à reportagem do GloboEsporte.com os dirigentes do clube, que admitiram rever receitas e despesas operacionais.

O Vasco teme a fuga de sócios, três meses depois do movimento que o tornou líder em associados no país (mais de 180 mil) no fim do ano passado. Também ao "Valor", o presidente Alexandre Campello, que projetava R$ 320 milhões de receitas em 2020, calculou em R$ 20 milhões o prejuízo que pode ter se perder associações - de um total previsto na temporada de R$ 60 milhões. Ou seja, um terço da arrecadação com sócio torcedor.

- Alguns clubes estão fazendo promoções para os torcedores seguirem pagando o sócio torcedor, para ganharem em milhagem, poderem trocar por produtos em lojas. Muitos clubes também estão lembrando a situação e pedem sensibilidade para torcedores num período de pouquíssimas receitas. Mas é óbvio que vai cair.Assim como outras receitas, como pay per view, vendas de jogadores - lembra Gustavo Hazan, gerente da EY.

Volta Redonda: "Com as perdas previstas, demissões podem ser inevitáveis"

- Estou preocupadíssimo. Minha insônia hoje é voltada para isso. Entendo e compreendo a situação dos meus funcionários, aquelas pessoas que precisam do salário.

O desabafo acima é do presidente do Madureira, Elias Duba, em contato com a reportagem do GloboEsporte.com, que ouviu os clubes da Série A do Carioca. O dirigente do tradicional clube do subúrbio do Rio de Janeiro contou ter perdido todos patrocinadores, dispensou 20 jogadores com contratos no fim e o técnico Toninho Andrade.

Depois de pagar o mês de março para atletas e funcionários, o Madureira se prepara para cortar salários, diminuir orçamento e vai buscar auxílio do Governo Federal como complemento dos vencimentos mensais.

Se o Flamengo sentiu efeito de patrocinador, não seria diferente no Volta Redonda. O clube informou que "alguns patrocinadores já comunicaram das dificuldades de cumprir seus compromissos".

- Até o momento não demitimos, mas com as perdas previstas isso pode ser inevitável. Temos conversado com atletas e funcionários, entendendo as particularidades de cada um para tentarmos ajudar também dentro da nossa possibilidade. Mas se o cenário se confirmar com perdas de patrocínios e jogos totalmente sem receitas, talvez seja inevitável - contou o presidente do Volta Redonda, Flavio Horta.

O Bangu já reduziu os salários da comissão técnica no mês de março, mas pagou integralmente salários na carteira e também quitou os salários dos funcionários da administração.

- Não perdemos patrocinadores. Nossos parceiros apenas pediram suspensão dos pagamentos até a situação se normalizar e compreendemos perfeitamente - contou Jorge Varela, presidente do Bangu.

O clube da zona oeste estuda alternativas para conseguir recursos e também esmiuça as medidas provisórias do governo "para observar onde nos enquadramos e estamos analisando linhas de créditos em bancos para pagar funcionários e evitar demissões".

Fonte: ge
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