Vinícius Faustini (@v_faustini)
No dia em que estreou novo uniforme, em homenagem aos Camisas Negras que em 1923 formaram o primeiro time campeão carioca a ter negros, mulatos e operários em seu plantel, o Vasco não deixou as palavras Respeito e Igualdade (na altura do peito, abaixo de um desenho de mão aberta) e Democracia e Inclusão restritas à memória de quem ajudou a tornar o futebol brasileiro um esporte sem preconceitos. Diante do Bangu que em 1905 teve em seu elenco o jogador Francisco Carregal, primeiro negro na história do futebol carioca o time de São Januário teve uma atuação extremamente democrática: além de agradar a torcedores de todas as raças, todos os gols da goleada por 4 a 0 foram assinalados por jogadores com características diferentes.
Após passar toda a primeira etapa medindo forças com um Bangu que se lançou à frente (mesmo depois que Raphael foi expulso, o novato técnico Marcão mostrou que estava disposto a quebrar o preconceito de definirem o tradicional alvirrubro como pequeno que tenderia a ficar na retranca), e ver Fernando Prass defender no susto uma boa cobrança de falta de Tiano, o Vasco chegou ao seu primeiro gol com Dedé. O zagueiro, símbolo de raça e superação vascaína, aproveitou passe perfeito de Felipe e, mesmo desajeitado, conseguiu vencer o goleiro Thiago Leal. No segundo tempo, foi a vez de Felipe presentear outro estilo de jogo. O camisa 6 recebeu passe em cobrança de escanteio, driblou um adversário e ajeitou para a chegada de Éder Luís. Com sua típica correria, o atacante bateu rasteiro para o fundo da rede.
O Bangu ainda tentou alguma reação, mas a troca de Tiano por Possato no intervalo (troca que Marcão afirmou que fez para encher o meio, para compensar o fato de a equipe estar com um homem a menos) estraçalhou o poder ofensivo banguense, deixando o time à espera de lampejos de Thiago Galhardo ou a arrancadas de Somália e Pipico. Mas Felipe ainda estava inspirado e disposto a reverenciar outros estilos de jogo do Vasco. Num mesmo lance, o meia aproveitou a velocidade de Bernardo que, num passe, tirou a bola do goleiro e entregou a Alecsandro, homem de área e finalizador, a oportunidade do gol vazio. O camisa 9 marcou pela primeira vez com a camisa cruzmaltina.
Depois de dar o devido destaque a vários estilos do time vascaíno, foi a vez de Felipe sacramentar de vez sua boa partida. Na entrada da área, o jogador recebeu a bola e chutou colocado, sem qualquer chance para Thiago Leal. No dia em que o Vasco reverenciou seu passado com o uniforme dos Camisas Negras, o camisa 6 deu uma lição à democracia do bom futebol. A de que, ao contrário do que dizem muitos saudosistas, ainda há espaço para um meia clássico, habilidoso, capaz de dar organização e sensatez a uma equipe.