\"Não sou pobre. Não estou passando fome\", faz questão de deixar claro dona Miriam, viúva de Vavá, campeão do mundo em 1958 e 1962.
Ela, assim como Nilton Santos, é uma das que aguardam a resolução da presidente Dilma Rousseff quanto à aposentadoria dos jogadores campeões do mundo. Uma das grandes frustrações de Vavá ele faleceu em 2002 , foi não ter conseguido provar que foi jogador por tempo suficiente para se aposentar.
Ele não conseguiu provar que foi jogador de futebol. Disesseram que os anos em que jogou fora do Brasil não contavam lamenta a viúva, que lembra a epopeia do craque consagrado no Vasco e no Palmeiras pelo reconhecimento.
Fomos a Saquarema. Voltamos domingo porque ele tinha que assinar os papéis da aposentadoria na segunda. Ele acordou passando mal. Ficou aflito, mas estava feliz e disse \"Agora vou receber\". Ele não queria ir para o hospital, mas foi. No sábado, me ligaram pedindo para eu ir lá, ele tinha falecido após duas paradas cardíacas. Alguém da Fugap (Fundação Garantia do Atleta Profissional) garantiu que eu não tinha que me preocupar, que iria receber os R$ 800 mesmo sem ele ter assinado, mas não aconteceu.
Dona Miriam venceu um câncer de intestino, mas teve de vender um dos grandes tesouros de Vavá: a camisa da final de 58.
Estava devendo cerca de R$ 40 mil de um dos imóveis que Vavá deixou de herança. O dinheiro veio daí.
O inusitado é que a viúva ofereceu a camisa à CBF antes de colocar em um leilão em Londres:
Fiquei sabendo que quem arrematou foi a própria CBF, por intermédio do (Carlos Alberto) Parreira.
Revoltada com o não reconhecimento da importância que os campeões de 58 tiveram para o país, dona Miriam critia:
O Brasil tem mal de Alzheimer. É um país sem memória. Os jogadores de 58 e 62 mostraram o Brasil para o mundo. Quando chegar ao céu e encontrar o Vavá falarei para ele: \"Está vendo, você não conseguiu, mas eu consegui por você\".
Dona Miriam com algumas das relíquias de Vavá: camisas de Palmeiras, América-MEX e Vasco
Foto: Rodrigo Stafford