Futebol

Vilson relembra início da carreira: "Eu não tinha nada, nem casa eu tinha"

Criticado e vaiado pela torcida sempre que entrava em campo no Brasileirão do ano passado, o zagueiro Vilson deu a volta por cima com a camisa do Vasco e se tornou um dos homens de confiança do técnico Dorival Júnior. Na Série B de 2009, o jogador já fez 24 partidas, obtendo 15 vitórias, sete empates e apenas duas derrotas (aproveitamento de 72,2%). Mas até se tornar titular, a vida do atleta não foi das mais fáceis.

Logo com um ano de vida, com a separação dos pais, Vilson foi obrigado a se mudar do Rio de Janeiro, onde nasceu, para a Paraíba. Após 11 anos em Campina Grande, o garoto retornou à Cidade Maravilhosa para tentar a sorte como jogador de futebol. Aconselhado por amigos a não seguir direto para um clube grande, o zagueiro passou em um teste no Madureira.

- Sempre joguei bola na escola, mas nunca tive uma chance na Paraíba. Minha decidiu retornar ao Rio de Janeiro em 2003 para morar com a minha avó. Fiz um teste no Madureira e acabei ficando - relembrou o jogador, casado com Fabíola e pai de Lucas.

Mas a vida do zagueiro continuou dura. Sem condições de permanecer no Rio de Janeiro, a mãe do jogador, Graciete,retornou à Paraíba e ele foi obrigado a conviver com um outro problema: a solidão.

- Passei a morar na concentração do Madureira. Fiquei lá de 2003 a 2005 antes de ir para o Vasco. Em São Januário, continuei morando na concentração até 2007, quando me tornei profissional. Tinha tios e primos aqui, mas não era a mesma coisa - disse Vilson, que tem contrato com o Vasco até dezembro e os seus direitos presos ao Madureira até junho de 2010.

Titular de Dorival e com apenas dois cartões amarelos em 24 partidas da Série B, Vilson cometeu apenas uma falha na temporada 2009, justamente na derrota por 2 a 0 para o Ceará, em agosto. Em um bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, o zagueiro falou do seu momento com a camisa do Vasco e de toda a perseguição que sofreu antes de se tornar um homem de confiança da comissão técnica

GLOBOESPORTE.COM: Você está vivendo uma ótima fase pelo Vasco. O que mudou na sua carreira quando começou para o atual momento que vive?

VILSON: A confiança do Dorival está sendo fundamental para esse bom momento. E conta muito o lado família também. A cada partida que eu atuo, penso em fazer o melhor para retribuir toda essa confiança.

O que mudou no seu comportamento em relação à família?

Com o nascimento do meu filho, tudo mudou. A gente sempre está pensando no futuro. Você procura dar o máximo para ajudar as pessoas que dependem de você. Penso no meu filho em primeiro lugar. Você sempre quer dar uma garantia aos seus familiares e comigo não é diferente.

O que mudou do Vilson que era titular com Celso Roth, em 2007, para o jogador barrado e vaiado, em 2008, e para o titular, em 2009?

Na época do Celso Roth, eu tinha a mesma confiança que eu tenho hoje com o Dorival. Eu tinha boas atuações e o treinador me dava confiança. É importante para um profissional ter esse reconhecimento. O Roth saiu e as coisas ficaram difíceis. No ano passado, o ano foi complicado por tudo o que aconteceu. A torcida pegou no pé com razão e o time acabou rebaixado. Esse ano, o clube apresentou um projeto novo e tem um elenco que está querendo ganhar. A organização esse ano é grande.

Você ficou chateado com alguma situação que ocorreu no ano passado?

A gente fica chateado porque é xingado nos jogos, nas ruas. É ruim para a cabeça de um jogador. Quando a gente não faz o melhor, os torcedores xingam mesmo. Eu pensava comigo: eu trabalho, faço tudo direito e ainda sou vaiado? Agora, eu estou mostrando que estou no Vasco porque tenho condições. Quero mudar a imagem que ficou de 2008.

Você recebeu apenas dois cartões amarelos em 24 jogos da Série B. A fase é boa mesmo, não?

Estava comentando com os meus companheiros. Eu tinha feito 22 partidas e não tinha levado nenhum amarelo. Coloquei na minha cabeça que estaria sempre bem posicionado para evitar os cartões. Nas duas últimas partidas, contra adversários mais complicados, o São Caetano e o Guarani, eu não consegui deixar de levar os cartões. Acabei chegando atrasado em alguns lances. Mas eu sabia que uma hora eu acabaria levando cartões.

Quem assiste aos jogos de fora percebe uma confiança grande quando você entra em campo. Você acha que esse excesso de confiança pode ser o seu maior inimigo?

Com certeza. A confiança é boa para quem joga do meio para frente. Para quem jogar atrás como último homem, o lance feio tem que acontecer em algumas situações. No jogo contra o Ceará, eu acabei errando e o time levou o gol. Mas erramos no momento em que podíamos errar.

E quem é o seu ídolo na posição?

Gosto do Gamarra e do Mauro Galvão. Acompanhava muito os dois, mas ainda era muito novo para observar o posicionamento dos dois.

Olhando a sua carreira, a posição de titular que você conquistou, você se sente um vencedor na vida?

Eu não tinha nada, nem casa eu tinha. Ter um filho, uma esposa e poder ajudar a sua mãe são coisas muitos boas. Sei que ainda tenho muita a coisa conquistar e alguns sonhos a realizar, como chegar à seleção. Mas com muito dedicação e trabalho, as outras coisas vão acontecendo naturalmente.

Fonte: ge
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