Crédito: Montagem sobre foto de Míriam Jeske
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Marcos Oscar Alves de Oliveira, integrante da Seleção Brasileira de remo, tem uma história bem interessante ligada do Vasco. Ele passou por dois dos principais esportes do clube, senão os principais: o futebol, carro-chefe e principal modalidade vascaína, e o remo, o esporte fundador. No futebol, não teve muito sucesso, participando apenas das categorias de base. Já no remo...
Influenciado por sua irmã, que remava no Vasco, ele passou a praticar o esporte náutico em 2007. E afirma que ficou viciado na modalidade, a ponto de não larlá-la mais. E nela obteve excelentes resultados e, ainda relativamente bem jovem - 25 anos -, pode lograr ainda mais. De preferência no Vasco da Gama, como o próprio faz questão de ressaltar.
Dizendo-se vascaíno até nos outros clubes nos quais remou, ele retorna ao clube para a temporada de 2014, após uma breve saída, com um sonho: ajudar a reerguer o esporte fundador vascaíno, que andou bastante combalido nos últimos anos, sobretudo a partir de 2009 - ano da última grande conquista, quando o Vasco foi campeão Brasileiro. O último Campeonato Estadual que rumou para a Sede Náutica da Lagoa foi em 2008.
Desde que iniciou a prática do remo, no próprio Vasco, ele saiu do clube em duas oportunidades: por cerca de seis meses em 2011, quando foi para o Flamengo; e por todo o ano de 2013, quando rumou para o Botafogo (sendo campeão Estadual e Brasileiro pelo Alvinegro), mas prometendo que cumpriria um ano por lá e voltaria. Além de motivos pessoais, certamente pesou a enorme crise vivida pelo Vasco nesses anos, quando o atraso nos pagamentos chegava a oito meses, o que, obviamente, acarretou a saída de quase todos os atletas de ponta. Só restaram os argentinos Ariel Suarez e Cristian Rosso, que são dois dos melhores remadores do mundo e só vêm ao Rio perto das competições, tendo seus clubes na Argentina. Em 2013, por exemplo, o Vasco disputou a temporada com apenas dois atletas da categoria sênior A. Com a volta de Marcos Oscar, o clube passa a ter três. O que é muito pouco para almejar grandes conquistas.
Em seu currículo, Marcos Oscar (especialista no peso-leve, mas que também rema no aberto, em ambos tanto na palamenta simples quanto na dupla) têm passagens pela Seleção Brasileira (tanto na base quanto no adulto), pela qual disputou várias etapas da Copa do Mundo e outras grandes competições da elite do remo internacional, como o Campeonato Mundial de 2013, em Chungju (Coreia do Sul). Também já disputou a tradicional regata Silver Skiff, disputada em Turim (Itália), onde obteve bom resultado em 2012. Foi campeão Estadual e Brasileiro tanto pelo Botafogo (2013) quanto pelo Vasco (2008 e 2009).
Marcos Oscar tem tudo para viver em 2014 seu melhor ano pela Seleção Brasileira. Após um ano ruim em 2012, quando saiu da lista de convocados, ele veio melhorando gradativamente e já chegou novamente à boa forma, agora mais experiente. Vem treinando pela seleção (no quatro sem timoneiro peso-leve) por cerca de um mês consecutivo, em preparação para os Jogos Sul-Americanos (realizados de 7 a 18 de março no Chile). Entretanto, metade das provas previstas para a competição foi cancelada em virtude de terem menos de cinco barcos inscritos, dentre elas provas olímpicas, como o 4-PL. Barcos e materiais esportivos já haviam sido transportados ao Chile, mas, dos 17 atletas inicialmente convocados pela Confederação Brasileira de Remo (CBR) para os Jogos, apenas nove viajaram e competiram (Fabiana Beltrame conquistou o ouro no single skiff aberto e a prata no single skiff peso-leve). Além do período pela seleção neste princípio de temporada (a primeira competição pelo clube é o Estadual, cuja 1ª regata acontece no dia 30 de março), Marcos Oscar ainda faz questão de separar algumas semanas para treinar com os jovens vascaínos, ainda mais com a importante 1ª regata do Estadual se aproximando.
De qualquer maneira, o grande tempo de treinos (realizados na Lagoa Rodrigo de Freitas, com toda a organização e estrutura concentrada no box da CBR no Estádio de Remo da Lagoa) serviu para os brasileiros aprimorarem ainda mais o desempenho dos barcos. Pela primeira vez, a Seleção foi montada e reunida previamente, no começo do ano, para uma temporada, o que leva a crer que os resultados serão incrementados em relação aos anos anteriores. Embora os Jogos sejam importantes, os principais eventos da temporada internacional são as etapas da Copa do Mundo e o Campeonato Mundial, que se concentrarão de junho a agosto na Europa. Mais para o final do ano, ainda há o Campeonato Sul-Americano, além do Pré-Pan-Americano. Ou seja, um ano recheado para Marcos Oscar e cia.
O Vasco ainda não conseguiu efetuar a transferência do atleta do Botafogo para o Vasco, embora ele já venha treinando pelo Vasco desde o final de 2013. O valor da transferência (estipulado pela Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro - FRERJ) é bastante alto, e o clube ainda não conseguiu angariar recursos para tal: cerca de R$ 20 mil. Como o prazo limite para inscrever um atleta para uma regata do Estadual é até 30 dias antes da realização da mesma, Marcos Oscar já está fora da 1ª regata, onde participaria do dois sem peso-leve. Não há provas para ele na segunda e terceira regatas (a não ser que o Vasco consiga montar um oito com peso-leve para a segunda regata, mas é muito difícil diante da escassez de atletas). Assim, só há provas para que Oscar participe na quarta regata (double skiff peso-leve, four skiff peso-leve e single skiff aberto), apenas em 03 de agosto. Ou seja, há bastante tempo para a transferência ser realizada: até 04 de julho.
Ainda que de maneira incipiente, o Vasco vem dando importantes passos para a reestruturação do seu remo: as novas rampa de treinamentos e sala de musculação (utilizados desde o fim de 2013, embora a inauguração oficial não tenha sido feita pela falta de alguns acabamentos) e, sobretudo, o projeto via Lei de Incentivo ao Esporte no valor de R$ 5,7 milhões que foi aprovado recentemente pelo Ministério dos Esportes. Caso o valor seja captado junto a empresas até o dia 01 de dezembro (prazo para a captação), a renovação de flotilha e compra de materiais como remos e ergômetros será realizada, dando fim ao processo de reestruturação material. O próximo passo para voltar aos grandes resultados seria repatriar os atletas de ponta, o que requer um bom aporte financeiro diante das altas taxas de transferência, uma vez que os remadores de ponta do Brasil estão concentrados no Rio de Janeiro.
Para saber as impressões de Marcos Oscar sobre essa volta ao Vasco, o Blog CRVG - Em Todos os Esportes realizou uma entrevista exclusiva com ele, na Sede Náutica da Lagoa, após um de seus duros e puxados treinamentos rotineiros na vida de um remador. Ele revela o sonho de ajudar a reerguer o remo do Vasco como um dos principais motivos de sua volta e e diz que o remo do Vasco "deveria ser mais visto" pelo clube. Confira a íntegra do bate-papo abaixo!
Conte um pouco sobre a sua história no Vasco.
"Começou com a minha irmã, que remava no Vasco. Na verdade eu sempre fui atleta do Vasco, jogava bola e com 16 anos integrei a equipe de futebol. Minha irmã me apresentou o remo, junto com o Francisco Martins, que era remador daqui também. Me interessei, fiquei curioso e vim para o remo. Nessa vinda eu nunca mais saí, larguei o futebol e parei com tudo. Defendi com honra e bravura o Vasco, e tive alguns títulos pelo clube. Por motivos particulares e outros afins eu preferi ir para o outro clube [Botafogo]. Passei um ano lá, mas após a minha saída do Vasco eu disse que voltaria, iria cumprir um ano e voltaria. E nisso eu estou aqui novamente, para tentar levantar o remo do Vasco."
Comente a queda brusca do remo do Vasco nos últimos anos.
"É indiscutível que a queda é referente às condições do clube, mas, haja vista que já teve um investimento, estamos nos levantando. Tenho certeza de que estamos caminhando para um futuro bem promissor. A fase é de muitos clubes, o Flamengo está na pior, são fases. O remo não é um esporte estável como o futebol. No dia em que encontrarmos essa estabilidade será uma maravilha, um ganho para os atletas."
O que tem a dizer sobre o incremento recente na estrutura vascaína?
"Antes de eu saber da mudança eu já tinha dito que voltaria, mas vendo isso é muito motivador, isso motiva qualquer atleta. E todos os atletas da Lagoa comentam que o Vasco está com uma boa estrutura, falam que está com a melhor estrutura da Lagoa. O espaço de barcos, garagem, não é, o do Flamengo é o melhor, mas a tecnologia de estrutura tenho certeza que é a nossa, disparada. Com isso dá vontade de treinar, é muito motivador."
Conte a sua trajetória na Seleção Brasileira, tanto na base quanto no adulto.
"Eu comecei na seleção em 2009, numa regata universitária. Em 2010, fui para os Mundiais sub-23; em 2011 fui para as Copas do Mundo. Em 2012 me ausentei da seleção por falta de índice, e em 2013 eu voltei, fiquei um ano fora da seleção, e esse ano foi bem duro. O Vasco começou a decair, e eu junto com ele. Parece que eu e o clube estamos ligados, as fases são muito parecidas. O Vasco está caminhando para uma fase boa e, por incrível que pareça, eu estou caminhando para uma fase boa também."
Infelizmente, você, por motivos alheios, não pôde participar dos Jogos Sul-Americanos... Fale sobre o 4 sem peso-leve para os próximos anos, mirando, é claro, os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
"Conseguimos galgar o 4 sem para os Jogos Sul-Americanos, mas, por ventura, não vamos. Mas neste ano tem o Pré-Pan, tem o Mundial, tem a 2ª etapa da Copa do Mundo. E ano que vamos tentar classificar o Brasil num feito histórico, que é no pré-olímpico europeu, no qual o Brasil nunca conseguiu se classificar, sempre bateu na trave. São atletas novos. Acho que esse é o caminho para o remo do Brasil. Acho que iniciamos uma coisa que ninguém nunca conseguiu iniciar, que é começar do zero. Vamos tentar não desmontar esse barco, sempre renovando com peças novas, sempre motivando os atletas que estão dentro dele e os que estão fora, para que o 4 sem seja um instrumento para motivar os atletas. Estando ali no barco, é o barco que vai para as Olimpíadas. Dentro dessa motivação, eu estou no barco e, como todo mundo, tenho medo de perder a minha vaga. Então eu tenho que treinar além, para estar sempre garantindo a minha vaga, e acredito que os meus companheiros pensem da mesma forma."
O que dizer de se preparar por um bom tempo para a competição e ela ser cancelada em cima da hora?
"É desmotivador por um lado, mas motivador por outro. Motivador porque quando eu alinho ao lado dos meus adversários eles não perguntam "você foi para os Jogos? Então vou deixar você ir à minha frente". E desmotivador porque o remo latino é muito fraco. E é uma prova olímpica, acredito que temos muito o que melhorar em relação ao Europeu, mas é uma prova olímpica, não poderia deixar de ter, assim como outras provas olímpicas que também foram cortadas. É difícil até de falar alguma coisa, uma vez que é a primeira vez que eu passo por isso."
E a demora para sua transferência ser efetuada?
"A minha transferência ainda tem que ser feita, ainda não conseguimos. A diretoria, junto com os meus treinadores, estão buscando a possibilidade de eu ser transferido. E acredito que vá acontecer. Para a primeira regata, na qual eu correria o 2 sem aberto com o Rosso, não, mas vamos tentando, vamos batendo e uma hora vamos conseguir."
Como você vê a importância do remo do Vasco para o clube como um todo?
"O remo é o fundador do clube, e eu tenho certeza de que deveria ser mais visto. Se não quiser investir, se não quiser reconhecer... mas vissem mais o remo, que é o fundador do clube, respeitassem mais o remo do Vasco, acredito que estaríamos numa situação bem melhor. Não financeira, mas de respeito, de comunicação com a sede. Acho que o remo é muito pouco lembrado, e eu, por ter experiência em outro clube, eu sei bem como é isso. É bem diferente. O remo vive aqui na Lagoa só, e a sede parece distante."
Deixe uma mensagem final para o vascaíno que estiver lendo esta entrevista.
"A minha proposta para o clube é voltar a ser o que era, voltar a ser campeão, a ser levantar o título brasileiro, eu tenho muito essa vontade. Vontade não falta, nem de mim e nem da equipe. É com esse propósito a minha volta. Nada dura para sempre, essa fase do Vasco de escuridão, de ausência de títulos, vai passar, eu tenho certeza. Tudo vai se encaminhar bem, conquistados alguns títulos de Estreantes no ano passado. Tenho certeza absoluta de que vamos voltar a levantar o caneco."
A palavra do treinador Marcelo Neves
Experiente treinador do remo do Vasco, Marcelo Neves dos Santos, que trabalha nesta função no Vasco desde 1995, comemorou a chegada de Marcos Oscar. Ao Blog CRVG - Em Todos os Esportes, Marcelo fala sobre a dificuldade para realizar a transferência e ressalta que busca um quatro remador sênior A para que o clube possa entrar forte também nos barcos de quatro remadores. Além disso, ele enfatiza que o Vasco só repatriará os atletas de ponta quando realizar sua reestruturação material, que espera-se que seja concretizada através do projeto aprovado via Lei de Incentivo ao Esporte.
- Ele teve um probleminha, de a prova dele nos Jogos Sul-Americanos ter sido cancelada por número insuficiente de barcos participantes. Essa competição é meramente um objetivo intermediário dele neste ano, o objetivo maior é o Mundial e a participação em duas etapas da Copa do Mundo: primeiro Aiguebelete, na França, e depois Lucerna, na Suíça, culminando com o Mundial em Amsterdã, na Holanda. E tem o Campeonato Sul-Americano no final do ano, todos estes objetivos ele vai buscar, além do Brasileiro pelo Vasco, que é no final de setembro. Já começo a pensar seriamente nos barcos de quatro. Precisamos de mais um atleta de nível para compor esse barco de quatro. Estamos à procura dele. Temos um problema sério que é a transferência. A maior parte dos grandes atletas brasileiros está concentrada aqui no Rio de Janeiro, e a transferência de um atleta desses é muito cara, custando em torno de R$ 20 mil. Então precisamos buscar essas condições para que possamos trazer esses atletas. Tem atleta que já está batendo na nossa porta para vir, mas só queremos fazê-lo tendo certeza de que vamos ter condição de repatriá-lo, transferi-lo e dar as condições mínimas para que ele possa trabalhar. Continuamos tentando, estamos cientes de todos os problemas que a diretoria vem enfrentando, estamos torcendo muito para que as coisas se resolvam, estamos trabalhando muito nesse sentido e aguardando. É trabalhar para isso.
Por João Luiz Mota (jlmc1993@gmail.com)
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