Após o vexame do último domingo que tornou ainda mais vergonhosa a participação do Vasco na Série B 2021, o comando do futebol vai mudar para a próxima temporada. Não está definido se o executivo Alexandre Pássaro, atualmente sob forte pressão pelos maus resultados e depois de uma coletiva que pegou mal internamente, sairá ou não. Certo é que o departamento será reestruturado, e essa mudança é discutida em diferentes cenários.
Na noite desta terça-feira, o clube se manifestou que nenhum de seus dirigentes concederá entrevistas até a última rodada da Série B. O frequente silêncio, aliás, é algo que rende críticas recorrentes ao presidente Jorge Salgado.
Pressão forte pela saída de Pássaro
No mesmo informe, o clube destacou que já planeja a temporada 2022. Há uma tendência muito forte por mudanças na estrutura do departamento de futebol. Apesar do apoio de Jorge Salgado, Alexandre Pássaro dificilmente terá carta branca novamente para centralizar as principais decisões. Ou seja, se ficar, provavelmente não liderará o carro-chefe do Vasco.
A cúpula vascaína avalia a chegada de um vice-presidente de futebol e de um coordenador técnico, com experiência no meio. A dúvida é quanto à permanência de Pássaro, muito bem avaliado pela modernização no departamento, mas pressionado pelos resultados ruins na temporada. Ele tem contrato até dezembro de 2022.
Discurso em coletiva e referência a outros rebaixamentos do Vasco pegam mal
Não apenas os vexatórios resultados esportivos ou a equivocada montagem de elenco que colocaram o trabalho de Pássaro em xeque. A entrevista após a derrota para o Botafogo irritou dirigentes e apoiadores de Salgado. A repercussão negativa não se deu apenas internamente, mas também com a torcida nas redes sociais.
Figuras de peso classificaram como inadmissível o diretor de futebol ter citado repetidamente os quatro rebaixamentos que o Vasco teve em sua história. Incomodou também o fato de ter lembrado que, ao lado de Fernando Diniz, conduziu o São Paulo à liderança da Série A 2020 com larga vantagem sobre o segundo colocado. No final das contas, porém, quando o executivo já estava em São Januário, o campeão brasileiro foi o Flamengo.
Embora tenha citado erros, Pássaro não se desculpou, disse ter dado o melhor de si e insistiu que não faria nada diferente, o que incomodou extremamente pessoas influentes no clube e inflou as redes sociais.
- Houve muitos erros, assim como acertos também. Isso é uma coisa clara e que, naturalmente quando se analisa a montagem do elenco, tem que falar nomes. Mas aqui eu não vou expor absolutamente ninguém. Eu não sei ser diferente, é o que eu acredito. O trabalho que eu fiz aqui esse ano é o mesmo de um ano atrás quando o São Paulo, onde eu estava, liderava o campeonato com 10 pontos à frente e estava na semifinal da Copa do Brasil. É o mesmo trabalho que liderou o Brasileiro em 2018.
- Esse trabalho é o que eu sei fazer, é o que me trouxe até aqui. Caso eu entenda, daqui até o dia 31 de dezembro, que essa minha forma de trabalhar é uma parte do problema do Vasco e não da solução, o problema está solucionado. Eu sei errar e aprender. Hoje com esse fracasso do Vasco de não conseguir subir para a Primeira Divisão, eu sou um profissional muito melhor do que era um ano atrás. Tenho a tranquilidade e a certeza de que a gente vai andar para a frente.
Apreço de Salgado e elogios por organização do departamento
Pássaro, no entanto, goza de prestígio interno, especialmente pela reestruturação do futebol. O departamento era considerado desorganizado, informal e sem processos antes da chegada dele. A habilidade nas negociações de rescisões contratuais após o rebaixamento também é elogiada.
Jorge Salgado não se cansa de elogiar Pássaro publicamente e internamente. Até por isso a continuidade no clube em 2022 não está descartada. É unanimidade, no entanto, que a atual estrutura fracassou e precisa ser remodelada. A chegada de um VP e de um coordenador que cuide do campo e bola para a pasta são as principais discussões de momento. Resta saber se Pássaro toparia continuar em meio a mudanças e a eventuais perdas de poder e no aspecto financeiro. No domingo, ele contestou a cobrança por mudança no organograma do departamento de futebol.
- Se pegar janeiro, fevereiro, o que se falava era da necessidade de profissionalização do clube. Agora em novembro, se volta ao assunto (chegada de um VP)... Quer dizer que, nas outras vezes que o Vasco caiu, as pessoas que comandavam não eram vascaínas? Não conheciam o Vasco de cabo a rabo? – questionou Alexandre Pássaro.
No último dia 3, embora não tenha feito elogio nominal, Jorge Salgado apontou evolução na condução do carro-chefe do clube.
- Quando olha para a tabela, se analisa que o futebol foi mal e a administração se perdeu. Agora, olhando o dia a dia tivemos avanços consideráveis no departamento de futebol. O Vasco não pontuou como a gente imaginava, isso acontece no futebol - afirmou Salgado, em coletiva concedida no último 3 para tratar de acordo com a PGFN.
Admiração à parte, Salgado sabe que seguirá muito pressionado para substituir ou pelo menos realocar Pássaro dentro do clube. Não subir não é o único problema, pesa também o fato de o time nunca ter entrado no G-4 e ter suas chances de acesso reduzidas a zero, de acordo com os matemáticos, a quatro rodadas do fim. O quinto lugar no Carioca também dá peso maior ao vergonhoso ano de 2021.
Silêncio que volta a gerar protestos
Depois da goleada sofrida por 4 a 0 para o Botafogo no domingo, o ge tentou contato com os comandantes do Vasco, a começar pelo seu presidente, Jorge Salgado. Depois de quase 48 horas, o clube, via assessoria, comunicou que nenhum dos dirigentes falará oficialmente até o dia 28 de novembro, data que marca o fim da Série B 2021.
Tal postura gerou protestos nas redes sociais, geralmente direcionados a Jorge Salgado, que costuma se manifestar via Twitter mais frequentemente após vitórias ou quando tem o clube toma alguma atitude de maior relevância. Desde que assumiu, as aparições de Salgado foram raríssimas, dando-se somente em coletivas da diretoria administrativa.
A aversão a entrevistas faz de Salgado vidraça, e seus pares têm o entendimento de que tal postura é negativa. Embora reconheçam a discrição como uma característica do presidente, acreditam que mais aparições seriam necessárias mesmo quando há a possibilidade de um escorregão, como aconteceu no último dia 3, em coletiva realizada para tratar do acordo com a PGFN.
Na ocasião, antes das derrotas para Guarani e Botafogo, mesmo sem jogar a toalha, Salgado naturalizou a possível permanência na Série B com as seguintes palavras: "Se não for agora, vai ser no ano que vem".
Em silêncio, estratégia adotada nos principais momentos de crise em 2021 - e que notadamente deu muito errado -, o Vasco começa a planejar a Série B 2022. O futebol terá mudanças significativas, novas figuras, e uma barca sairá de São Januário. Isso, porém, o vascaíno só ouvirá de seus líderes no fim de novembro.