O decreto da Justiça carioca, que estendeu a punição que proíbe a torcida Força Jovem Vasco de comparecer a eventos esportivos, não agradou ao sociólogo e professor Maurício Murad, especialista em violência no futebol. Murad criticou mais uma punição coletiva das autoridades brasileiras, vista como ineficiente pelo sociólogo, além de um processo de desmoralização das instituições pela falta de eficácia das medidas.
A iniciativa de segurar os violentos em delegacias é positiva, mas tem de ser fiscalizada e ajustada, como também explica o sociólogo. Murad também cobra maior rigor da Justiça nos casos em que há prisões de torcedores violentos, além de citar medidas que poderiam realmente mudar o cenário de violência no futebol brasileiro.
Leia o texto do sociólogo:
Eu entendo a medida porque a confusão provocada por estes vândalos é tão grande, que as autoridades ficam em desespero. Mas tem de se ver se é eficaz. A medida acaba sendo inócua, porque não há fiscalização, não há policiamento, o que acaba desmoralizando a própria autoridade pública.
A postura ideal das autoridades seria a articulação das diferentes esferas públicas, envolvendo também federações e clubes, para se criar um verdadeiro plano nacional contra a violência com medidas a curto prazo, que seria a prisão pela Polícia e os processos levados às últimas consequências pela Justiça; medidas de médio prazo: inibir a ação dos violentos fiscalizando as redes sociais e com policiais infiltrados; e as medidas definitivas, de longo prazo, a criação do disque-denúncia para expor os vândalos e campanhas permanentes de reeducação. Sem esta postura, acho impossível colocar a violência no futebol em padrões aceitáveis.
A Polícia tem que prender, e a Justiça tem que continuar a ação levando os processos às últimas consequências. No Rio de Janeiro, temos um exemplo mais eficaz, que foi o Fair Play, no qual realmente se prendeu vândalos dentro da torcida do próprio Vasco. Não se pode varrer todo o coletivo dos estádios pelo erro da minoria. A lei no Brasil é clara, a punição do crime não pode passar do criminoso, portanto, o coletivo não pode ser punido. O foco da ação deve ser nos verdadeiros bandidos e delinquentes que estão infiltrados.
O comparecimento obrigatório é uma boa medida, mas precisa-se ver na prática. É preciso que a aplicação seja acompanhada e fiscalizada. O que não pode é o policial não saber o que fazer com o torcedor que comparecer à delegacia. E mais: nós deveríamos seguir o padrão internacional de presença duas horas antes até duas horas após os jogos, 15 minutos antes e 30 minutos após é pouco, o criminoso ainda poderia se deslocar para possíveis áreas de confronto.