Tratado como uma das maiores joias do Fluminense, o jovem Douglas teve uma atuação decisiva na vitória por 1 a 0 no clássico com o Botafogo pelo Campeonato Brasileiro, neste domingo. Ele entrou no lugar do volante Pierre, que saiu contundido pouco antes do intervalo, e deu passe para Fred marcar o único gol da partida.
Com apenas 19 anos, o meio-campista já passou por muitas dificuldades antes de se tornar um dos jogadores mais promissores do clube das Laranjeiras. Ele ajudava Augusto, seu pai, no conserto e na instalação de aparelhos de ar-condicionado pelos prédios do Rio de Janeiro.
"Meu pai trabalhava com refrigeração, então eu o ajudava quando precisava. Eu era uma espécie de faz tudo, ele me dava 20 'pratas', que na época era muito dinheiro para mim. Conseguia comprar as coisas de garoto e voltava todo feliz pra casa. Ele é o cara mais 'fera' que conheço, devo tudo ao meu pai", contou o atleta, em entrevista aoESPN.com.br.
Antes de chegar aos profissionais do clube tricolor, o garoto fez testes no Vasco, mas foi dispensado por engano. Após perceber o erro, o técnico o ajudou a permanecer na Colina e Douglas ainda passou pelo Botafogo e Clube da Light antes de chegar à Xerém.
Ano passado foi um dos destaques da conquista do Brasileiro sub-20 e chamou atenção de clubes europeus como PSV Eidhoven, que fez proposta oficial, além de uma sondagem do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.
Com as ótimas atuações na base, subiu para a equipe principal do Fluminense e fez sua estreia justamente no Fla-Flu em pleno Maracanã, no Brasileiro de 2015.
"No final do treino, o professor Enderson Moreira chegou para mim e falou: 'Garoto, você vai entrar de titular no clássico amanhã'. Passou tudo na minha cabeça. Das dificuldades que eu e minha família passamos até aquele momento do jogo. Fui bem no jogo, mas infelizmente saímos com a derrota", relatou.
Neste ano, ele foi campeão da Primeira Liga, já fez 16 partidas pelo time carioca e foi convocado para a seleção brasileira sub-20, que disputou torneio de Suwon, na Coreia do Sul. "Tive a oportunidade de ser o capitão do time e, no último jogo, dar as duas assistências para os gols do Brasil", vibrou.
Abaixo, veja a entrevista com Douglas
ESPN - Como você começou no futebol? Quais foram os primeiros times que você jogou até chegar ao Flu? Fez testes em alguma equipe antes?
Douglas - Comecei na escolinha Meninos da Paz, na Ilha do Governador. Aí me destaquei e pediram pra eu fazer um teste no Vasco. Fomos eu e meu primo. Meu primo ficou e fui dispensado. Aí o treinador viu que estava errado, dispensou o cara errado. Robson, o nome do professor. Esse cara foi muito importante na minha vida, uma bênção, porque ele me deixou no Vasco e de lá a gente foi para o salão do Botafogo, e depois para o Clube da Light, até chegarmos ao Fluminense. Depois disso, ele seguiu para o Avaí e eu continuei no Flu. Devo muito ao professor Robson, porque para onde ele ia, ele me levava, ele apostou no meu potencial. Sou eternamente grato a ele.
ESPN - O que gosta de fazer além de jogar futebol?
Douglas - Sou um cara que gosta de estar perto de pessoas queridas e importantes pra mim. Gosto muito de jogar videogame com meus amigos e sair com minha família no final de semana, ir a shopping, restaurantes. Gosto mesmo de curtir ao lado das pessoas que me fazem bem.
ESPN - Você foi lançado em um Fla-Flu e é apontado como um dos melhores da geração de Xerém. Como ficou sabendo que iria jogar, como foi a partida? Conta alguma curiosidade desse jogo.
Douglas - O time Sub-20 do Fluminense foi disputar um torneio na Alemanha e na Holanda e eu fui eleito o melhor jogador da competição. Depois disso, voltamos para disputar o Campeonato Brasileiro da categoria e eu tava indo bem, o time estava muito bem na competição e eu já treinava também com os profissionais. Pelo profissional, fui para o jogo contra o Paysandu, pela Copa do Brasil, e fiquei no banco. Depois desse jogo, voltei para o Sub-20 para jogar a final contra o Vitória e nos sagramos campeões, e ainda fui eleito o melhor volante da competição. No treinamento seguinte, já com os profissionais, no final do treino, o professor Enderson chegou para mim e falou: 'Garoto, você vai entrar de titular no clássico amanhã'. Passou tudo na minha cabeça. Das dificuldades que eu e minha família passamos até aquele momento do jogo. Fui bem no jogo, mas infelizmente saímos com a derrota.
ESPN - Fale sobre seus objetivos pessoais para este ano. E o Fluminense, como é trabalhar com Levir? Até onde o Flu pode chegar?
Douglas - Esse ano tenho grandes metas para a minha vida. Trabalho sempre para poder ajudar o Fluminense a alcançar as vitórias e os títulos, e acredito que as oportunidades como titular vão surgir com o tempo, pois trabalho forte todos os dias para isso. Acho que o Fluminense pode brigar pelo título nas competições que disputar, pela tradição e o time que temos. Trabalhar com o Levir é muito bom, pois ele é uma pessoa muito sincera e tenho que agradecer a ele pelas oportunidades que ele vem me dando.
ESPN - PSV e Shakhtar e outros clubes demonstraram interesse em você. Como foi isso? Por que resolveu ficar?
Douglas - Essa parte eu não procuro saber e nem me envolver. Deixo para meu empresário e meus pais. Mas no momento a minha cabeça é totalmente voltada para o Fluminense. Estou aqui há muitos anos e meu pensamento é apenas em fazer história no clube, me tornar um ídolo e conquistar coisas grandes com essa camisa. Devo muito ao clube, pois me ajudou a crescer profissionalmente e como homem também.
ESPN - Você sonha em jogar na Europa um dia?
Douglas - Jogar na Europa é o sonho de todo jogador. Real Madrid, Barcelona, Chelsea... São grandes clubes que todo jogador pensa em jogar um dia. Mas hoje eu só tenho cabeça para o Fluminense. É aqui que estou e que quero ficar, ganhando muitos títulos para fazer história.
ESPN - Qual o momento mais complicado que você passou na tua vida ou carreira até aqui?
Douglas - O momento mais difícil foi quando minha família não tinha dinheiro suficiente para que eu fosse aos treinos. Quando dava, meu pai ficava trabalhando e eu e minha mãe, Elenir, pegávamos ônibus para cima e para baixo porque treinava em salão e campo ao mesmo tempo. Chegávamos em casa quase de madrugava, depois de passar por lugares perigosos. Mas todo esse esforço está sendo compensado hoje em dia.
ESPN - Você é tido como um volante moderno, quem são seu ídolos, em quem você se inspira?
Douglas - Gosto muito do Paulinho, ex-Corinthians. Acho um jogador moderno, que marca muito bem e tem muita qualidade com a bola no pé. O cara mais fera que conheço é meu pai. É ele que sempre está me dando apoio, me aconselhando, me mostrando o caminho certo a seguir. Devo tudo à esse cara.
ESPN - Como foi sua passagem pela seleção brasileira Sub-20?
Douglas - Foi muito gratificante poder representar o Brasil na Coréia. Tive a oportunidade de ser o capitão do time e, no último jogo, dar as duas assistências para os gols do Brasil. Sei que é tudo questão de tempo, por isso vou continuar trabalhando para que as oportunidades voltem a aparecer e que um dia eu chegue à seleção olímpica, depois na principal.