O lateral-esquerdo Neto Borges, de 23 anos e natural da Saubara-BA, está próximo de ser oficializado como quinto reforço vascaíno para a disputa do Brasileiro. Chegou ao Rio na sexta-feira, fez exames e passará por outros antes de assinar com o Vasco, o que deve ocorrer entre segunda e terça.
Ao se deparar com algumas características físicas, o torcedor vascaíno pode intuir: com 1,84m e 84kg, Neto só pode ser um lateral defensivo. Certo? Errado. O ge conversou com três profissionais que acompanharam de perto a trajetória relâmpago que levou o atleta do Sergipe à Suécia em pouco menos de um ano: Júlio Rondinelli, Junior Chávare e Waguinho Dias. Todos o receberam no Tubarão-SC, em 2017. E o trio concorda que a principal correção no futebol do atleta foi atuando na linha de trás.
Confira abaixo rápidos passos dados por Neto do Sergipe à Suécia em 2017:
A chegada de Borges ao Tubarão: uma camisa de manga longa apenas e salário paupérrimo
Gerente de futebol que recebeu Neto Borges no Tubarão-SC, Júlio Rondinelli conheceu o atleta em fevereiro de 2017, quando ainda defendia o Boca Júnior, de Sergipe. Júlio estava sem clube e viajou para Aracaju, capital sergipana, para observar jogadores.
Em maio, Rondinelli chegou ao Tubarão e poucos meses depois, ao saber que Neto Borges estava livre no mercado após se desvincular do também sergipano Itabaiana, o contratou.
- Chegou em Santa Catarina com uma camisa de manga comprida fina. Era mais quente que ele tinha e inicialmente estranhou muito o frio. Compramos algumas roupas para ele e algumas coisas que pudesse mantê-lo aquecido porque o inverno era rigoroso. O contratamos para ser o segundo lateral-esquerdo. Veio receber salário irrisório, um pouquinho acima do salário mínimo. E você via muita vontade e muito profissionalismo no atleta - relembra Julio, hoje gerente da Penapolense-SP.
Confira abaixo Neto falando das próprias características em sua apresentação:
Correção defensiva feita pelo técnico Waguinho Dias
Julio cita que ainda no Sergipe saltaram aos seus olhos a técnica, a condução de bola colada ao pé esquerdo e os bons cruzamentos de Neto. As dificuldades defensivas, porém, também foram observadas. Aí entra a figura de Waguinho Dias, treinador do Tubarão à época.
Com as informações a respeito da deficiência, Waguinho apostou na contratação em função da qualidade ofensiva e do biotipo de Neto, forte fisicamente. Evitou bater papo com o atleta sobre eventuais acertos antes de vê-lo em ação. Após os primeiros treinos, o problema foi confirmado, e ambos se dedicaram a acertar isso.
- Ficava totalmente perdido e mais corria atrás dos atacantes do que ficava bem posicionado. As bolas defensivas e a cobertura atrás ele não sabia fazer. Logo nos primeiros treinos aconteceu de levar bolas nas costas, não fazia a cobertura. Faziam tabelas muito fáceis em cima dele. E aí comecei a orientá-lo sobre espaço, situação de tempo de bola e de entendimento junto com o atacante que o ataca pelo lado dele e com o zagueiro para quem faria a cobertura - explica Waguinho, hoje também na Penapolense.
Com muita repetição e treinamentos extras realizados a pedido do próprio Neto e estimulados por Waguinho, a evolução se deu rapidamente.
- Falei que primeiramente ele teria que entender e depois treinar. Ele fazia isso. Terminava o treino, nós posicionávamos alguns atletas, enfiávamos bolas, fazíamos viradas de jogo para que ele cobrisse. Fazíamos sempre uma linha de quatro, e ele fazia a cobertura. Terminava o treino, ele pedia para que ficasse jogando bolas para ele tirar de cabeça, fazer antecipação e a cobertura dos zagueiros. Sempre cobrindo e cabeceando.
Com os acertos defensivos associados à boa condição ofensiva, Neto se tornou referência dentro do plantel de Waguinho Dias.
- Ele tem estatura, força e velocidade. Conseguiu corrigir os erros atrás. Na frente já tinha as condições e habilidades necessárias. Então ganhamos um cara que sabia defender e marcar, porque é forte e rápido, e que chegava com velocidade e força na frente. Além disso, os cruzamentos dele eram bons. Terminava o treino sempre aperfeiçoando atrás.
O tal jogo-treino: "Em 15 minutos, os suecos não olhavam mais nada"
Contratado pelo grupo de investimento que colocava dinheiro no Tubarão para fazer a gestão do clube, Junior Chávare, hoje coordenador das divisões de base do Atlético-MG, foi outro a destacar o quão Waguinho foi importante para Neto Borges.
- Tinha uma estatura muito importante, características ofensivas muito interessantes, mas um pouco de dificuldade na linha defensiva, o que foi brilhantemente trabalhado pelo Waguinho Dias. Isso nos chamou atenção. Em 30 a 45 dias depois da chegada dele, havia uma evolução nítida na questão da compreensão tática - recorda Chávare.
Tão rápido quanto o crescimento de Neto foi o tempo necessário para encantar suecos do Hammarby. Empresário que à época representava o clube europeu no Brasil, Rogério Braun levou os gringos a Tubarão para acompanhar todo o plantel da equipe, que fazia um bom papel em âmbito local.
- Nesse jogo-treino ele foi absurdamente feliz. Conseguiu fazer uma das melhores apresentações dele com a camisa do Tubarão. Ele tinha um nível de participação muito elevado, mas nesse jogo ele foi brilhante. Durante o jogo-treino, com 15 ou 20 minutos de jogo-treino, eles não olhavam para mais nada. Só olhavam para o Borges (risos) - diverte-se Chávare.
Campeão da Copa Santa Catarina, Borges foi vendido em 21 dezembro de 2017, em operação feita em parceria entre seu antigo representante (Marcelo Bonfim) e Braun, que hoje é um de seus dois empresários.
Pronto para defender o Vasco, opinam Waguinho e Chávare
Waguinho Dias acredita que, após as passagens pelo Hammarby e Genk-BEL, atual detentor de seus direitos e clube que o emprestará Neto Borges ao Vasco, o lateral-esquerdo volta amadurecido e em condições de fazer sucesso na Colina.
- Com dois anos de Europa, deve ter aprendido muito mais ainda na parte tática, a se organizar. Acho que está pronto para estar no Vasco, na Série A do Brasileiro - atestou Waguinho.
Chávare faz coro a Waguinho e aposta que, com o passar do tempo, Neto Borges se transformará em peça importante dentro do Vasco.
- Ele tinha um futebol "in natura". Os últimos dois terços do campo ele dominava perfeitamente. Chegou, se adaptou bem à equipe, tomou conta da posição. Acredito que tem muita chance de se firmar no Vasco. É questão de adaptação, de um pouco de paciência com ele na América do Sul e em especial no Brasil. Mas acredito que o Vasco está fazendo uma grande contratação - concluiu.