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Rodrigo Capelo esclarece pontos da SAF do Vasco

Ninguém diria, três meses atrás, que o futebol do Vasco estaria prestes a ser vendido para um grupo americano. Nem mesmo a diretoria cruz-maltina. Àquela altura, a negociação com a 777 Partners havia acabado de começar. Logo, é natural que todo mundo esteja meio perdido.

A desonestidade intelectual dos líderes políticos vascaínos complica a compreensão. Não bastasse a dificuldade de se tomar uma decisão como essa — vender ou não o clube-empresa —, torcedores são confundidos com números mal explicados ou propositalmente distorcidos.

O Vasco está sendo vendido por muito ou pouco, caro ou barato? Vamos recapitular: os americanos prometem investir R$ 700 milhões em três anos, pagar dívidas acumuladas por décadas, estimadas em outros R$ 700 milhões, e reformar São Januário, parte do projeto que ainda não foi devidamente anunciada. Deixemos o estádio fora, por enquanto.

Caso a venda ocorra, os americanos comprarão o futebol cruz-maltino pelo valor de sua dívida. São R$ 700 milhões por 70% das ações. Esse número também dá a dimensão de quanto vale a outra parte, os 30% que permanecerão com a associação civil: R$ 300 milhões. Portanto, pode-se dizer que o Vasco foi avaliado pelo mercado — por meio da maior oferta — em R$ 1 bilhão.

Do ponto de vista da associação, o negócio não parece nada mau. Ela se livrará de todo o endividamento e ficará com um ativo que, a princípio, está avaliado em R$ 300 milhões. Se o clube-empresa for bem-sucedido nos anos seguintes, o valor desse ativo sobe. Outro percentual poderá ser vendido no futuro para financiar seja lá o que os associados quiserem.

Os R$ 700 milhões em investimentos não entram nesse cálculo. Se você compra um imóvel, o valor a ser investido na reforma dele não é considerado parte da transação entre o antigo dono e o novo. A diferença entre um imóvel qualquer e o Vasco é que, também por causa do lado emocional, quem vende o ativo faz questão de vê-lo receber investimentos no futuro.

Outro motivo para não trocar as bolas está no destino do dinheiro. A dívida do Vasco está sendo equacionada por acordos e levará até dez anos para ser paga. A 777 assume essa responsabilidade, mas não a cumprirá apenas com recursos próprios. Na prática, esse endividamento será quitado com uma mescla entre dinheiro americano e receitas vascaínas.

A partir do momento em que o futebol se tornar competitivo, a arrecadação aumentará, via premiações e engajamento da torcida. Com mais dinheiro a entrar, haverá melhor condição de honrar com as dívidas. No entanto, se as receitas não aumentarem no volume e no tempo necessários, parte dos R$ 700 milhões deverá ser direcionada para despesas e dívidas.

Entender ambos os conceitos — o cálculo do valor do ativo e a lógica comercial por trás de investimentos e dívidas — ajudará o torcedor a não ser manipulado por situação ou oposição.

É verdade que, se a associação tivesse conseguido colocar o Vasco na primeira divisão e fazê-lo disputar títulos, a negociação poderia ser melhor: seja por mais dinheiro, seja por percentual menor. Mas ninguém conseguiu em três décadas. E não dá para dizer que o clube está barato. Uma operação de R$ 1 bilhão e a promessa de ressurreição, dadas as circunstâncias esportivas, financeiras e políticas, podem ser tudo o que o vascaíno precisa para ser feliz de novo.

Fonte: Agência O Globo
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