Em vídeo postado na sua conta do Instagram, Roberto Dinamite anunciou, no último fim de semana, a descoberta de tumores no intestino e o início da luta pela cura. O depoimento do maior ídolo da história do Vasco desencadeou uma série de homenagens de fãs, ex-companheiros e amigos. Faltava a manifestação de um desafeto seu, com relevante trajetória também no clube de São Januário, onde está eternizado por uma estátua: Romário.
- Apesar das nossas diferenças, eu sempre vou querer que ele tenha a maior saúde do mundo. Espero que passe logo por esse momento, que Papai do Céu esteja com ele, e que possa se recuperar dessa doença o mais rapidamente possível - disse Romário, em conversa com esta coluna.
A briga da dupla vem de 2012, inflada por uma série de fatores: da parte de Romário, a rescisão de seu filho, Romarinho, jogador da base do clube que não era aproveitado pelo técnico do time, Sorato - autor do gol do título brasileiro na decisão sobre o São Paulo, em 1989 -, e a cobrança de uma dívida superior a R$ 50 milhões; da parte de Roberto Dinamite, então presidente, a ameaça de retirada da estátua do Baixinho inaugurada em São Januário pelo então presidente Eurico Miranda, em 2007, como homenagem aos seus feitos no Vasco, incluindo o milésimo gol da carreira.
Àquela época, em entrevista a mim concedida para o Jornal Extra, Romário não tirou o pé da dividida:
"O Vasco é muito maior do que essa merda de dívida. Se venderem três, quatro jogadores, me pagam. O Vasco vai quebrar é se o Roberto continuar na administração. Pergunta ao Juninho e ao Felipe se estão satisfeitos! É um merda de presidente. Não quero um real a mais do que me devem", disse o Baixinho, no dia 11 de dezembro de 2012, em pesada entrevista na qual fez a acusação de que Romarinho era vítima de retaliação no Vasco: "Meu filho estava lá desde os 14, 15 anos, vendo os filhos dos outros jogando, alguns sem qualidade. Estavam de sacanagem com ele. Há dois anos, aconteceu o seguinte: Romarinho estava cansado, diminuiu o ritmo, e o preparador físico disse pra ele: "Tá pensando o quê? Só porque você é filho do Romário? Aqui, a gente trata todo mundo igual". Ali, eu vi que havia retaliação", desabafou.
Romarinho foi respirar outros ares, e a estátua de Romário não saiu de São Januário. Já a de Roberto Dinamite entrou tardiamente na pauta vascaína em outubro em 2021, quando por meio de um financiamento coletivo a torcida em pouco mais de cinco horas garantiu o valor de R$ 211.110,08, valor superior à meta estipulada de R$ 190 mil.
Há espaço para esses dois expoentes do futebol, seja no álbum de figurinhas do Vasco, no estádio ou no coração. As boas lembranças da bola estufando a rede e o peito do torcedor são o que de melhor se pode levar da existência de quem passou a vida treinando, suando, honrando a carreira e o dom.
Que a dor de Roberto seja breve e a cura venha com a beleza de uma das imagens mais bonitas que já vi no futebol: uma matada no peito, um lençol, um golaço.